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português
José Celso Martinez Correa critica a aprovação no Condephaat da construção de torres adjacentes ao Teatro Oficina, obra dos arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito.
MARTINEZ CORREA, José Celso. Ana Lanna Feliciana. Teatro Oficina em risco. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 158.01, Vitruvius, set. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.158/4858>.
A presidente do Condephaat, Ana Lucia Lanna, é o novo Feliciano a inverter sua função no cargo que ocupa.
Ao invés de cumprir seu dever de defender o patrimônio histórico, arqueológico, artístico e turístico do Estado de São Paulo, ela permite ao grupo de especulação imobiliária Sisan construir torres gigantescas no entorno do Teat(r)o Oficina.
A foto do projeto do grupo que está no Diário Oficial do Governo do Estado do dia 4 de junho de 2013 parece um cartoon de Angeli. Gostaria muito que ele fizesse uma trans-charge aceitando o desafio de superar esta imagem, que fala por si das boas intenções da conselheira do patrimônio.
Ninguém pode negar que o Teat(r)o Oficina é um patrimônio da história do Brasil não somente por ter lutado contra a ditadura militar mas por estar agora lutando com a ditadura da especulação imobiliária que tomou o aparelho do estado de São Paulo ocupado por agentes como dona Ana Lucia Lanna, que usa seu poder no próprio órgão de defesa do patrimônio cultural para dilapidá-lo. Uma forma contemporânea de corrupção, talvez a mais monstruosa da história do Brasil.
O Teatro Oficina, o 3º que se constrói no local, é projeto dos arquitetos Lina Bardi e Edson Elito e completa 20 anos no dia 3 de outubro. Lina Bardi defende a transcriação dos espaços existentes a partir do seu conceito de arqueologia urbana: fez permanecer os arcos romanos do prédio antigo do local, anterior ao Teat(r)o Oficina, e concebeu uma obra de arte de arquitetura urbanística de teat(r)o que ganhou vários prêmios internacionais e está presente nas grandes revistas de arquitetura do mundo.
Seu projeto pressupõe sua complementação no entorno tombado pelo próprio Condephaat, por cidadãos da estatura de João Carlos Martins, secretário de cultura, do geógrafo Aziz Ab’Saber e do artista de teatro, pintor e arquiteto Flavio Império.
O Compresp, órgão municipal de cultura, também tombou o Oficina há 20 anos atrás. Assim como o fez o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, no dia 24 de junho de 2010, incluindo a recomendação expressa para que os órgãos de preservação do patrimônio cultural do estado de São Paulo, da Prefeitura de São Paulo e o Ministério da Cultura negociassem seja a desapropriação ou outro meio para destinar o entorno do oficina à complementação do projeto inicial urbanístico de Lina.
Somos artistas que há mais de meio século vêm produzindo obras de arte, somente interrompidos com a prisão e tortura de muitos do Oficina que entretanto, exilados, continuaram seus trabalhos em Portugal, Moçambique, Inglaterra e França. Na abertura estreita, gradual e restrita retornaram à defesa de seu espaço que começou a ser cobiçado pelo Grupo Silvio Santos e ocuparam-se em desenvolver as obras primas que estão praticando no local.
A ministra Marta Syplicy estava – e sei que continuará – negociando um terreno da União para trocar com Sílvio Santos pelo terreno do entorno que já ocupamos. Entretanto leio hoje na mídia que Silvio Santos, que propôs a troca, está desaparecido há dois meses.
Felizmente estamos com Cacilda Becker nos inspirando em Cacilda!!!, nossa nova peça que estreia dia 3 de outubro, aniversário de 52 anos do Teatro Oficina. Nesse dia vamos estar com o Nick Bar instalado no nosso entorno.
Termino lembrando que a protetora do patrimônio do estado de São Paulo determinou um metro e oitenta centímetros para preservar o quê? O janelão largura Masp que Lina rasgou no espaço do teatro rua? Ou para cortar a árvore sagrada, tótem, a primeira a dar sua sombra ao terreno do nosso entorno? Ela quer cortar a cezalpina, o pau brasil, que significa todo trabalho ecológico da associação teatro Oficina Uzyna Uzona.
nota
NE1
Artigo originalmente publicado no Blog do Zé Celso <http://blogdozecelso.wordpress.com/2013/08/13/ana-lanna-feliciana>.
NE2
O portal Vitruvius publicou posteriormente o seguinte artigo de resposta: LANNA, Ana Lúcia Duarte. Patrimônio cultural, direitos e vontades. Minha Cidade, São Paulo, 14.158, Vitruvius, set 2013.<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.158/4868>.
sobre o autor
José Celso Martinez Correa (Zé Celso) é presidente e diretor artístico da Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona.