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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Este é o último de uma série de cinco artigos que descrevem, em cinco pausas, o Pateo do Collegio, no Centro Histórico de São Paulo. A quinta pausa é o Largo Pateo do Collegio.

english
This is the last of a five-paper series that describe, in five pauses, the Pateo do Collegio, in the São Paulo History Center. The fifth pause is the Pateo do Collegio square.

español
Este es el último de una serie de cinco artículos que describen, en cinco pausas, el Pateo do Collegio, en el Centro de Histórico de São Paulo. La quinta pausa es el Largo Pateo do Collegio.

how to quote

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no Centro Histórico de São Paulo. A quinta pausa do Pateo do Collegio, o Largo Pateo do Collegio. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 190.02, Vitruvius, maio 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.190/6024>.


O obelisco Glória Imortal, no Largo Pateo do Collegio, jun. 2012
Foto Ivan Fortunato


Este é o último de uma série de cinco artigos que descrevem, em cinco pausas, o Pateo do Collegio, no Centro Histórico de São Paulo. Até o momento, já foram apresentados o Museu Anchieta, a Praça Ilhas Canárias, os sobrados da aristocracia e a Igreja Anchieta (1), Para finalizar o exame do Pateo e seu entorno, retorna-se ao Largo, nomeado aqui como quinta pausa. Ali está o primeiro Marco da Paz, um monumento que data do ano 2000: um sino emoldurado por um arco de tijolos brancos, simbolizando paz entre todos os povos do mundo.

O Marco foi idealizado pelo italiano Gaetano Brancati Luigi, e concretizado pela Associação Comercial de São Paulo, da qual foi superintendente distrital, diretor pleno, vice-presidente e assessor... A história deste italiano, conforme narrada por Boldrini (2), revela uma relação de memória e afeto com o Pateo do Collegio: foi uma criança que viveu na Europa durante os anos 1940, recordando-se dos sinos que anunciavam o final da grande guerra, simbolizando, portanto, a paz. Mais tarde, quando Gaetano já habitava o centro de São Paulo e transitava pelo Pateo, notou a falta e a saudade que tinha de ouvir o badalar de um sino, pois o da Igreja Anchieta havia sido roubado. Então fez, e cumpriu, promessa de que o Pateo ouviria novamente badaladas de um sino presente no lugar...

Outros Marcos da Paz foram se instalando nas cidades de São Paulo, Bertioga e Aparecida, e também na Argentina, no Uruguai, no México, na Itália e na China, levando sua mensagem de paz entre as nações... Que significados estão presentes na ação de Gaetano? Ao estudar a percepção, os valores e nossas atitudes em relação aos lugares, Tuan (3) afirmou que as pessoas estão sempre à procura de um ambiente ideal. Para o autor, essa procura, por mais variada que seja entre as culturas e os próprios indivíduos, está sempre enraizada no “jardim da inocência” ou no “cosmos”... curiosamente, o Marco da Paz recupera a infância, ao mesmo tempo em que alcança o Mundo, tornando-se um simbólico ponto de equilíbrio que, segundo Tuan, não faz parte da experiência terrestre... Daí, é possível anotar que o Pateo é um lugar de religação, mas de uma forma que não é aquela da fé cristã tão presente na cruz afixada no ponto mais alto do talude, na Igreja Anchieta e no memorial da Companhia de Jesus. Isso porque o Marco da Paz estabelece uma conexão global em busca de paz e harmonia, possibilitando novos olhares e novos valores a esse lugar tão simbólico, fortalecendo ainda mais seu genius loci.

Reservou-se, para o final, o artefato que mais se destaca visualmente. Trata-se de um monumento em forma de obelisco com pouco mais de 20 metros de altura, instalado no largo do Pateo do Collegio em comemoração ao nascimento da Cidade, chamado de Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo. Foi descrito por Del Lama, Dehira e Reys (4) como uma “estátua de bronze com coluna de sienito vermelho e base de granito cinza”, modelado em Roma e esculpido no Brasil pelo italiano Amadeu Zani, que firmou raízes no País no final do século 19.

O obelisco Glória Imortal, no Largo Pateo do Collegio, jun. 2012
Foto Ivan Fortunato

De acordo com Donato (5), o propósito desse monumento seria o de retratar grandes realizações jesuítas nesse solo sagrado, como a catequese e a instrução dos selvagens, as construções e o batismo da terra em homenagem ao apóstolo Paulo. Esse obelisco, que foi instalado no lugar no dia 11 de junho de 1925, representa gratidão aos jesuítas, nomeados como fundadores da cidade, ratificando ainda mais a presença da fé religiosa no lugar e seu genius loci.

Ao escarafunchar os significados da geograficidade, ou a visceral ligação Homem-Terra, Eric Dardel afirmou que poética motivada pelos lugares que nos ligam emocionalmente a Terra, tornam-se a expressão mais clara desse sentimento de união. Descrever com adjetivos que ressoam com a emoção vivida é, na compreensão desse autor, a forma mais transparente de se revelar a comunhão com o lugar, momento em que as palavras poéticas tornam-se uma linguagem única para transcrever a comoção e a admiração sentida em nossa realidade geográfica, entendida como os lugares em que desenvolvemos nossas experiências terrestres (6). Isso parece explicar porque o Pateo e seu entorno foi descrito não somente pela percepção sensorial tendo esta, metaforicamente, sido filtrada e traduzida pela imaginação e pela memória, pelos sonhos e pelos devaneios...

Contudo, mesmo depois de percorrer, perceber e descrever o lugar, parecia que as inquietações que motivavam as andanças pelo Pateo se multiplicavam ao mesmo tempo em que o lugar se tornava mais familiar. Isso evidenciaria as afirmações de Dardel sobre a experiência de realmente se encontrar com um lugar, de se permitir iluminar e aquecer por uma fagulha que recobre toda existência, afinal, descobrir o lugar é “muito mais do que um espetáculo banal: uma ultrapassagem enlevada da mediocridade cotidiana, um sobrevoo de si, uma evasão para uma nova dimensão do ser” (7).

Mais do que descobrir e desbravar um lugar, portanto, as cinco pausas do Pateo ressaltavam a existência dessa nova “dimensão do ser” referida por Dardel... Assim, sua geopoética materializa-se ao permitir que o Pateo do Collegio seja compreendido em sua própria essência, ou seja, aquilo que é inerente ao lugar, sua própria ontologia, que se manifesta em si mesmo, e torna-se ainda mais sublime conforme o lugar se configura como solo sagrado, símbolo de nascimento dessa grande cidade, acervo da memória cultural e um lugar na cidade de São Paulo.

notas

1
Este é o quinto e ultimo de uma série de cinco artigos que descrevem, em cinco pausas, o Pateo do Collegio, no Centro Histórico de São Paulo. Os artigos da série são os seguintes:

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no centro histórico de São Paulo. A primeira pausa do Pateo do Collegio. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 186.01, Vitruvius, jan. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.186/5868>.

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no centro histórico de São Paulo. A segunda pausa do Pateo do Collegio, a Praça Ilhas Canárias. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 187.02, Vitruvius, fev. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.187/5923>.

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no Centro Histórico de São Paulo. A terceira pausa do Pateo do Collegio, os sobrados da aristocracia. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 188.04, Vitruvius, mar. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.188/5974>.

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no Centro Histórico de São Paulo. A quarta pausa do Pateo do Collegio, a Igreja Anchieta. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 189.03, Vitruvius, abr. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.189/5983>.

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no Centro Histórico de São Paulo. A quinta pausa do Pateo do Collegio, o Largo Pateo do Collegio. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 190.02, Vitruvius, maio 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.190/6024>.

2
BOLDRINI, Vera. Inaugurado na Assembleia Marco da Paz. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, v. 123, n. 46, 12 mar. 2013. Seção Poder Legislativo, p. 7.

3
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1980, p. 28.

4
DEL LAMA, Eliane Aparecida; DEHIRA, Lauro Kazumi; REYS, Aranda Calió dos. Visão geológica dos monumentos da cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 39, n. 3, 2009, p. 412.

5
DONATO, Hernâni. Pateo do Collegio: coração de São Paulo. São Paulo, Loyola, 2008, p. 217.

6
DARDEL, Eric. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. Tradução de Werther Holzer. São Paulo, Perspectiva, 2011, p. 3.

7
Idem, ibidem, p. 45.

sobre o autor

Ivan Fortunato tem pós-doutorado em Ciências Humanas e Sociais pela UFABCS. Doutor em Geografia pela Unesp. Líder do Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Ensino, Ciência, Cultura e Ambiente (NuTECCA). Editor da revista Hipótese e coeditor da Revista Internacional de Formação de Professores e da Revista Brasileira de Iniciação Científica. Professor do IFSP/Itapetininga.

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