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Luiz Carlos Toledo, arquiteto dedicado aos problemas urbanos da Rocinha, defende a manutenção do Programa Comunidade Cidade, que foi extinto pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.
TOLEDO, Luiz Carlos. A população da Rocinha será enganada mais uma vez? O fim do Programa Comunidade Cidade. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 245.04, Vitruvius, dez. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.245/7980>.
Fiquei indignado ao saber, nessa semana, que o Programa Comunidade Cidade deixou de existir, e que dele só restará um lote de obras de recuperação e modernização do Reservatório do Navio, e a melhoria de alguns becos no alto da Rocinha, muito pouco diante do programa que pretendia levar saneamento básico à toda a favela, construir equipamentos urbanos, recuperar os talvegues, alargar becos, abrir ruas, e construir mais de mil moradias para abrigar na própria favela as famílias deslocadas pelas obras. Isso sem falar na dor dos moradores pelos sonhos desfeitos com a extinção do programa.
A pequena equipe alocada no programa pela Secretaria Estadual de Infraestrutura e Obras – Seinfra, formada por assistentes sociais, arquitetos e engenheiros, da qual faço parte, trabalhou arduamente durante quase dois anos, parte deles enfrentando o risco de contrair a Covid-19 ao lado dos moradores, desenvolvendo os projetos necessários ao início das obras.
Não consigo acreditar que todo esse esforço tenha sido em vão, nem que o entusiasmo e a esperança que percebi nos olhos dos moradores sejam frustrados.
A Rocinha será enganada mais uma vez? Essa foi a pergunta que dirigi ao Governador Wilson Witzel no lançamento do Programa Comunidade Cidade, diante de centenas de moradores. Naquela ocasião o Governador, que está prestes a ser impichado por corrupção, garantiu que não.
Hoje dirijo a mesma pergunta ao Governador Cláudio Castro, mas antes de ouvir a resposta de Vossa Excelência, permita-me apresentar uma alternativa à extinção do programa por falta de recursos para cumprir o prometido à população da Rocinha.
Caro Governador não seria melhor em vez de desiludir os mais de 120 mil moradores da favela, acabando com o Comunidade Cidade, ajustá-lo à atual capacidade administrativo-financeira do Estado? Estou certo de que esta opção seria plenamente entendida pela população local, que bem sabe o estrago que a pandemia causou no orçamento familiar.
Além de tudo Governador, os tempos são outros, as vacinas estão chegando e com elas as esperança dos brasileiros, 2021 será um ano de recuperação da economia, e com ela, as finanças estaduais. Será preciso governar com extremo zelo, pois os recursos para investimento serão escassos, mesmo assim não é hora de dar mais esse golpe na gente sofrida da Rocinha!
Tenho uma proposta a fazer para o senhor: procure o Prefeito eleito Eduardo Paes, ele deve estar com a corda toda, louco para iniciar sua gestão cumprindo as promessas de campanha. Uma delas é a de dirigir um olhar especial para as favelas, trazendo de volta o Favela Bairro, criado pelo Prefeito Cesar Maia. Proponha a ele uma parceria inusitada em nossa cidade, a de trabalharem juntos nas favelas cariocas.
Para inaugurar esta parceria vocês dois poderiam montar, dentro da Rocinha, um escritório técnico constituído por servidores do Estado e da Prefeitura, para desenvolver o Comunidade Cidade a quatro mãos. A presença do escritório na favela favoreceria a maior participação dos moradores; nesse sentido sugiro que o local escolhido seja o C4, a Biblioteca Parque da Rocinha, tanto pela infraestrutura nela disponível, como pelo simbolismo do C4, idealizado pelos moradores para ser um centro de produção de conhecimento. Com um pouco de sorte o escritório poderia ser um embrião de uma política pública que unisse o Governo do Estado do Rio de Janeiro aos seus Municípios no enfrentamento da nossa imensa dívida social.
Caro Governador Cláudio Castro não deixe o Programa Comunidade Cidade morrer, o senhor em breve será efetivado no cargo, estimo que seu mandato seja o início da recuperação do Rio de Janeiro, tão maltratado pelos seus antecessores, cuide sempre de sua biografia, aprendi que no fim da vida, apenas ela nos resta, e, sobretudo, desista de acabar com um programa tão relevante.
sobre o autor
Luiz Carlos Toledo, arquiteto, mestre e doutor pelo Proarq UFRJ, diretor da Mayerhofer & Toledo Arquitetura, autor do Plano Diretor Sócio-Espacial da Rocinha (2006) e diretor da Casa de Estudos Urbanos. Recebeu do IAB-RJ o título de Arquiteto do Ano em 2009.