Notícia quase que diária nos jornais e sites de Limeira é a modernização do transporte coletivo da cidade. Muito se especula sobre o novo projeto, grupos da cidade debatem sobre o tema, etc. Enfim, acho que o que todos perguntam é se existe realmente um projeto para a modernização do transporte coletivo de Limeira, para quem foi apresentado? Onde o projeto está?

Como serviço essencial para a população, o transporte coletivo deveria ser encarado com mais seriedade e profissionalismo, pois se Limeira vive esse caos em termos de organização do solo, vazios urbanos e congestionamentos, tudo isso se deve ao descompromisso do poder público em organizar de forma ordenada o sistema viário de Limeira e o transporte coletivo. Será difícil a Prefeitura organizar o transporte coletivo de Limeira enquanto não houver uma organização da própria Prefeitura, onde não há comunicação entre diversas secretarias importantes, como Secretaria de Planejamento e Urbanismo e Secretaria de Obras e Transportes. Por sua vez, a Secretaria de Planejamento e Urbanismo só tem urbanismo no nome, porque o verdadeiro urbanismo não é praticado há décadas na nossa cidade e hoje colhemos o que foi plantado e ainda continua sendo plantado de forma irracional.

Mas muito próximo de Limeira existe uma cidade que se chama Piracicaba, para muitos é uma cidade muito próxima, mas para nossos governantes parece estar a centenas de quilômetros daqui. Piracicaba tem trabalhado muito em relação à aplicação de um novo modelo para o transporte coletivo, o mesmo que já é integrado desde 1991, e esta passando por melhorias. Esse novo projeto de Piracicaba se chama “Plano Diretor de Mobilidade Urbana”, está sendo feito por equipes de urbanistas de Piracicaba e São Paulo, todas as etapas de desenvolvimento deste plano estão sendo apresentadas com a participação da população, afinal é a população que está em jogo, e aqui em Limeira a população só fica sabendo dos projetos depois que já estão em prática, sem sequer participar opinando sobre os mesmos.

Situação atual

Hoje a organização do nosso transporte coletivo, fica a cargo das empresas que operam em Limeira. A maioria das linhas de ônibus são diametrais, sendo que cada linha tem em média de 10 a 15km compostas por 5 à 7 ônibus ligando alguns pontos extremos da cidade. A grande maioria passa pela região central e o tempo de espera gira em torno de 20 a 50 minutos entre os ônibus, gerando os maiores problemas do sistema atual: a falta de linhas para muitos destinos da cidade e o grande tempo gasto pelos ônibus para percorrê-las.

O local onde abriga o “terminal central” da cidade de Limeira situa-se na praça da antiga escola Coronel Flamínio, onde se encontram o Museu Major José Levy Sobrinho e a Biblioteca Municipal. O primeiro edifício é um prédio do século XIX, um ícone da arquitetura da cidade, e devido ao grande tráfego pesado gerado pelos ônibus, suas estruturas se encontram cada vez mais abaladas. O entorno da praça se encontra deteriorado devido ao grande volume de pessoas que passa por ali ao longo do dia; não há banheiros públicos, bancos e abrigos para os usuários do transporte coletivo.

Não há linhas expressas, troncos, alimentadoras, interbairros e radiais, o que dá para imaginar o caos que o sistema empregado vive hoje na cidade, gerando conseqüências ruins para os usuários, empresários, comerciantes, poder público, etc. O resultado disso é a degradação da cidade pelo uso intenso do automóvel.

Os percursos de cada linha são demorados devido aos caminhos tortuosos na qual elas obedecem, não havendo linhas de ligação direta bairro–bairro, congestionando o centro da cidade devido a todas passarem pela praça do “museu”.

Há ausência de informações visuais e sonoras sobre horário dos ônibus, mapas dos percursos das linhas, etc.

Conseqüentemente o transporte coletivo não se torna um meio eficaz para locomoção, sendo que, em muitas vias urbanas o ônibus não possui espaço suficiente para circular onde o automóvel particular é mais privilegiado que um ônibus que transporta em média setenta ou mais passageiros, enquanto o automóvel particular transporta no máximo cinco passageiros.

A ausência de corredores ou faixas exclusivas para os ônibus gera a disputa por espaço com os veículos particulares, criando um sistema lento, desconfortável e poluente.

Integração

É necessária a criação de corredores de transporte coletivo juntamente com diretrizes para que o mesmo seja eficaz, dando prioridade para o transporte em massa e criando incentivos que induza o cidadão a se locomover por ônibus urbano. Assim quem ganha somos todos nós, principalmente em qualidade de vida, através de um sistema organizado que gerencie a cidade, tanto em termos de locomoção como de crescimento, preenchendo os vazios urbanos, limitando o surgimento de loteamentos fora dos eixos criados pelas vias de transporte coletivo.

A integração do transporte em Limeira não pode ser encarada como uma situação pontual, ou seja, criar terminais de integração antes de projetar o percurso dos ônibus, deve sim ser encarada como uma situação macro, envolvendo diversos setores da sociedade e pensando a cidade como um todo, ou seja, urbanisticamente.

A inserção de um terminal urbano na área central, como está sendo proposto pela Prefeitura Municipal, para a integração de todas as linhas de ônibus criaria um caos ainda maior no qual vivemos hoje, pois é notável que não temos leitos carroçáveis suficientes para suportar o tráfego de veículos pesados como os ônibus usados hoje na cidade.

O nosso papel em diante é cobrar do poder público a participação no projeto do transporte coletivo, pois seremos os mais prejudicados se o mesmo for aplicado da forma em quem está sendo feito, mesmo que muitos de nós nunca pegamos um ônibus na vida, saiba que o transporte coletivo influi totalmente na sua vida, pois provoca menos congestionamentos, menos poluição e mais humanização da vida nas cidades.

nota

1
Artigo originalmente publicado no dia 28 de janeiro no site www.tiroequeda.com.br.

sobre o autor

Felipe Penedo de Barros é arquiteto recém formado pela UNIMEP e cujo tema de trabalho final de graduação foi o sistema de transporte coletivo de Limeira.