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my city ISSN 1982-9922

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RIBEIRO, Olympio Augusto. Arquitetura: restauração e reciclagem. Minha Cidade, São Paulo, ano 05, n. 057.02, Vitruvius, abr. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/05.057/1981>.


Estação da Luz, Bairro da Luz, São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro


Cásper Líbero, Bairro da Luz, São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro

Estação da Luz, Bairro da Luz, São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro

Pinacoteca do Estado (ao fundo), Bairro da Luz, São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro

Rua Mauá, Bairro da Luz, São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro

Bairro da Luz, São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro

Bairro da Luz, São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro

Estação da Luz, São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro

Arredores da igreja de Sta Ifigênia , São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro

Av. Tiradentes, Bairro da Luz, São Paulo
Foto Olympio Augusto Ribeiro

 

O abandono do patrimônio arquitetônico existente nos antigos centros das grandes cidades brasileiras é reflexo da expansão descontrolada e especulação imobiliária, em tempos que a valorização do novo, reflete a nossa cultura sedenta pela manutenção de uma modernidade ignorante e retrógrada.

É necessária uma reavaliação dos valores, visto que as nossas cidades crescem como reflexo da consciência e do senso de cidadania do nosso povo, ou seja, mantendo-se a égide da efemeridade – da falta de memória.

Cada povo é conduzido por sua história. A cidade madura é reflexo de acontecimentos acumulados; de batalhas sofridas; de doenças e curas empreendidas e de tempos de fartura e de miséria; exatamente como a história de cada indivíduo, onde os acontecimentos de sua infância e adolescência são condicionantes da sua vida adulta. Negar, negligenciar ou camuflar a sua história é perder a própria identidade, é se propor a viver sem valor, sem raízes.

Cabe a cada povo avaliar a sua história e caminhar por sua própria trilha, porém, o reflexo mais incivil e degradante da nossa formação como nação é a incapacidade de olhar para nossa história de forma edificante, inclusive mantendo e preservando os centros das nossas cidades.

O abandono dos antigos centros das cidades, não é um privilégio tupiniquim. Cidades antigas, em todo o mundo, convivem com o desafio de continuar crescendo de forma equilibrada, considerando a possibilidade de manter registros de sua evolução urbanística e arquitetônica. Exemplos vitoriosos dessa batalha demonstram, no entanto, que preservar não significa estagnar, mumificar, ou paralisar investimentos em construções arcaicas pelo simples luxo de contar história. Em cidades como Londres e Veneza, dois exemplos distintos de cidades e de tipos de intervenção, deixam claro que mantendo as velhas construções em uso e adaptando-as a funções compatíveis com os dias atuais é possível transmitir este legado para o futuro, valorizando o imóvel e, de forma mais ampla, o entorno imediato e a cidade, já que o centro da cidade é principal termômetro do seu desenvolvimento.

A arquitetura contemporânea está tomando um novo rumo. O modernismo impôs uma arquitetura do embate com a história, com a cidade pré-existente, com os costumes arraigados da maneira de viver e projetar do século 19. Agora vemos que o modernismo, já octogenário, deixou herança de intolerância em toda a sociedade, com sua sanha de demolir para crescer e inovar.

Vivemos na era da reciclagem, da simplificação de processos, da economia de matéria prima, enfim, reflexo dos nossos dias, da escassez de recursos naturais e de combustível, do alto custo da produção de materiais de construção e do ônus deixado ao consumidor com o descarte de edificações para construção de edifícios. Reciclar é preciso. Restaurar é preciso.

É uma vertente internacional o uso de edificações antigas dos centros das cidades como resposta à demanda de ocupação das estruturas já consolidadas, tanto por residências como por comércio e serviços.

A respeito disso, deve ser atualizada a idéia de que o trabalho de restauração de edificações seja restrito à fachadas ou a conjuntos de grande importância histórica para a cidade, como igrejas, por exemplo.

Recente matéria publicada por ArcoWeb, de autoria de Fernando Serapião, conta que dentro da ilha de Manhattan, em Nova York, existem apenas 15 edificações uniresidenciais, construídas após os anos 30, sendo a maioria delas resultado de reciclagem de antigas edificações, já que a ilha é densamente povoada desde fins do século dezenove. Isto, no entanto, não significa que o centro da cidade ficou estagnado; a cidade se mantém viva e efervescente, e com seu patrimônio preservado, exemplares da história da evolução da cidade são ícones a serem valorizados. Recentemente foi concluída a restauração do Chysler Building, um dos ícones mais celebrados da cidade, executada pela empresa americana, LZA Tecnology. O edifício construído no final da década de 20 estava com baixa ocupação por não oferecer as facilidades tecnológicas, necessárias atualmente; foi então totalmente restaurado e modernizado de forma a atender às necessidades de uso deste século, sendo, no entanto preservadas todas as suas características mais marcantes, tornando a ser ocupado e valorizado.

O Brasil ainda engatinha quando se trata de intervenções bem sucedidas em edificações ou conjuntos arquitetônicos em centros antigos. São poucos os exemplos que se aproximam do ideal de valoração e aproveitamento de demandas de forma eficiente e economicamente viável - e com resultados equilibrados em longo prazo.

São Paulo é um exemplo da tentativa recente de requalificação do centro antigo, com investimentos pesados, principalmente na região da Luz, aonde várias edificações importantes para a história da cidade vêm ganhando nova roupagem e equipamentos de uso cultural, modernos e atraentes, principalmente para o público interessado em lazer e entretenimento. Porém, apesar de extremamente louváveis, os empreendimentos daquela região, encabeçados por entidades governamentais não proporcionarão o impulso necessário para mudar a cara da região – hoje, a boca do lixo de São Paulo.

Para que haja cumplicidade da população de uma determinada região da cidade, é necessária a sua identificação com o local, não apenas como região de trabalho, mas como sua morada. Esta identificação é fator fundamental para se iniciar a revitalização de uma área degradada. Incentivos fiscais e financiamentos específicos para restauração e ocupação dos imóveis do entorno dos grandes monumentos no centro da cidade, com manutenção do comércio e serviço de bairro e criação de habitação não apenas de caráter popular, proporcionará o constante fluxo de pessoas e a sua constante renovação.

As experiências e discussões mais recentes a respeito da forma de intervir em centros históricos mostram que são vitoriosos os investimentos que visam à atração de moradores, não apenas de baixa renda, para estas regiões. O centro da cidade ativo e com fluxo de investimentos não só do poder público se mantêm vivo, conseqüentemente atraindo mais visitantes e mantendo constante o fluxo de investimentos e de mudanças capazes de transformar uma região degradada em geradora de empregos e renda. Infelizmente investimentos de caráter apenas cultural não são capazes, por si só, de promover mudanças substanciais no entorno, mas pode ser um ótimo estopim.

O desequilíbrio entre a demanda existente de prédios inteiros abandonados nos centros das cidades e a possibilidade eminente de torná-los viáveis e economicamente ativos, pode ser equalizada com planejamento adequado, executado por profissionais capacitados e com formação específica na área de patrimônio. Estes profissionais, através da avaliação de cada imóvel, são capazes de propor planos de atuação para a reciclagem e restauração destas edificações, podendo inclusive coordenar estudos de viabilidade econômica e de valorização imobiliária, possibilitando o retorno dos investimentos.

Como já acontece em muitas cidades, a parceria entre os setores público e privado, com criação de incentivos fiscais, linhas de financiamento para restauração e novas construções, e o interesse do governo do estado e da prefeitura para que haja investimentos no centro, são fatores potenciais para o sucesso dos empreendimentos, visto que aquela área da cidade possui infra-estrutura de água, esgoto, luz, telefonia, rede de transportes e demais serviços essenciais já implantados e subutilizados.

sobre o autor

Olympio Augusto Ribeiro é arquiteto e urbanista, especialista em Restauração e Conservação de Edificações e sítios históricos.

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