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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Este texto analisa a implantação do Conjunto Arquitetônico da Pampulha e discute os desafios atuais relacionados à preservação e requalificação dos elementos culturais e naturais da região na representação da identidade de Belo Horizonte.

english
This article analyzes the implementation of the Pampulha Architectural Complex and discusses the current challenges related to the preservation of cultural and natural elements of the region in the representation of the identity of Belo Horizonte.

español
En este artículo se analiza la aplicación del Conjunto Arquitectónico de Pampulha y analiza los retos actuales relacionados con la preservación de los elementos culturales y naturales de la región en la representación de la identidad de Belo Horizonte.

how to quote

CARVALHO, Alecir Francisco de. Valorização do conjunto arquitetônico da Pampulha. Representação da identidade de Belo Horizonte. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 190.03, Vitruvius, maio 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.190/6025>.


Cassino, atual Museu de Arte da Pampulha
Foto Alecir Francisco de Carvalho


A confluência entre o Conjunto Arquitetônico da Pampulha e a Lagoa da Pampulha assinala uma das composições mais representativas da identidade de Belo Horizonte. A integração entre os edifícios do complexo arquitetônico e a lagoa sintetiza um dos cartões postais da capital mineira e revela a harmonia entre aspectos naturais e culturais da região. O conjunto arquitetônico foi projetado por Oscar Niemeyer sendo uma referência da arquitetura moderna no Brasil desde a sua construção. Já a Lagoa da Pampulha é caracterizada como um lago artificial urbano concebido a partir do represamento de um ribeirão chamado Pampulha. Embora a integração entre a lagoa e conjunto arquitetônico se caracterize como um dos principais símbolos de Belo Horizonte, ainda é percebido na atualidade as dificuldades na recuperação ambiental do lago para a requalificação e valorização integral da obra.

A Lagoa da Pampulha foi inicialmente idealizada pelo prefeito da época, Otacílio Negrão de Lima, que em 1936 começou sua construção com o objetivo de atenuar a possibilidade de enchentes e contribuir para o abastecimento de água na capital mineira. Já os edifícios do conjunto arquitetônico situados em sua orla, foi uma proposta do prefeito sucessor, Juscelino Kubitscheck, que com suas ideias de modernização da cidade imprimiu maior esplendor ao projeto. Juscelino Kubitscheck em seu mandato na prefeitura, no período de 1940 a 1945, aprimorou o projeto da lagoa vislumbrando a prática de esportes náuticos e a construção do complexo arquitetônico articulado ao redor do espelho d´água.

Cassino, atual Museu de Arte da Pampulha
Foto Alecir Francisco de Carvalho

O conjunto moderno da Pampulha é composto por cinco edifícios planejados e construídos na orla da lagoa. São eles: a Igreja São Francisco de Assis, o antigo Cassino (atual Museu de Arte da Pampulha), a Casa do Baile (atual Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte), o Iate Golfe Clube (hoje Iate Tênis Clube) e a residência de Juscelino Kubitschek (atual Casa Kubitschek). Fazia parte ainda do projeto original um hotel que se integrava ao conjunto, porém este não chegou a ser construído. O projeto do Conjunto Arquitetônico da Pampulha foi construído entre os anos de 1942 e 1944.

Algumas características que o conjunto apresenta revelam a sua filiação aos princípios da arquitetura moderna. Notam-se aspectos vinculados a esta proposição em diversas particularidades, tais como a construção da estrutura em concreto armado, a adoção do conceito de planta livre e a utilização de planos envidraçados que permitem a integração entre o interior e exterior possibilitando a entrada de luz natural nos edifícios. Embora o projeto tenha acompanhado aspectos comuns à arquitetura moderna mundial, a proposição na Pampulha assumiu feições singulares e regionais que contribuíram para reforçar o significado ímpar que a obra representa.

Cassino, atual Museu de Arte da Pampulha
Foto Alecir Francisco de Carvalho

A candidatura ao título de “patrimônio cultural da humanidade”

O Conjunto Arquitetônico da Pampulha é atualmente candidato ao título de “Patrimônio Cultural da Humanidade” pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco. Anseia-se que tal candidatura não esteja relacionada às estratégias de City Marketing (1) para a consequente promoção de políticos como figura pública, conforme sinaliza Capanema Álvares e Souza (2). Caso o complexo arquitetônico seja agraciado com o reconhecimento, tal feito irá fortalecer a identidade do projeto e reafirmar a proposição inicial de aliar arquitetura e paisagismo com o lazer e o turismo. Os edifícios que compõe o conjunto são sumariamente relacionados conforme segue:

Cassino – atual Museu de Arte da Pampulha

Trata-se de uma das obras de destaque no conjunto arquitetônico por ter sido instalado em um terreno mais elevado da região e um dos primeiros a ser concluído. Na década de 1940 o Cassino se tornou referência ao reunir diversão e glamour na capital mineira. No ano de 1946, foi desativado pela proibição dos jogos de azar no Brasil e a partir de 1957 o cassino passou a funcionar como museu. O edifício possui paredes revestidas em mármore ônix e colunas revestidas por aço inoxidável. Apresenta uma ordenação do espaço constituído por rampas que interligam o térreo ao salão de jogos e à boate. Os jardins externos do edifício foram projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx que são adornados por esculturas dos artistas Alfredo Ceschiatti, August Zamoyski, José Alves Pedrosa e Amilcar de Castro.

Cassino, atual Museu de Arte da Pampulha
Foto Alecir Francisco de Carvalho

Casa do Baile – atual Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e Design

A edificação foi planejada para instalar-se em uma ilha artificial ligada por uma pequena ponte à Avenida Otacílio Negrão de Lima. O projeto é constituído por duas circunferências que se tangenciam internamente e conectado a uma marquise sinuosa que acompanha as curvas da ilha. A marquise é sustentada por colunas expressivas que findam em um pequeno volume de forma orgânica e revestidos por azulejos decorados. O piso da edificação é constituído por uma calçada portuguesa e pode ser percebida tanto na área externa, quanto ao longo de todo o terreno e depois da ponte, o que demonstra o caráter público do espaço.

Casa do Baile, atual Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e Design
Foto Alecir Francisco de Carvalho

Iate Golfe Clube – atual Iate Tênis Clube

O Iate Tênis Clube foi concebido a partir de uma proposta diferente aos traços sinuosos utilizados nos demais edifícios. A edificação consistiu em um edifício em linhas duras, no qual se destaca o telhado com inclinação em ‘V’, popularmente chamado telhado “borboleta”, sendo uma composição tipicamente modernista. Suas águas do telhado invertidas simulam um barco atracado às margens da lagoa. Nota-se em suas fachadas, a utilização dos brises metálicos com a função de proteger da incidência solar no interior do salão através das paredes envidraçadas.

Iate Golfe Clube, atual Iate Tênis Clube
Foto Alecir Francisco de Carvalho

Igreja São Francisco de Assis

A Igreja São Francisco de Assis foi a primeira capela a ser construída com base nos princípios da arquitetura moderna no Brasil. Seus elementos arquitetônicos ganham forma com a própria estrutura em concreto armado. A abóbada na igreja seria ao mesmo tempo estrutura e fechamento, dispensando a necessidade de alvenarias.

Embora as linhas curvas da igreja impressionassem artistas e arquitetos, a plasticidade da estrutura e obras presentes em seu interior não agradaram autoridades eclesiásticas na época. Alegaram que a edificação não possuía os elementos sacros. Além disso, devido à sua forma inusitada e ao painel de Portinari no qual se vê um cachorro próximo a São Francisco de Assis, a capela permaneceu durante quatorze anos impedida de realizar celebrações.

Igreja São Francisco de Assis
Foto Alecir Francisco de Carvalho

Residência de Juscelino Kubitschek – atual Casa Kubitschek

A edificação Casa de Kubitschek foi construída para ser a casa de campo da família Kubitschek. Caracteriza-se como uma obra de coesão entre o lazer e a moradia. Foi concebida para ser um incentivo de desenvolvimento habitacional e representar um estilo de morar modernista, com a integração da arquitetura, da paisagem e a presença da setorização.

Residência de Juscelino Kubitschek
Foto Alecir Francisco de Carvalho

Os desafios na requalificação e recuperação da Lagoa

A partir da década de 1970 a Lagoa da Pampulha começou a ser poluída pelo uso e ocupação inadequados do solo e os escassos investimentos em saneamento básico que trouxeram sérias consequências socioambientais para a Bacia da Pampulha. Conforme Pinto-Coelho, “Inicialmente, notou-se uma perda da área inundada da represa devido ao assoreamento [...] Numa segunda etapa, a população passou a sofrer os efeitos da eutrofização: [...]. Finalmente, o acúmulo do lixo doméstico torna-se um grande problema” (3). No período atual, suas águas possuem o nível de contaminação da classe 4, sendo o estágio máximo de poluição de acordo com o Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama.

Igreja São Francisco de Assis
Foto Alecir Francisco de Carvalho

Para reverter o quadro de degradação, o poder público promoveu ao longo de décadas inúmeras intervenções na região. Dentre as ações realizadas tem-se: a remoção de entulhos domésticos, a retirada de aguapés na lagoa, além dos projetos de educação ambiental, tais como: o Projeto Pampulha Limpa e Projeto Pampulha Viva. Atualmente a recuperação está sendo coordenada por meio do Programa de Recuperação e Desenvolvimento Ambiental da Lagoa da Pampulha – Propam, que age diretamente com o saneamento das águas afluentes.

O processo de recuperação da Lagoa é um percurso de caráter sistêmico que demanda o envolvimento não só do poder público, mas também da participação ativa da sociedade. Sugere-se a aplicação de investimentos mais expressivos de revitalização do lago e ações intensivas de recuperação e mitigação de impactos ambientais.  Acrescenta-se a isso, a necessidade de ações que incentive o envolvimento da sociedade de modo a abranger aspectos relacionados não somente ao reconhecimento do valor histórico e cultural da região, mas também do âmbito social, ecológico e de promoção e proteção da saúde.

Igreja São Francisco de Assis
Foto Alecir Francisco de Carvalho

notas

1
City Marketing ou Marketing Urbano provém da estratégia institucional de promoção e venda da cidade com o objetivo de ampliar a imagem positiva do território. A radicalização das práticas de City Marketing caracteriza-se como uma ação de vender a cidade como se ela fosse uma mercadoria em detrimento da realização de um planejamento urbano eficiente, dedicado às reais necessidades da população. Para mais informações vide o artigo: DUARTE, Fábio; CZAJKOWSKI JUNIOR, Sérgio. Cidade à venda: reflexões éticas sobre o marketing urbano. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 41, n. 2, abr. 2007, p. 273-282. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122007000200006&lang=pt>.

2
CAPANEMA ÁLVARES, Lúcia; SOUZA, Luiz Neves. A propaganda política da Pampulha: do Modernismo de Kubitschek ao City-Marketing de Pimentel. In: III Seminário Internacional de Turismo do Mercosul, 2006, Caxias do Sul. Anais do III Seminário Internacional de Turismo do Mercosul.

3
PINTO-COELHO, R. M. (org.). Atlas da qualidade de água do reservatório da Pampulha. Belo Horizonte, Recóleo, 2012.

sobre o autor

Alecir Francisco de Carvalho é doutorando em Design pela PUC-Rio e Mestre em Design pela UEMG. É professor pesquisador da UEMG, membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Comunicação e Tecnologia da FaE/CBH/UEMG; membro do Laboratório Linguagem, Interação e Construção de Sentidos/Design da PUC-Rio e integrante do Grupo de Pesquisa: Educação para as Mídias em Comunicação da UFF.

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