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português
A presente investigação objetiva discorrer sobre a história de edifícios industriais de Ijuí, pautando a necessidade de reconhecimento dos bens e sua relação com a comunidade. O artigo está embasado em bibliografias e investigações no museu municipal.
english
This investigation aims to discuss the history of industrial buildings in Ijuí, highlighting the need for recognition of assets and their relationship with the community. The article is based on bibliographies and investigations in the municipal museum.
español
Esta investigación tiene como objetivo discutir la historia de las naves industriales en Ijuí, destacando la necesidad del reconocimiento de los bienes y su relación con la comunidad. El artículo se basa en bibliografías y en el museo municipal.
SCHMITZ, João Vicente Machado. Indústrias (r)existentes em Ijuí. Minha Cidade, São Paulo, ano 22, n. 259.03, Vitruvius, fev. 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/22.259/8422>.
A indústria e a gênese ijuiense
O patrimônio industrial existe a partir dos vestígios da cultura industrial de valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. As obras são valoradas não de forma isolada, mas em conjunto, no sentido de buscar um valor universal a elas, pela relevância e impacto que tiveram sobre a economia e a sociedade no passado, mas – sobretudo – para que elas sigam representando sua identidade às futuras gerações (1).
Tomando como partido a cidade de Ijuí, localizada na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, serão apresentados alguns bens industriais.
A cidade, cenário do presente trabalho – face à visualização do processo de industrialização do município na década de 1930 –, teve a suíno-indústria como o meio mais relevante, além da madeira, couro, laticínios e fundições. Ressalta-se que esse processo ocorrera em um momento em que já se tinha um mercado consumidor (regional e nacional), no qual os produtos locais eram passíveis de atingir diversas áreas a partir das ferrovias e do sistema rodoviário em constituição (2).
A partir das considerações apresentadas, é possível observar o fator fundamental do sistema ferroviário e rodoviário para o desenvolvimento municipal em relação ao estado à comercialização dos produtos; os edifícios deste estudo encontram-se próximos da linha férrea, o que facilitava o transporte tanto das matérias-primas, quanto das manufaturas em destino às mais diversas regiões do estado.
A situação encontrada na cidade nas ações voltadas ao resguardo de edificações de interesse histórico não é o esperado; não existe a definição de áreas de interesse histórico-patrimonial, nem um conselho do patrimônio.
Partindo de um conjunto maior de processos e diretrizes favoráveis à preservação dos bens culturais do município, a Lei Complementar n. 6.929 de Ijuí, de 2020 (3), traz rasas colocações sobre o patrimônio da cidade, somente indicando que o patrimônio histórico, cultural e paisagístico deve ser protegido, preservado e recuperado. O plano define, ainda, em seu artigo n. 153, o Patrimônio Histórico, Cultural e Paisagístico como o conjunto de bens móveis, imóveis ou áreas verdes que estejam vinculados a fatos memoráveis da história ou pelo seu excepcional valor artístico, arquitetônico, etnográfico, natural ou arqueológico.
Em contrapartida, outra lei municipal (4) versa sobre a proteção do patrimônio histórico e cultural do município, fazendo colocações a respeito do processo de tombamento dos bens municipais. Entretanto, existe somente um bem tombado na cidade pela referida lei.
Patrimônio em investigação
A cidade de Ijuí tem potencial turístico, prova disso é seu reconhecimento pela forte influência étnica e sua comunidade heterogênea. Conforme o Projeto de Lei n. 70/2009, o município é denominado Terra das Culturas diversificadas e da Colmeia do Trabalho e, também, Capital Nacional das Etnias, segundo decreto do Congresso Nacional a partir do Projeto de Lei n. 10.095, de 2018.
A figura superposta engloba a área urbana de Ijuí, com destaque à linha férrea e aos edifícios pautados no trabalho. É visto que os edifícios apresentados se dispõem de forma adjacente à linha férrea, todos nas proximidades de duas das principais vias do município – a rua do Comércio e rua 19 de Outubro.
Estação Ferroviária Ijuiense
A estação ferroviária municipal, situada à Rua do Comércio, foi inaugurada em 19 de outubro de 1911. No ano de 1908, a partir do decreto federal n. 7.032, foram aprovados estudos e pesquisas voltadas ao orçamento da referida viação. A extensão que se propunha era de 49 quilômetros (5).
Palco de inúmeras passagens intermunicipais e interestaduais, a estação teve seu projeto de revitalização concluído em 2020, sendo destinado a um espaço denominado “Estação de Cultura e Lazer Sady Strappazzon”, que conta com uma sala de cursos à população, espaço memorial dos músicos, Sede da Associação dos Ferroviários de Ijuí, Sede do Círculo dos Escritores de Ijuí e Sede da Banda Municipal.
Refinaria de banha Nürich Muller
A refinaria de banha Nürich Muller, localizada no lote entre as Ruas Álvaro Chaves e Hans Staden, foi idealizada pelo austríaco Henrique Nürich e seu irmão brasileiro, Rodolfo Nürich, além de Henrique Schertel, entre 1926-27. A empresa foi uma das mais relevantes no cenário econômico municipal e regional, mas, com a recessão econômica de 1930, foi vendida à Sociedade Sul Riograndense de Banha Ltda (6).
A refinaria de banha encontra-se em um estado avançado de degradação por ações das intempéries e do ser humano. Localizada nos fundos de um grande lote, seu acesso é limitado, pois dois pavilhões edificados no último século ocupam a porção frontal do terreno, fazendo com que o edifício histórico desapareça e fique restrito somente aos visuais a partir da ferrovia.
Frigorífico Serrano
O Frigorífico Serrano situa-se à Rua 19 de Outubro e é a única obra que se localiza no Bairro São José, enquanto os demais edifícios que compõem a pesquisa situam-se no centro da cidade. Em relação à área de implantação, um jornal local fez o seguinte apontamento “A rua 19 de outubro e suas adjacências, nas proximidades do lugar em que está o Frigorífico Serrano, a refinaria da Sociedade de Banha, se está transformando no bairro industrial da cidade” (7).
O complexo frigorífico, fundado por Rosalvo Scherer, foi de extrema importância na década de 1930 para a economia municipal e regional, sendo considerado a maior indústria do município à época; empregava, em temporada de safra, entre 700 e 1.000 funcionários, sendo seus produtos comercializados em toda a região (8).
Parte do complexo industrial segue em utilização por parte de uma empresa do ramo alimentício. Apesar disso, muitas áreas estão em um processo de degradação física considerável, tendo em vista alguns desabamentos que ocorreram na cobertura há alguns anos, além de inúmeras patologias externas.
Armazém Glitz
O armazém da família Glitz, também situado à Rua 19 de outubro, teve como idealizador Emil Glitz que, conforme o crescimento da cidade por conta do transporte ferroviário, abriu seu negócio que prosperou até o início do século 21 (9).
O empreendimento da família mudou de proprietário ao longo dos anos, e teve dois terços do seu complexo demolido. Atualmente, a única edificação restante encontra-se em estado considerável de degradação por ação da natureza, sem uso há mais de uma década.
É possível notar a relevância da figura de Emil no desenvolvimento econômico da cidade em referência ao seu depósito e comércio de grãos e, para além disso; o imigrante doou parte da área de sua gleba à cidade, para que fosse possível dar sequência à construção linha férrea e, por conseguinte, da estação ferroviária municipal.
Moinho Walter
O moinho localiza-se entre as Ruas Bento Gonçalves e Ernesto Alves. Conforme aponta o Museu Antropológico Diretor Pestana – MADP, o edifício foi construído em 1931 a partir de Stephen Walter. Os negócios prosperaram e, em 1991, foi construído um prédio novo ao lado do existente, composto por 5 pavimentos. Ele permanece em atividade até os dias de hoje. O aumento proporcionou, à vista disso, o aumento da produção e, assim, a expansão dos negócios propiciou a difusão dos produtos em quase todo o Estado do Rio Grande do Sul (10).
Atualmente a obra é reconhecida como Moinho Ijuí. Externamente, mesmo com o grande anexo edificado ao lado do moinho, ele segue em um bom estado de conservação, tendo em vista que permanece com seu uso original até hoje.
Primeiros pavilhões da Cotrijuí
O Portal Cotrijuí (11) coloca que a cooperativa foi fundada em julho de 1957, iniciando suas atividades no ramo industrial a partir do capital por meio de um financiamento nos bancos locais.
Os primeiros pavilhões da Cotrijuí, situados à Rua Pedro A. San Felicie, tiveram seu início de construção em 01 de setembro de 1957. Foram concebidos em estrutura metálica, com 2.400m² de área coberta. No mês de dezembro do mesmo ano, passa a receber seus primeiros sacos de trigo que, até o final de 1957, teria conseguido armazenar 4.295 toneladas de trigo (12).
Os armazéns encontram-se desativados, sem nenhum uso desde o último século. Sem qualquer tipo de manutenção, o edifício está visivelmente muito degradado, tanto pela ação das intempéries, quanto pela ação humana.
Para seguir refletindo...
Em suma, as obras apresentadas denotam inúmeros interesses historicistas, sendo fundamental o reconhecimento dos bens à compreensão da evolução urbana Municipal. Entende-se, também, que a comunidade é um dos fatores principais para o reconhecimento de uma edificação, mas precisa ser acompanhada do poder público a partir de legislações pertinentes e efetivas; os órgãos públicos precisam fomentar a preservação dos imóveis, independentemente da metodologia ou do processo, enquanto a sociedade precisa estar a par da necessidade de manutenção e preservação de sua própria história, para que siga representada. Com a desativação de alguns dos edifícios, pela localização privilegiada em área central do município e consolidação de novos imóveis no centro, teme-se pelo futuro de reconhecimento e preservação dos prédios históricos mencionados.
notas
1
Carta de Nizhny Tagil sobre o património industrial. Assis, Comitê Brasileiro para Conservação do Patrimônio Industrial – TICCIH-Brasil, 2003 <https://bit.ly/3HtujrC>.
2
WEBER, Regina. Os inícios da industrialização em Ijuí. Ijuí, Editora Unijuí, 1987.
3
IJUÍ. Lei Complementar n. 6.929 de 21 de janeiro de 2020. Institui o Plano Diretor Participativo do Município de Ijuí, consolida a legislação urbanística; revoga legislações que menciona, e dá outras providências, 2020.
4
IJUÍ. Lei n. 1977 de 01 de março de 1984. Dispõe sobre a Proteção do Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Ijuí, 1984.
5
BINDÉ, Ademar Campos. Ijuí – histórias revividas: 100 anos de emancipação. Espumoso, Gráfica Líder, 2012.
6
Idem, ibidem.
7
Correio Serrano, Ijuí, n. 1, 1936, p. 1.
8
BINDÉ, Ademar Campos. Op. Cit.
9
Idem, ibidem.
10
Arquivo AI 3.6.48 P1 d3, disponível no Museu Antropológico Diretor Pestana – MADP.
11
Portal Cotrijuí <https://bit.ly/3sAXqVT>.
12
Idem, ibidem.
sobre o autor
João Vicente Machado Schmitz é arquiteto pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí.