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PORTAL VITRUVIUS. Concurso de Estudantes do VII ENEPEA. Projetos, São Paulo, ano 04, n. 043.02, Vitruvius, jul. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/04.043/2376>.


"Estruturação urbana e ambiental das margens do rio Jaboatão"

Leitura da paisagem

O trabalho trata da Estruturação Urbana e Ambiental das Margens do Rio Jaboatão, que corta a área urbana do Município do Moreno. O objetivo deste trabalho foi proporcionar a reversão gradual do estágio de degradação do Rio Jaboatão e seu entorno, com foco na área central do Moreno, buscando assegurar uma melhor acessibilidade e visibilidade do mesmo. O trabalho teve como resultado uma proposta paisagística para o trecho central do Distrito Sede do Moreno, correspondente ao Setor 02, que será melhor explicado ao longo do texto.

O Município do Moreno está situado à sudoeste da Região Metropolitana do Recife, possuindo como característica ambiental marcante o fato de em seu território concentrar grande quantidade de mananciais, tendo por isto 70% do seu território dentro de áreas de proteção. Como a maioria das cidades brasileiras de porte médio, sua ocupação urbana ocorreu de forma desordenada pressionando um destes mananciais, o Rio Jaboatão que cruza a sua área urbana.

O trecho do Rio Jaboatão dentro da área urbana do Município do Moreno possui uma extensão de 4 Km, funcionando como um elemento divisor do Município, em uma porção norte, de ocupação mais antiga e sul, desenvolvida mais recentemente. Por cortar toda a área urbana, o lançamento dos despejos industriais, domésticos e do lixo urbano, no Rio Jaboatão, têm lhe causado um alto grau de poluição.

O Município em dados

  • Município: MORENO/ integrante da Região Metropolitana do Recife;
  • Área do Município: 191.30 km2;
  • População Total: 49.205 habitantes;
  • População Urbana: 38.294 habitantes;
  • Formação Histórica: Século XVII;
  • Formação da cidade do Moreno: instalação, em 1910, do Cotonifício "Societé Cotonniere Belge-Brasiliense S.A.;
  • Taxa de urbanização do município: 77,03%;
  • Vegetação predominante: Mata Atlântica;
  • 70% do Município inserido na Àrea de Proteção de Mananciais.

Em um estudo mais aprofundado o Rio Jaboatão foi dividido em 05 setores, de acordo com suas características específicas. Destes, o Setor 02 destaca-se estar paralelo ao núcleo do Município onde estão concentradas as atividades administrativas municipais e  o centro comercial. Por este motivo esta área foi selecionada para a proposta de implantação de projeto paisagístico piloto que estruture a as margens do Rio Jaboatão o Parque do Moreno.  O trecho correspondente a este setor é delimitado por duas pontes: a Ponte Fina de uso exclusivo de pedestres e a Ponte Santa Maria que serve também ao fluxo de veículos.

A ocupação da margem esquerda está caracterizada por ser o trecho onde se desenvolve o centro comercial  e administrativo do Moreno, situado na Av. Sofrônio Portela. A área rente à margem está completamente ocupada por edificações, na sua maioria de uso habitacional e perfil econômico de baixa renda. Na Av. Sofrônio Portela, estão localizados os principais equipamentos públicos como: a Prefeitura do Município, o Mercado, o Fórum e a Estação Ferroviária, símbolo para o Município do Moreno devido a sua importância histórica, entre outros equipamentos que dão ao local a característica de Centro Urbano. Neste trecho a visibilidade do Rio é prejudicada devido à conturbação de edificações.

A margem direita também se encontra ocupada por edificações. seu acesso é realizado pela Rua Moacir Campelo que percorre, em paralelo todo o curso do Rio neste setor,  oferecendo uma vista privilegiada deste trecho do Rio Jaboatão. Pode-se desfrutar da natureza, pois as poucas construções não dificultam a visão, diferentemente das que são vistas na margem esquerda do Rio.

As águas do Rio Jaboatão, a partir deste trecho, encontra-se no ápice de sua poluição, pois o rio vem sendo utilizado como depósito de resíduos sólidos. Ainda assim a população utiliza a água para os mais variados fins, como: banho, lavagem de roupa, preparação de alimentos, pesca, lazer, etc. Mesmo com toda ocupação desordenada e apesar da poluição, ainda encontramos beleza natural e construída no Setor 02.

Neste trecho do Rio ocorrem algumas constituições rochosas que embelezam a paisagem natural, e uma pequena represa localizada próxima a Ponte Fina. Por ser o Centro Comercial e, conseqüentemente onde se encontra a maior diversidade de ocupações, mesclando o uso habitacional, em predomínio, com o comercial, apresenta um dinamismo e efervescência das atividades humanas, bastante interessante e necessária à cidade. A falta de planejamento e de controle urbano permitiu uma ocupação desordenada, somado a isto a concentração de serviços, comércio e equipamentos públicos, neste trecho, ao longo do tempo sobrecarregaram a estrutura, fazendo com que seja o trecho onde se concentra uma certa desordem urbana, característica recorrente em cidades desse porte.

Potencialidades

  • Rio Jaboatão, grande potencial natural;
  • Abundância de espaços livres potenciais nas margens do Rio Jaboatão;
  • Ambiente municipal propício ao turismo ecológico.
  • Importantes eixos viários dando acessibilidade ao município e à área central.
  • Presença de relevante patrimônio histórico edificado, representado por sedes de engenhos, Estação Ferroviária (1883), predominância de casario do início do século passado.
  • Beleza arquitetônica do centro histórico, com edificações em estilo eclético.
  • Diversos equipamentos localizados na área central:  Prefeitura, Mercado Público, etc.

Problemas

  • Poluição pelo lançamento direto de dejetos;
  • Contaminação hídrica pelo uso de agrotóxico, a jusante do rio;
  • Ocupações irregulares e desordenadas nas margens e áreas de várzea do rio;
  • Comprometimento da acessibilidade e visibilidade do Rio Jaboatão em função da ocupação;
  • Assoreamento do rio em função da retirada de matas ciliares;
  • Baixo índice de arborização na área central da cidade do Moreno;
  • Carência de espaços públicos de lazer;
  • Falta de tratamento paisagístico, no centro de Moreno, com déficit de áreas verdes;
  • Espaço complexo pela concentração de diversos usos e pela desorganização urbana encontrada;

Proposta paisagística para o  Parque do Moreno

Uma análise mais aprofundada da área de estudo demonstrou ser necessário alargar a área de intervenção, estendendo-se da margem até o centro propriamente dito. A paisagem do centro é caótica e árida. Caótica - pois a área central do Moreno encontra-se hoje desestruturada por uma ocupação desordenada. O aspecto mais gritante desta problemática recai no sistema viário que se encontra saturado. A via principal, a Av. Sofrônio Portela possui apenas duas faixas de rolamento, com fluxo nos dois sentidos, gerando um conflito entre ônibus e veículos particulares. As calçadas estreitas, por sua vez, não dão conta do fluxo de pedestres. Árida - pois a área central possui poucos espaços vegetados, restringindo-se a praça da bandeira, ao entorno da catedral e a escassa arborização urbana remanescente de uma intervenção do início do séc. XX.

A partir do levantamento e análise da paisagem da área objeto de estudo e da identificação das principais problemáticas e potencialidades foram traçadas as diretrizes que funcionarão como eixos – guia da proposta:

  • resgatar o Rio Jaboatão para a paisagem do centro do Moreno;
  • ordenar a ocupação das margens do Rio Jaboatão;
  • melhoria da qualidade das águas;
  • ampliar a oferta de áreas de lazer;
  • criar um espaço de amenização urbana para o centro;
  • ordenar a ocupação das áreas livres do centro;
  • reestruturar o sistema viário.

A proposta parte da consideração do espaço público como estruturador do espaço urbano, como base projetual a partir do qual os demais espaços se articulam. É através dele que se busca resgatar a identidade do cidadão para com sua cidade.

O partido adotado para o projeto do Parque do Moreno foi resgatar a visibilidade do Rio Jaboatão para o centro da cidade, criando uma área de amenidade paisagística e ambiental para o caos urbano atual. O projeto foi organizado em duas áreas complementares, marcadas pela diferença de cota de nível de 1,5m (um metro e meio).

A primeira, cota zero, é mais voltada para o centro e tem por objetivo estruturar o sistema viário e as diversas formas de apropriação do espaço público identificados na análise (estacionamento, barracas de comida, palco para apresentação).

Mostrou-se ser necessário estender a área de projeto à Av. Sofrônio Portela, que se encontra atualmente saturada em sua capacidade viária e suas estreitas calçadas geram conflitos entre pedestre e veículos. Outro problema observado foi em relação às área livres existentes, que são ocupadas desordenadamente por estacionamento e barracas de comercio. O novo desenho viário visa ordenar o fluxo de veículos dividindo-o em duas calhas de sentidos opostos. Na área central foi proposto um ordenamento do estacionamento, agora com local para ônibus, divididos em dois bolsões.

No trecho escolhido o fluxo de pessoas aumenta à medida que de aproxima do centro da área e o partido paisagístico adotado refletiu esta dinâmica. As bordas receberam um tratamento que contempla espaços mais ajardinados e mais relacionados com as edificações do entorno imediato, de um lado o palco do Espaço Cultural Zazart Gomes e do outro lado uma área de jardim e quiosque para os comerciantes se encontrarem e/ou descansarem.

À medida que se aproxima do centro, passam a predominar os espaços pavimentados. O uso do Piso Intertravado está caracterizado em toda as calçadas, nas áreas de convívio, nas rampas, em uma parte do playground e nas escadas. A escolha do piso utilizado visou manter a permeabilidade do solo. Neste trecho, a vegetação fica limitada ao extrato arbóreo, onde buscou-se características como adaptabilidade às condições físicas e ambientais, resistência e pouca necessidade de manutenção.

A Estação Ferroviária foi tratada com um espaço foco do complexo do parque, concentrando um ponto para informações e distribuição do fluxo turístico bem como um memorial da história do moreno.

A segunda área, cota -1,5m, corresponde a margem do rio propriamente dita. Onde predominam os espaços vegetados, o solo foi deixado no natural e a vegetação escolhida foi locada a partir dos pontos de visada do Rio Jaboatão. A área corresponde a antigos quintais onde já existem algumas vegetações, por essa condição o extrato arbóreo foi mantido, se inserindo vegetações complementares. Na vegetação adicionada estão incluídas predominantemente espécies florísticas, marcando a nova vegetação a partir da cor.

O acesso a esta área de convivência é feita por duas rampas, duas escadarias e duas pontes, que ligam o lado norte e o sul do Distrito do Moreno.  O desnível foi tratado através de um taludamento feito com material que permite a drenagem natural do solo (gabião) e a colonização por espécies vegetais. Nas margens do Rio que constituem as bordas da área de convivência foram colocadas barreiras vegetais com plantas aquáticas em uma cota mais baixa, dentro do leito do rio, e um taludamento com material semelhante recebeu o tratamento do desnível entre a cota zero e a cota –1,5m.

Próximo a uma das pontes, que ligam o Parque do Moreno ao lado sul do Distrito, foi implantado um sistema de filtragem das águas através de barragem com plantas depuradoras. Essa barragem impede que os resíduos sólidos se espalhem pelo Rio Jaboatão, e por sua vez permite que estes possam ser coletados. As plantas processam através de suas raízes a maior parte dos resíduos químicos, diminuindo a fertilidade da água e controlando a proliferação de algas nocivas. Esta ponte passa dentro do jardim aquático resultante da configuração do filtro e se articula com o sistema viário da margem sul.

O local escolhido para a situação procurou favorecer, entre outros fatores, a visualização da pequena represa existente no local, que testemunha a origem industrial do município.

Área objeto de estudo

Área Objeto - Setor 02 (aproximadamente 1.800 m2);

Características gerais da área objeto - trecho urbano, integrante da área central do Moreno.

Proposta paisagística – o Parque do Moreno

  • Estruturação urbana, onde se insere a proposta paisagística com implantação do Parque do Moreno, com tratamento paisagístico nas margens do Rio Jaboatão;
  • Introdução de várias espécies de vegetação, intercaladas por caminhos de pedestres, de forma ordenada, permitindo desenhos harmoniosos;
  • Áreas para exposições e outras destinadas ao lazer contemplativo;
  • Estruturação urbana e viária, do trecho entre o Espaço Cultural Zazart Gomes e a Praça da Bandeira com criação de binário viário;
  • Sistema viário ampliado, com abertura de vias, disciplinamento de tráfego, programação de retornos e re-direcionamento de vias existentes;
  • Oferta de estacionamentos, próximos aos equipamentos existentes, de forma ordenada;
  • Estacionamentos para ônibus permitindo interações com as ofertas de excursões;
  • Ampliação da calha das Pontes Santa Maria e Ponte Fina, esta passando de pedestre a veículos;
  • Relocação de edificações existentes nas margens do Rio Jaboatão, permitindo acessibilidade e visibilidade, para melhor uso.

Piso e vegetação propostos

01 - CATHARANTHUS ROSEUS - "Boa Noite": Arbusto semi - herbáceo de 30 a 50 cm de altura e com flores róseas, brancas e brancas com o centro rosa. Utilizado nos canteiros em formato de escadaria, na descida próxima para a área de convívio.

02 - TECOMA STANS - "Ipê de Jardim": Árvore pequena ou arbusto muito variável, de 3 a 6 m de altura. Utilizada nos canteiros próximos a Estação Ferroviária.

03 - DURANTA REPENS LINN AUREA - "Pingo de Ouro": Arbusto lenhoso, de 1 a 1,5 m de altura, de ramagem densa e ornamental. Vegetação utilizada para a ornamentação dos canteiros próximos a Estação Ferroviária.

04 - CAESALPINIA PULCHERRIMA - "Flamboyanzinho": Arbusto lenhoso com 3 a 4 m de latura. É empregado na arborização de parques, jardins e ruas, no caso do Parque do Moreno corresponde a arborização de todas as calçadas.

05 - PASPALUM NOTATUM - "Grama - mato - grosso": Herbácea perene, nativa do Brasil e de 15 a 30 cm de altura, bastante cultivda para gramados por sua resistência ao pisoteio. Grama utilizada como forração para todos os canteiros do Parque do Moreno.

06 - IRIS PSEUDACORUS - "Flor de Lis - amarelo": Herbácea de 1 a 1,3 m de altura, deve ser cultivado em locais com alta como margens de pequenos rios. Utilizada na extremidade da margem, em pequenos trechos entre as pontes de pedestre projetadas para o Parque.

07 - IPOMOEA ALBA - "Boa Noite": Trepadeira semi-herbácea, nativa da beira de rios e apropriadas para utilização em parques e jardins. Foi colocada nos muros lateraias das casas que limitem a área de convivência do Parque.

08 - MONTRICHARDIA LINIFER SCHOTT - "Aninga Açu": Arbusto de textura semi - herbáceo, aquático e nativo da Região Amazônica, de 1 a 3 m de altura. Trecho das margens do Rio Jaboatão entre as pontes de pedestres projetadas.

09 - PERISTROPHE ANGUSTIFOLIA NEES - "Pingo de Ouro": Herbácea perene com 20 a 40 cm de altura e de folhagem densa e decorativa. Utilizada nos 2 canteiros próximos ao Rio Jaboatão, localizados da área de convívio.

ficha técnica

Escola
FAUPE – Faculdade da Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco

Local
Recife

Orientadora
Luziana Medeiros

Autora
Patricia Marques Cavalcanti

Título
Estruturação Urbana e Ambiental das Margens do Rio Jaboatão

Período
10º período / junho de 2004

source
Aluna premiada
Recife PE Brasil

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Organização
Belo Horizonte MG Brasil

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