Rio de Janeiro assistiu nas últimas semanas uma verdadeira guerra urbana, travada na maior favela da América Latina, a Rocinha, tida muitas vezes como exemplo, pelos governantes, de inclusão social.
A cidade mostrou o seu total despreparo para lidar com questões maiores de segurança e serviu como palco de discussão de atribuições no âmbito federativo, além de mostrar as brigas políticas e a falta de visão de um trabalho unificado.
A imprensa mundial mais uma vez apontou o perigo de visitar uma cidade encravada entre favelas, que vem crescendo, por inexistência de políticas públicas, para minimizar as condições de sobrevivência dos excluídos.
Como conceber que um nativo de uma favela, que se torna refém do tráfico, por omissão do Estado, possa almejar outro futuro do que se tornar “gerente da boca”? A ausência do poder público, os salários aviltantes pagos às forças de segurança aumentam a aproximação cada vez maior com os narcotraficantes, que com pequenos favores, recebem proteção em sua escalada de violência. E o asfalto colabora, com os consumidores prontos para a busca de prazeres proibidos.
Qualquer indivíduo com um mínimo de sensibilidade sofre quando se depara com a vida maquiada de favela bairro. Estivemos recentemente num tour pela Rocinha, operado de forma exemplar e com cunho social pela empresa Jeep Tour e tivemos a possibilidade de verificar a situação difícil dos que ali vivem, podendo inclusive fazer alusão à cidade apavorante da era victoriana, apresentada por Peter Hall.
Somos obrigados a confessar que no momento em que a Rocinha afeta a paz da escola americana, dos condomínios e das casas das redondezas, as pessoas começam a gritar. Grito individualista, egoísta que já deveria ter começado a ecoar há muito tempo.
Não adianta marketing eleitoreiro. O Rio precisa encontrar uma forma de reduzir as desigualdades sociais que estão aumentando, por falta de entendimento de que chegou a hora de criarmos uma grande ponte formada por incluídos e excluídos na visão de uma retomada da dignidade humana. Dignidade que demanda uma convergência de esforços, uma agenda para a realização de um sonho: a integração dos excluídos, através do turismo.
A atividade turística oficial está um pouco parada. Nos últimos tempos vive da criação de conselhos, ministérios, secretarias e posses. Os Governos, sobretudo Federal devem criar uma entidade para operar juridicamente o estatuto da cidade, marco jurídico que vai refletir o início da gestão democrática da tão sonhada municipalização. A TurisRio tem demonstrado um compromisso com a segurança turística, através dos instrumentos Conselho de Segurança e Capacitação das Forças de Segurança que sintetizam os primeiros ecos de uma política participativa no âmbito Estadual.
Não podemos nos acovardar: vamos nos unir com soluções realistas e não com movimentos de amor fictício, para erradicar de forma planejada, a exclusão social presente no maior destino turístico do Brasil. A agenda da renovação é aquela que vai mostrar vontade política com recursos e não muros para resolver o problema das favelas.
sobre o autor
Bayard Boiteux é Coordenador do Curso de Turismo da UniverCidade e Doutorando em Direito da Cidade pela UERJ.
Maurício Werner é Presidente da Planework Consultoria em Turismo e Coordenador Adjunto do MBA em Turismo da UniverCidade.