Recentemente, a imprensa divulgou: o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro poderá ganhar o seu teatro - auditório, como planejado pelo seu arquiteto, Affonso Eduardo Reidy. Se construído, o novo bloco seguirá os desenhos originais? Conseguirão garantir a qualidade da nova construção? E o tombamento do Parque do Flamengo, onde o museu está localizado? O MAM do Rio precisa de um teatro?
A sede definitiva do museu foi elaborada em 1953, apesar do MAM ter sido fundado em 1949 por um grupo de pessoas da chamada “alta sociedade” carioca, artistas e intelectuais. Sua primeira e provisória sede funcionou no famoso Ministério da Educação e Saúde.
O programa previa um museu, um teatro, uma escola de arte e um restaurante. A falta de dinheiro deixou seqüelas: o bloco contendo a escola e o restaurante foi inaugurado em 1958 e somente em 1968, quatro anos depois do falecimento de Reidy, foi finalizado o bloco de exposições. O bloco teatro nunca saiu do papel. O resultado: um belíssimo e importante prédio modernista, admirado por muitos e perfeitamente inserido no local.
Muitas edificações já receberam acréscimos, anexos, como o Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, em suas devidas proporções. No caso do MAM de Reidy, a questão deve ser cuidadosamente estudada: a nova construção pode desfigurar todo o trabalho já realizado. O bloco exposições provavelmente perderá um pouco de sua importância. A horizontalidade do conjunto poderá ser comprometida. O arquiteto já não está presente para opinar.
Poderão argumentar: muitas obras de Affonso Eduardo Reidy nunca foram totalmente concluídas e muitas estão abandonadas. Então, uma oportunidade única, um momento certo. Mas a garantia de um resultado bom, ninguém poderá assegurar, mesmo seguindo todos os planos de 1953. Outro fato importante: o espírito da época já passou. Não estamos mais construindo o futuro, o Brasil já não é mais moderno, não é o país do futuro.
Uma “pequena” e ambiciosa idéia: a realização da reforma do Conjunto Residencial Pedregulho, em São Cristóvão, Rio de Janeiro, também projeto de Reidy, Seus belos painéis foram restaurados, mas “esqueceram” seus prédios. Uma forma de preservar outra importante obra do período modernista de nossa arquitetura. Ninguém fala muito do estado do conjunto residencial. Talvez por não estar em evidência, tão estrategicamente posicionado. São Cristóvão não é roteiro de muitos turistas ou curiosos.
Pessoalmente, não sou totalmente contra aos acréscimos em edificações. Muitas vezes, são necessários e os resultados são satisfatórios, revitalizando lugares antes esquecidos, quase abandonados, dando nova vida ao local, criando novas oportunidades para muitos, recriando um espaço perdido.
Mas o Museu de Arte Moderna ainda está ativo, “vivo”, muito belo: passou por uma reforma em 1999, está conservado. Vale lembrar: algumas pequenas reformas modificaram profundamente vários edifícios. Uma modificação tão profunda, como a proposta, é um risco talvez ainda não calculado. O museu de Reidy precisa do teatro?
sobre o autor
Gabriela Ribeiro é graduada (1997) pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU – UFRJ).