Assisti ao debate entre virtuosos profissionais da área de arquitetura, urbanismo e cultura ocorrido em 28 de março de 2001 na sede do IAB, em São Paulo. Dele participaram também representantes da população carente moradora do centro de São Paulo.
Lamento em constatar ainda um equívoco que ocorre aqui!
Desde a gestão de Luíza Erundina, na cidade de São Paulo, que tive a oportunidade de acompanhar como estagiária na COHAB, a discussão sobre a melhora da qualidade de vida no espaço edificado e as questões sociais ainda não se separaram. O mesmo problema ocorre na discussão sobre a melhora dos espaços e a disponibilidade de recursos, da melhora do espaço edificado e o alojamento da população mais carente, onde quer que esta melhora ocorra!!!!!!
Por que os arquitetos carregam esta culpa social? Porque, numa certa época, acharam que poderiam mudar o mundo com suas belas formas.
Depois de mais de dez anos de experiência de vida e de profissão aprendi que a responsabilidade social do arquiteto não é maior que a responsabilidade social de um médico, um advogado, um psicólogo, um político, um empresário, um comerciante, um educador, um sociólogo, um mestre de obras, um estudante!
Existe ai um problema de cidadania. Ninguém é cidadão numa cidade como São Paulo!Melhorar as condições físicas do centro de São Paulo, ou da periferia, ou dos bairros, é o mínimo de exercício de cidadania, de quem projeta, de quem implementa, de quem constrói, de quem habita.As questões sociais de abrigo, emprego, saúde, transporte, todos sabem, não são resolvidos pela beleza ou limpeza ou funcionalidade. A cidade é fruto da sociedade que a constrói, é um projeto coletivo, é o retrato da sociedade que a constitui!Gostaria, francamente, que os arquitetos discutissem mais arquitetura, urbanismo, ambiente, que é o que devem fazer, e fazer muito bem feito.É esta a responsabilidade social do arquiteto.Não significa que cada cidadão arquiteto não tenha suas posturas ideológicas ou sociais, ou que alguns deles não tenham uma preocupação outra que apenas a arquitetura, o que já seria muito!Mas nada deve ser deixado de se fazer, nem a melhoria do centro, nem a resolução dos problemas ambientais em torno a reservatórios de água – problema de suprema importância em todo o mundo – nem os transportes de massa, nem o abrigo em massa da população trabalhadora ou carente.Mas creio absolutamente desnecessário o mal estar que os arquitetos devem passar por esta culpa histórica!Sua função é de fato realizar espaços bonitos! ele não tem o poder, em seu grafite, de conceber uma sociedade tão bela quanto os espaços que desenha...sobre o autorAssunta Viola, arquiteta, São Paulo.
