O Projeto de Paisagem desenvolvido para a Cidade de Canela trata de articular unidade e identidade espaciais através do reconhecimento dos potenciais urbanísticos presentes nesta localidade, confrontados ao Programa de Necessidades organizado neste concurso, promovido pelo IAB-RS.
Torna-se imperativo a criação de um nexo arquitetônico-urbanístico que permita conciliar o programa à paisagem, e esse nexo se faz refletir em diversas escalas de aproximação a serem examinadas.
Em três momentos notáveis do percurso citadino, dispostos numa espécie de eixo, ocorrem elementos verticais que dominam perspectivas. A Catedral de Pedra - existente - é um deles, referência arquitetônica da Cidade de Canela. As novas verticalidades propostas surgem na qualidade de Mirantes, emblemas iconográficos do pólo sócio-cultural da Praça João Corrêa e do Portal da Cidade propriamente dito. Concebidos sob uma linguagem arquitetônica comum, tais mirantes oferecem ao visitante e ao cidadão elos de leituras urbanas. O Portal da Cidade, mais do que se restringir à sua função mesma, antecipa perspectivas familiares àqueles que se deslocam através da paisagem urbana.
A re-estruturação do sistema viário foi dirigida de modo estrutural. A adoção do sistema binário de ruas e avenidas, projetado para a área central da cidade, é resolvido conjuntamente a um circuito de ciclovias que reside na mesma malha urbana. A utilização das ciclovias, para além de um uso meramente alternativo, ou típico, participa intensamente das possibilidades de deslocamento urbano, nos moldes do que já foi implementado em diversas cidades européias.
A proposta apresentada prevê a substituição do sistema aéreo de rede elétrica-telefonia por uma solução subterrânea. O investimento inicial, embora relativamente dispendioso em termos financeiros, ao longo do tempo dilui-se, principalmente se considerarmos o ganho adquirido em termos paisagísticos e ambientais. O modelo atual de rede aérea implica em significativa poluição visual e, por mais acertada que seja a escolha das espécies de arborização urbana, as interferências indesejáveis entre tais elementos raramente são evitadas por completo.
A área que compreende a Praça João Corrêa e o Pólo Histórico (situado junto à Antiga Estação Férrea e a Casa de Pedra), foi desenvolvida buscando um sentido de totalidade, projetado através da criação de um eixo transversal de paginação de piso.
Dada a intensa utilização do local, especialmente durante eventos e festividades presentes na agenda anual de Canela, o projeto desenvolvido para a Praça João Correa é estabelecido a partir deste ponto de vista cívico. Em função desta qualidade de uso, o plano de piso da praça e os canteiros foram inteiramente redesenhados, permitindo assim uma maior permeabilidade de deslocamentos, longitudinais e transversais. Abre-se uma generosa extensão de piso na área situada junto ao Teatro Municipal: espaço livre destinado a uma maior confluência de pessoas. Um outro acesso importante a esse setor faz-se presente por uma ampla curvatura da paginação de piso que atravessa a praça longitudinalmente. Esse gesto trata de articular os espaços livres da praça, ao mesmo tempo em que caracteriza seu partido arquitetônico.
Enquadrando o ponto de fuga da praça temos o complexo Mirante-Teatro Aberto, locados lateralmente ao Teatro Municipal existente. Pretendeu-se com isso gerar um espaço unificado entre tais construções. O Teatro Aberto projetado é resolvido por empenas de pedra e por uma cobertura pergolada em madeira, sustentada por grelha de vigas e pilares metálicos. Essa solução estrutural é estendida ao projeto do Mirante, este munido de elevador central e conjunto de escadarias. Os ripados de madeira presentes nas novas edificações se expandem em direção ao Teatro Municipal existente, contribuindo assim para a obtenção de unidade espacial. O Teatro Aberto foi concebido de modo a oferecer diversas qualidades de uso. Sob a cobertura pergolada foi prevista a possibilidade de instalar uma cobertura tensionada passível de ser retirada conforme especificidades de cada evento. Desta maneira é possível viabilizar diversas alternativas de uso, de concertos musicais às feiras e festividades. Contornando tal edificação foi locado um espelho d'água que encerra a composição do conjunto, bem como agrega mais um elemento natural à praça em geral, presente também em aspersores verticais pontuais, posicionados em linha.
A vegetação arbórea existente na Praça João Corrêa foi mantida em sua maior parte. Foram preservadas a totalidade de espécies nativas, sendo eliminadas apenas alguns indivíduos exóticos conflitantes com o projeto em questão. Nas situações em que a localização das árvores coincide com o piso seco, foram executadas aberturas devidamente proporcionadas para o crescimento natural das espécies e para o não comprometimento físico do trajeto. Toda nova vegetação proposta será especificada considerando-se a adoção de espécies nativas. Nos canteiros entre pisos está prevista a utilização de forrações baixas. Procuramos restringir a utilização de arbustivas de modo a garantir a continuidade visual do espaço. Em pontos específicos da paginação de piso foram dispostos maciços de pedras naturais. Este detalhamento se remete, numa leitura indireta, à condição geográfica em que Canela se insere, região montanhosa e basáltica.
Nas proximidades do passeio em placas de concreto foi locado o Jardim Infantil. Novamente utilizamos uma forma orgânica, no caso uma curvatura menor que identifica o espaço, viabilizada por pilaretes de eucalipto que evoluem em altura na medida em que a curva é descrita. Internamente ao Jardim Infantil serão utilizados brinquedos também construídos por toras de eucalipto tratado. O piso previsto para este espaço é em areia lavada.
Em ponto intermediário da grande curvatura da praça foi locado o Picadeiro de cobertura tensionável removível. O piso do Picadeiro é resolvido em forma elíptica, destacado 10cm acima do plano geral da praça. Uma vez ausente a cobertura, o Picadeiro se mantém através dessa diferenciação de piso, acrescentando mais um detalhe na composição espacial. Na esquina da Rua Prefeito J. Alfredo e Avenida Júlio de Castilhos foram implantadas novas espécies arbóreas de maior porte. Reservamos sob tal dossel um espaço destinado a mesas e bancos, onde é possível realizar jogos de tabuleiros, carteados, ou atividades afins.
O Pólo Histórico é pensado dentro de uma visada arquitetônica vernacular, típica. As novas construções presentes neste largo - Espaço do Colono/Artesão e Sanitários Públicos - foram volumetricamente projetadas respeitando características de seu entorno. Ingressando através do Pólo Histórico, organizamos um pequeno Centro Comercial, onde estão localizados os Sanitários Públicos. O Termômetro existente também foi transferido para cá, na entrada do largo. De um ponto de vista geral as edificações foram aqui implantadas de modo assimétrico, em referência a tecidos urbanos medievais.
ficha técnica
Autores
Arq. Leandro Rodolfo Schenk
Arq. Luciana Bongiovanni Martins Schenk
Colaboradores
Arq. Daniel Morais Paschoalin, Arq. Matheus Rosada