Análise
Porto Alegre é uma cidade de extremos – a temperatura pode variar até 20º durante o ano. O verão, quente e úmido, é muito intenso: os habitantes suam, e o suor grudado no corpo não consegue evaporar, devido à alta umidade. Já o inverno, rigoroso, provoca frias noites nos meses de maio a julho, forçando os gaúchos a investirem nos chás.
Observando a análise para estratégias de projeto do método Givoni, percebe-se que apenas 19,1% das horas dos meses do ano estão na zona de conforto, enquanto que a maioria, 55,2%, necessita de ventilação (devido a se tratar de clima quente e úmido). Somada a essa situação, outras 14,2% das horas precisam de ar condicionado, pois somente a ventilação não segura a sensação de desconforto gerada pelo calor. Em contrapartida, 11,8% das horas precisam ter o calor recebido conservado, seja através do próprio corpo ou da massa dos materiais que o envolvem (inércia).
O mês mais quente do ano é janeiro, registrando temperatura média de 24,6ºC, com umidade relativa de 71%. O mês mais frio, junho, registra média de 14,3ºC, com umidade de 82%. Nos meses quentes do ano (outubro a abril), o vento predominante em Porto Alegre, quente e úmido, sopra num ângulo de sul a sudeste. Nos meses frios do inverno (maio a setembro), o vento predominante vem de oeste, frio e úmido.
O lote proposto fica próximo à rodoviária e ao Rio Guaíba. É uma grande área de 10300 m², cujos fundos dão para um outro terreno baldio. A proximidade com avenidas de intenso trafego gera níveis de ruído que podem incomodar os habitantes. No verão, o terreno recebe o vento por sudeste – este passa pela cidade, ganhando calor com o asfalto, a massa das construções e a poluição, indo em direção ao Rio Guaíba. No inverno, recebe o vento frio em oeste, que sopra do rio em direção à cidade.
Programa
O edifício, um albergue estudantil, foi pensado de maneira a aproveitar o máximo possível a ventilação natural, já que, de acordo com o método Givoni, esta deve ser a principal estratégia para proporcionar conforto térmico aos usuários.
Para isso, o albergue foi separado em dois blocos suspensos – um de habitações coletivas (6 pessoas) e outro para casais, com as janelas dos quartos orientados para o norte, e o corredor de acesso, a sul. Há um desnível de 1,5m entre eles, para que um conjunto não obstrua o outro, criando ambientes diversificados no térreo. Os blocos são interligados por rampas na fachada leste, permitindo assim abrir o átrio central para o vento do verão, de sopra de sudeste a sul. O entorno do edifício é composto de árvores, para que estas resfriem o vento advindo do centro da cidade. Para a proteção contra o vento do inverno, fechou-se uma empena de concreto-armado na fachada oeste, sendo esta internamente revestida com painéis de cerâmica, isolando o ambiente do calor externo.
A solução adotada para conforto nas habitações prevê que os quartos não tenham a fachada sul obstruída pelos banheiros, permitindo assim uma ventilação cruzada em ambos os cômodos. Para tal, as duas fachadas têm amplas janelas. Para se proteger do sol intenso do verão, há soluções específicas para cada bloco. Nas habitações coletivas, as janelas estarão voltadas para o exterior. A cobertura então (uma laje sanduíche isolante) se projetaria até formar um ângulo de 45º com a abertura, barrando o sol do verão e permitindo o sol do inverno (vide carta solar). Para a proteção das habitações de casal, que têm as janelas voltadas para o átrio do albergue, foi pensada uma cobertura composta por chapas metálicas duplas isolantes, que barram grande parte do calor recebido. Essas chapas também formam ângulos de 45º, de modo que somente o sol de inverno penetre no interior do albergue e nos quartos. Para que não haja perda do calor recebido durante o dia nos meses frios, os vedos das habitações são de tijolos de solo-cimento dispostos transversalmente, de modo a aumentar a espessura (25 a 30cm) e garantir uma grande massa térmica.
O átrio interior se configura como um grande espaço de encontro, onde os estudantes poderão trocar diversas experiências. Para tal, pensou-se em um local confortável para permanência, tanto nos dias quentes quanto nos mais frios. Para vencer o calor, o átrio será amplamente ventilado, sendo também protegido do sol e da chuva através da cobertura de sheds. Os painéis inclinados são de metal sanduíche, enquanto que as vedações são de vidro verde 6mm. A ventilação se dá pelas laterais da cobertura. Ainda assim, há a possibilidade de se plantar árvores no interior, garantindo mais sombra. Para guardar o calor, nos dias de inverno, os painéis laterais (portas pivotantes) poderão ser fechados, interrompendo a ventilação. Com isso, se segura o aquecimento provocado pela radiação solar direta, que passa através dos sheds.
O programa prevê ainda cozinha e refeitório no pavimento inferior ao das habitações coletivas. Com isso, se ganha um espaço arejado, amplo e iluminado para as refeições, sem perder o contato com o átrio.
ficha técnica
Título
Albergue da Juventude – Edifício Bioclimático para Porto Alegre
Instituição
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – Brasil
Autores
Amer Moussa, Juliana Maggiore e Paula Coyado
Orientador
Profa. Denise Duarte
Colaboradores
Marcella Áquila, Marcia Alucci, Joana Gonçalves, Fernando Cremonesi, Anna Christina Miana, Cecília Mattos Mueller, Leonardo Monteiro, José Ovídio Ramos