A oportunidade que se apresenta para a região de Pinheiros dentro do conjunto das ações abordadas para o largo da Batata é inédita, relevante e se inscreve no capítulo das questões maiores do urbanismo em São Paulo. Ali estão todos os ingredientes que se corretamente trabalhados, poderão determinar não só o sucesso desta operação de renovação como também apontar caminhos para o redirecionamento do desenvolvimento da cidade. Os centros de bairros quando valorizados e induzidos são elementos naturais de polarização, difusão, equilíbrio e sustentação, sejam eles de tradição e história como no caso em pauta, sejam eles de extração mais recente.
Entendemos que o objetivo maior desta intervenção deverá ser a melhoria, ampliação e promoção qualitativa do espaço público.
Nesta ótica, além da proposta dos equipamentos necessários para a concretização desta idéia, foram equacionados os seguintes fatores indutores:
- Impacto a ser motivado pela alteração radical do sistema de transporte e a nova relação metrô-onibus e como conseqüência, a readequação dos espaços e os fluxos de veículos e pessoas;
- Reacomodação e "sutura" do eixo viário Faria Lima ao tecido local;
- Adensamento imobiliário abrangente e genérico protagonizado pela operação urbana Faria Lima;
- Reafirmação da vocação comercial a leste e oeste da avenida que deverá conviver com os novos usos induzidos pela OUFL;
- Aproveitamento das potencialidades existentes de maneira geral e em particular de imóveis e terrenos improdutivos para equipamentos e na busca da continuidade do espaço público.
Neste sentido a proposta das ações apresentadas a seguir quando conjugadas em estratégia de gestão pública economicamente sustentada, poderão compor o elenco do que, em edital, foi denominado de Reconversão Urbana do Largo da Batata.
Não necessariamente na cronologia das obras, mas em ordem de prevalência são elas:
A Esplanada
Deslocando-se o eixo da av. Faria Lima para oeste, em curva suave, sobre áreas já definidas como das expropriações necessárias à execução do metrô no segmento entre as ruas dos Pinheiros e Sumidouro. Com isto se obtém uma substancial ampliação dos espaços a leste formados em sua maioria pela área C.A.C. Estes espaços agregam naturalmente o Mercado Municipal quase até a R. Cunha Gago. Desta ação resulta expressiva área continua com 287 ml de profundidade e com 365 ml de testada ao longo da avenida Faria Lima. Este futuro conjunto de áreas contínuas públicas e privadas é complementado e valorizado pela ação a seguir:
Calçadões das ruas Teodoro Sampaio e Pedro Cristi. Feira livre permanente.
Os calçadões estão propostos no trecho entre a rua Cunha Gago e a Av. Faria Lima. Embora com características diferentes estes dois segmentos apresentam atividade comercial intensa e diversificada com tendência a evolução positiva em processo de auto-reciclagem. Como em casos preexistentes propõe -se tratamento de piso, demarcação e balizamento de faixas carroçáveis para carga-descarga e acessos preferenciais, reforço da arborização e núcleos formados por conjuntos de mobiliário como mostrados a seguir. A Feira livre permanente, abastecida pelo Mercado Municipal recupera a memória desta atividade no largo. Está localizada em triângulo de área C.A.C formado pelas ruas Pedro Cristi e Cardeal Arcoverde e plenamente integrada na Esplanada.
Empreendimento Associado
Proposta de um empreendimento a ser promovido pelo Poder Municipal através da EMURB e associado à iniciativa privada.
A ser implantado no principal segmento de área disponível no conjunto da Esplanada (quadra S15/57), tem como objetivos:
- Comercialização de áreas vendáveis e retorno proporcional ao investimento público na cobertura de parte das despesas com a execução das obras de infraestrutura na área-foco e equipamentos públicos como centro de cultura, auditório, etc. (vide quadro financeiro);
- Alavancagem de toda a intervenção além do estímulo à operação urbana Faria Lima;
- Fator de promoção da arquitetura como personagem focal da operação
- Criação do elemento simbólico-expressivo agregado ao empreendimento e à arquitetura como marco da requalificação promovida pelo poder público, representado pelo pilar multifacetado que suporta a cobertura da praça.
O programa básico do empreendimento está assim proposto:
- Embasamento: Três níveis em subsolo destinados a estacionamentos com área de 24.000 m² para 960 veículos e 1.500 m² para apoios técnicos;
- Praça Comercial: Praça aberta e ajardinada para comércio diversificado, serviços e restaurantes, com 5.500 m² de área computável, acessível diretamente pela esplanada, pelo metrô, interligada à torre e aos equipamentos culturais;
- Torre de serviços: Edifício com 22 pavimentos, 22.900 m² de área computável, dimensionado para ser comercializado em escritórios ou hotelaria conforme posterior estudo de viabilidade. Sua configuração permite também uso misto destas funções, pois poderá dispor de acessos e circulações verticais independentes.
- Centro de eventos e cultura: Edifício de caráter público e institucional com 4.200 m² de área computável para eventos, exposições e midiateca, disposto em três pavimentos e terraço coberto com café e bookshop.
- Este equipamento de evidente interesse será um grande catalisador da renovação pretendida para o local. Da extensão de sua cobertura surge o elemento simbólico que se projeta em direção à avenida sendo visível de todas as aproximações à área-foco, principalmente pelo eixo da avenida.
- Auditório: Dimensionado para 750 pessoas, com 1.600 m² de área computável incluindo-se camarins, depósitos e demais apoios o auditório foi implantado de maneira a atender ao público em geral com acesso direto a partir da rua, a partir da praça comercial (portanto também do metrô) e ligando-se preferencialmente ao centro de eventos culturais e ao edifício de serviços.
Tanto o auditório quanto o centro de eventos e cultura, deverão permanecer de propriedade pública como retorno do investimento no empreendimento associado, no entanto a gestão destes equipamentos poderá ser pública ou privada conforme a melhor conveniência.
A estratégia para a implementação deste empreendimento baseia-se na capacidade da EMURB para realizá-la. O terreno hoje propriedade C.A.C, é considerado improdutivo, deverá ter sua utilidade pública decretada e ser desapropriado pela PMSP. Este será transferido para a EMURB que por sua vez, em conjunto com a iniciativa privada, gerenciará a execução de todo o empreendimento, em processo compatível com suas atribuições.
O resultado que caberá ao poder público será proporcional ao investimento e contribuirá para o sucesso da operação como um todo.
O Largo de Pinheiros e adjacências
Este conjunto urbano deverá receber investimentos compatíveis com a necessidade da preservação de sua identidade e sua vocação de pequeno comércio que normalmente se reciclará como conseqüência. Propõe-se:
- a melhoria da acessibilidade, a execução de calçadões nas ruas Cardeal Arcoverde (oeste), Martim Carrasco, Guaicui e Campo Alegre assim como de mobiliário urbano apropriado. Deverá ser promovida sua integração como continuidade natural do setor comercial à leste da Av. Faria Lima possibilitando sua sobrevivência. Num exercício de futurologia imagina-se ali características de "núcleo histórico", com possibilidades de desenvolvimento de lazer urbano e vida noturna.
A referência à preservação de sua identidade deve-se ao fato de que na observação dos mapas verifica-se que a única memória do bairro está na configuração e repartição fundiária das quadras S15/72, S15/73, S83/45, S83/46, S83/47 e S83/48, além da presença das ruas dos Pinheiros e Cardeal Arcoverde. Esta configuração é muito provavelmente a mesma desde a instalação do primeiro núcleo no local.
Calçada da Cidadania
O edifício situado à rua Valério de Carvalho hoje desativado e vazio (quadraS15/73) onde já funcionou a fábrica da Meridional (metalúrgica) está em boas condições e apresenta características arquitetônicas e dimensionais compatíveis. Verificou-se também a possibilidade de acessá-lo diretamente pelas ruas Claudio Soares e Butantã o que permitiria sua integração no conjunto da proposta, incluindo-o no percurso pietonal ampliado, conforme mostrado nos desenhos.
Num processo de compra/desapropriação o edifício poderá ser reciclado preservando-se suas características principais e ali seria implantado o que denominamos de calçada da cidadania:
- Equipamento público de atendimento e suporte à população cujo programa é proposto como segue:
- Postos de atendimento: Sabesp, Eletropaulo, Cohab, e concessionárias.
- Postos de secretarias: Meio Ambiente, Finanças, Educação, Abastecimento, Bem Estar Social, Esportes, Lazer e Turismo (PMSP).
- Balcões: Regional de Pinheiros (PMSP)
- Carteira de Trabalho, Carteira de Identidade, Título de Eleitor
- Polícia Metropolitana, Polícia Militar, Junta Militar, Receita Federal, Receita Municipal, Juizado de Menores.
- Posto Bancário
- Ofícios e Profissões
- Biblioteca (PMSP)
- Sala de Reuniões
- Sanitários
- Segurança e gestão
- O comércio será incentivado a se abrir para as novas vias de acesso criadas complementando o programa e a vocação local.
Mobiliário Urbano
O projeto não pretende selecionar mobiliário de bom desenho e disseminar pela área. Pretende-se o estabelecimento de núcleos a serem colocados em locais apropriados (entroncamentos de circulação pedestre, pequenas praças), núcleos estes compostos de um conjunto:
- Dois quiosques, sendo um para banca de jornal e outro para ambulantes cadastrados; bancos, lixeira, caixa de correio, telefone. Árvores de sombra e iluminação pública.
Pontos de ônibus, transbordos entradas e saídas do metrô
Os fluxos de passageiros na estação de metrô Faria Lima para o horizonte 2010-2020 estão estimados como segue:
- Estimativa de movimentação diária: 113.300 pass/dia, sendo: 55% lindeiros e 45% integrado
- Movimentação na hora de pico/manhã: embarque: 2662 pass / desembarque: 12244 pass, sendo que para os dois casos há 70% na direção Vila Sonia e 30% na direção Luz.
Com estes dados e a conseqüente diminuição do fluxo de ônibus e extinção do terminal as linhas de passagem foram reequacionadas e os pontos relocados segundo critérios:
- Proximidade de saídas do metrô;
- Acomodações maiores nos fluxos principais;
- Pontos descentralizados para os fluxos secundários
Sendo a maioria de passageiros de lindeiros, estes estarão beneficiados pela valorização das áreas pedestrianizadas.
O estacionamento previsto no empreendimento associado está dimensionado para 1.100 veículos podendo receber 200 automóveis oriundos de transbordos nesta modalidade.
O entorno. Adensamento e padrões urbanísticos
A OUFL preconiza o adensamento de toda a área definida por seu perímetro tanto na indireta quanto na diretamente beneficiada. A julgar pelo estágio atual da operação os usos mais freqüentes serão o habitacional e escritórios, respectivamente.
Na área-foco, em especial no entorno do novo largo com a redefinição dos padrões urbanísticos é desejável a fixação de gabarito intermediário e uniforme mesmo sem perda de potencial o que é possível com a ampliação da taxa de ocupação. Nas quadras citadas no item 4 acima, para a manutenção do parcelamento original como garantia de usos e da memória do bairro poderão ser utilizados instrumentos de incentivo fiscal ou transferência de potencial.
ficha técnica
Arquitetos
Tito Livio Frascino, Fernando Pires, Alexandre Stefani, Letícia Lodi, Andrea Soares e Rosa Maria Leal.
Engenheiro
Jaime Vaisman
Consultores
Engenharia de Transporte: Protran Engenharia S/C Ltda /
Instalações
Projetar Engenharia de Projetos S/C Ltda /
Estruturas
Leão & Associados Engenharia de Projetos S/C Ltda / Sistemas
Construtivos
Universal Engenharia e Construções Ltda /
Paisagismo
Arq. Sérgio Rubens Castanho Fiúza