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my city ISSN 1982-9922

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FREITAS, Alexandre de. O descaso com um patrimônio histórico. Minha Cidade, São Paulo, ano 10, n. 110.04, Vitruvius, out. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/10.110/1833>.


Vista lateral da Igreja São Benedito
Foto tirada pelo autor em 2008

Foto noturna da Igreja São Benedito desmoronada
Tirado pelo autor no dia do desmoronamento as 20h

Vista de outro ângulo da Igreja São Benedito desmoronada
Foto tirado pelo autor no dia 24/02/2009 as 20h

 

No dia 24 de fevereiro uma fatídica notícia veio comprovar que a preservação de patrimônios históricos foi negligenciada na cidade de Cravinhos, a 300 Km da cidade de São Paulo na região de Ribeirão Preto. Neste dia ocorreu o desmoronamento parcial da Igreja São Benedito, a matriz velha da cidade, construida há mais de 120 anos, em 1888.

Minha intenção aqui não é apontar culpados. Acredito, com toda honestidade, que todo cidadão da cidade tem sua parcela de culpa. Jornais regionais e até a Folha de São Paulo noticiaram o fato. Aqueles que prolongaram mais o noticiário relataram o que muitos moradores já sabiam: havia um nítido impasse entre a paróquia e o poder público. A prefeitura, pelo que consta, tentou várias vezes reformar a igreja e a paróquia não aceitava usando como argumento que não queria envolvimento político.

E nessa discussão, que os moradores locais já conheciam há um bom tempo, todos acabaram perdendo. A igreja não suportou os problemas de rachadura e infiltrações evidentes até para leigos.

A Igreja São Benedito foi construída por Francisco Rodrigues dos Santos Bomfim, fazendeiro conhecido na região por ter colaborado com a fundação da cidade de Cravinhos e ter fundado um distrito de Ribeirão Preto que recebe o nome de Bonfim Paulista em sua homenagem. A capela era de sua propriedade particular e após sua morte foi doada pelos seus herdeiros à paróquia da cidade.

Com a construção da matriz atual de Cravinhos, a Igreja São José, em 1904, a igrejinha gradativamente foi caindo no esquecimento. Em 1922, o professor Francisco Gomes, em seu livro sobre Cravinhos, nos diz que a praça na qual está a igrejinha: “outrora era ponto principal dos festejos religiosos, onde se reunia massa de povo e tudo mais que essas festas atraem”.

Os jornais da região relataram muito bem a indignação da população em geral, principalmente os mais velhos, que tinham laços sentimentais com a tal igrejinha, afinal ela foi a primeira matriz da cidade. Ali ocorreram casamentos e demais festejos que se iniciaram no final do século XIX, atravessando todo o século XX e chegando ao início do século XXI, pois a igreja foi desativada há apenas três anos.

Uma história dessas não pode se perder! Agora resta apenas a fachada da igreja, engenheiros responsáveis da prefeitura e a diocese de Ribeirão Preto sustentam que no mínimo a fachada será mantida, mas que preferencialmente tentarão restaurá-la por inteiro.

O que mais me assusta – e isso sim gostaria que servisse de reflexão por parte do poder público e da sociedade civil em geral – é o descaso com o patrimônio histórico. Sei que o assunto não é novidade e também reconheço que não tenho formação e estudo suficientes para prolongar altas discussões sobre esses assuntos. Mas, a título apenas de notificação, gostaria de lembrar que no caso de Cravinhos, cidade de 30.000 habitantes a 20 km de Ribeirão Preto, a discussão sobre a preservação do patrimônio histórico se agrava.

Um dos motivos que eu elejo como principal é a falta de vínculo com a cidade. Boa parte das pessoas trabalham e estudam em Ribeirão Preto, o que diminui o convívio colaborando para uma menor percepção do espaço urbano. Cravinhos, em linhas gerais, é uma cidade que de certa forma estagnou no tempo, ocupando hoje a área de influência direta de Ribeirão Preto. Assim, não raro, os cravinhenses se consideram meio que ribeirão-pretanos.

Não existe, ou pelo menos não constatei, uma Secretaria Municipal ou uma associação que tenha como prioridade a preservação de edifícios de interesse histórico, que não são poucos na cidade. A estagnação, que em boa parte expulsa pessoas do convívio diário com a cidade, paradoxalmente também preserva alguns prédios antigos, pois é de conhecimento de todos que o crescimento econômico causa pressão no mercado imobiliário e os prédios mais antigos acabam sendo substituídos pelos mais novos que conseguem dar uma resposta mais eficiente ao capital.

De todo modo, a estagnação do crescimento urbano e econômico de Cravinhos ao mesmo tempo em que preservou os prédios mais antigos que podem ser considerados, pelo menos localmente, patrimônios históricos, fez com que cidadãos e poder público se tornassem mais descuidados com o que representa mais fielmente os momentos históricos de uma localidade: seu patrimônio histórico.

referências bibliográficas

GOMES, Francisco. Cravinhos: histórico, geographico, commercial, agrícola. Ribeirão Preto: Tipographia Selles, 1922.

Jornal Folha de São Paulo, 25/02/2009

Jornal A Cidade de Ribeirão Preto. 25/02/2009

Site: www.bol.com.br. Acessado dia 25/02/2009

sobre o autor

Alexandre de Freitas é graduado em Geografia pela Faculdade Dom Bosco de Monte Aprazível-SP e especialista em Cidadania e Cultura pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). É professor efetivo da rede oficial de ensino do estado de São Paulo e reside em Cravinhos desde 2008

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