Ruas de mão dupla
São acessos seqüenciais, entradas que se insinuam, convidam, provocam curiosidades. Alças-pontes – na Rua Carlos Gomes e Av. Bertrand Russel, caminham diretamente até a praça triangular; na porção sul do terreno, se comunicam com o antigo Instituto de Artes existente – pontes que furam o interior, atravessam-no, e se projetam para fora em vôo aéreo para o espaço do Teatro. Na Rua Elis Regina a ponte se encosta, se roça com delicadeza. Esse conjunto de acessibilidades, riscos marcantes nas superfícies, desvelam visuais inesperadas.
Não há entrada principal, hierarquias, escolhas – os rasgos são comunicações topológicas, recuperam o andar urbano, declividades e tatilidades – viram fendas no espaço interior enquanto são continuidades no exterior. São evidentes, claras, permissivas, evasivas e invasivas – o volume teatral e o edifício laboratório-escola interagem com esses fluxos, se interligam em relações biunívocas, em passagens de mão-duplas. São ruas internas, extensões do exterior, continuidades do tecido urbano.
Foyer
Surge dos acessos diretos e provocantes. É o foyer o lugar de pouso, de chegada – lugar onde a interação convidado-espectador-usuário-ator é maior. É a visibilidade, o ponto luminoso. Sua abertura e transparência o relaciona com o mundo exterior e dá ao conjunto atmosfera urbana. É varanda de contemplação – da praça exposta, do teatro em pleno ar, do edifício tênue da escola. Do urbano, da paisagem, da cidade edificada, dos caminhos propostos. Foyer superior e inferior se comunicam mutuamente com a rampa suave que se agarra ao concreto construído, dá voltas em sua pele externa, funciona como percurso contínuo – atravessando momentos de luz e de sombra.
Laboratório-escola
Edifício modular, ritmado, de calma expressividade que protege e abraça os fatos e artefatos lindeiros. O recato do desenho composto harmoniza seus sons com a dança leve e movimentada dos corredores contínuos ou truncados. Parecem respostas aos conflitos do movimento/repouso, ruído/silêncio, encontro/recolhimento. Apazigua e acolhe em seu recinto a emoção, a poesia, a teoria, o estudo, a dança – os preparativos para o cenário e a vida.
Cheio das paredes que se movem e das cortinas que se deslocam.
Das estruturas que seguram telhado ondulado, protetor, nos seus amplos beiras. Das estruturas mais interiores que carregam os pesos dos pisos, dos homens, e seguram urdimentos em salas de pé direito triplo. Das varandas que olham argutamente. Edifício atravessado pelas ruas de mão dupla, esses corpos que se projetam sobre as superfícies, transitando entre as esferas públicas e privadas.
Teatro-Laboratório
Estrutura lógica. apesar do volume sincopado e agregado de caixas piranesianas que são escadas, camarins em diversos níveis, superfícies inclinadas de projeção, foyer- rampas que comunicam visualmente diversos níveis.
Coração de todo o complexo, eixo de ligação, centro de experiências e de ensaios dessa escola viva.
Cortinas de concreto nascem do subsolo, aparecem no térreo, e sobem sustentando todas as treliças metálicas que fecham a caixa do palco, bem como ajudam no arranque das dinâmicas lajes inclinadas. Na empena norte, marcando a entrada para a Rua Bertrand Russel, o relógio de sol registra ludicamente a passagem do tempo no concreto pigmentado com óxido de ferro.
Praça-Teatro
É um híbrido de exterioridade – na sua amplidão, e acolhimento – nos seus degraus gregos moldados no chão natural. Às vezes, faz parceria com o sótão do teatro, outras com a cobertura do foyer que lhe serve de palco elevado. A generosidade e proximidade dos espaços de circulação, caminhos visuais privilegiados, acrescenta um clima de teatralidade ao movimento dos usuários, que, desde a chegada, parecem participar da cena.
Palcos móveis, campo de possibilidades
A caixa-palco 20x20, lugar cênico de diversos tipos de configurações, propõe o espaço do espetáculo – com envolvimento ou distanciamento palco/platéia. Cada espetáculo estabelece seu tempo, seu espaço e seu lugar – posição e postura do espectador e ator dentro da ação.
Espaço inconstante, intangível, mas sempre inteligível.
ficha técnica
Arquitetos
Adriana Monzillo de Oliveira, Jaime Santana Alves, Antonio Dias Neto, Márcia Macul e Nazareth Gonçalves dos Santos.
Estagiária
Adriane Lupetti