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my city ISSN 1982-9922

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SANTANNA, José Alex. Trem-bala no Planalto Central. Minha Cidade, São Paulo, ano 04, n. 043.04, Vitruvius, fev. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/04.043/2021>.


Estação para TGV Satolas, França


Shinkansen High Speed, o trem-bala japonês

TGV, o trem-bala francês

Spanish AVE, o trem-bala espanhol

Estação para Deutsch Bahn em Laatzen, Alemanha

Estação Central de Sydney para Speedrail

Estação de Trem do Aeroporto Gardermoen, Noruega

 

Anunciado recentemente pelos governadores do DF e de Goiás, o trem-bala, ligando Brasília a Goiânia, tem despertado a curiosidade de praticamente toda a população da região. Mas, o que é um trem-bala? É o apelido dado, genericamente, a composições ferroviárias modernas de alto desempenho e que podem atingir velocidades significativamente maiores que os automóveis.

Entretanto, a velocidade possível do veículo não depende somente dele. Como o automóvel necessita da rodovia para desenvolver velocidades adequadas às viagens, os trens necessitam das ferrovias. E não uma qualquer. Para poder desenvolver velocidade alta, um trem necessita de ferrovia adequada, ou seja, via com poucas rampas (subidas e decidas suaves) e curvas de raio muito grande.

Por outro lado, um trem de longa distância é um veículo pesado, normalmente com sistemas de transmissão adequados para desenvolver velocidade. As dificuldades são resolvidas com a boa performance dos motores elétricos.

Mas, para que um trem, em via adequada, acelere até atingir velocidades de 150 km ou mais, é necessária uma distância considerável (estamos falando de cerca de 10 km em linha reta ou curvas muito suaves e no plano). Da mesma forma, para parar, o trem, que tem rodas de aço com pouco atrito, precisa de um longo trecho de desaceleração. Por isso, para que seja eficiente, um trem de alta velocidade não deve fazer paradas próximas uma das outras. Essa é a razão principal de se anunciar um trem somente ligando Brasília a Anápolis e Goiânia. Ainda assim, entre Anápolis e Goiânia, o trem não terá espaço suficiente para desenvolver alta velocidade, uma vez que as cidades estão distantes cerca de 50 km.

Entre Brasília e Anápolis, a distância está entre 120 e 130 km. Caso o trem tenha parada em Santo Antônio do Descoberto, o maior trecho livre seria entre Santo Antônio e Anápolis, com cerca de 100 km. Se forem incluídas paradas em Alexânia e Abadiânia, a maior distância entre paradas será entre Anápolis e Goiânia. Isso leva a uma conclusão importante: o trem só será de alta velocidade se não tiver paradas intermediárias.

Surge então uma outra questão: qual é a finalidade de um trem para a região? A resposta, aparentemente simples, leva a uma situação perversa. Um trem rápido é um modo de transporte do qual se espera alto desempenho, o que significa, além de consumo de energia baixo por pessoa transportada, transporte de grande quantidade de pessoas e bens. Entretanto, quanto menos paradas o trem fizer, menor será o número de pessoas potencialmente atendidas e menor será a área de influência. Ou seja, somente ligando as três cidades não trará benefícios significativos para a região, e parando em várias cidades deixará de ser um trem-bala.

Um outro ponto ainda deve ser considerado nas discussões que se abrem sobre o tema. O que representa uma estrutura de transporte para uma região? É bom assinalar que transporte é uma atividade-meio da economia. Como tal, o transporte não é produtivo em si próprio, mas como meio é insumo importante nos processos produtivos. Em outras palavras, em relação ao planejamento regional, não basta ter um modo de transporte disponível entre dois pontos. É necessário ter o sistema de transporte adequado para o que se quer transportar e entre os locais onde se necessita de cada tipo de transporte.

Assim, o trem-bala, como qualquer outro modo de transporte, deve estar atrelado a um plano de desenvolvimento econômico e social da região em que se insere. No caso específico do trem entre Brasília e Goiânia, passando por Anápolis, o que deve ser discutido com a comunidade é o plano de desenvolvimento regional, no qual o trem-bala estaria inserido.

Não se trata, pois, de fazer estudos de viabilidade econômica da implantação do trem. Sugere-se estudar um plano de desenvolvimento econômico e social da região, identificando todas as necessidades de transportes de pessoas e cargas, energia, água e saneamento; identificando-se todos os locais que serão geradores de viagens, suas quantidades e freqüência; e então estudar a inserção do trem.

Duas outras questões são apresentadas a seguir. Primeiramente, os trens europeus estão em regiões de alta renda e com taxas de crescimento populacional próximas de zero e estáveis, enquanto temos renda muito mais baixa e cidades se desenvolvendo de forma desordenada e indiscriminada. Na Europa, os planos regionais são para 20 anos ou mais.

Um segundo ponto é o custo e financiamento do trem. Estima-se que sistemas ferroviários modernos custem próximo de US$ 10 milhões de dólares por km implantado. Mesmo sendo economicamente viáveis não são atrativos para a iniciativa privada, pois o retorno do investimento, quando existente, é de muito longo prazo. Com os atuais juros altíssimos pagos pelo governo, os melhores investimentos para as empresas são a compra de títulos públicos.

nota1
Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil, 04 fev. 2004, Caderno Brasília. A sugestão de sua republicação em Vitruvius foi do leitor e arquiteto Vinicius Meirelles, de Brasília

sobre o autor

José Alex Sant´Anna é professor adjunto IV do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, área de Transportes. Doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), tem entre sua publicações os livros: Sistemas Modernos e Tradicionais de Ônibus no Mercosul Ampliado e Integracion em el Sector Transporte em el Cono Sur.

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