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PORTAL VITRUVIUS. Concurso para o Paço Municipal de Hortolândia/SP. Projetos, São Paulo, ano 06, n. 072.03, Vitruvius, dez. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/06.072/2742>.


Jardim do Paço Municipal / Horto da Concórdia

O jovem município de Hortolândia caminha na contra-mão da história: nasceu grande, rico, porém sem referência e sob o estigma da violência. Seu nome, que instintivamente pode sugerir uma coleção de hortas ou um derivativo de Horto – jardim em latim – tem sua origem no sobrenome de um industrial, João Ortolan, empreendedor do Parque Ortolândia – primeiro loteamento da região, que ao ser apropriado como nome da cidade ganhou um “H”, não se sabe ao certo, se por sofisticação, numerologia ou equívoco do escrivão.

Mesmo diante dessa imprecisão ou confusão, o nome de Hortolândia nos instigou e, na falta de melhores referências, passamos a considerá-lo como um dado relevante para o projeto, especialmente depois que visitamos o local – um grande pasto, porém sem rebanho, que nenhuma pista nos ofereceu. O centro da cidade, que do local, só se avista um longínquo skyline, e à medida que nos aproximamos, constitui um inexpressivo aglomerado de ruas e construções, que cruzamos sem nos darmos conta de onde começa ou termina a área urbana. Daí vislumbramos a justificativa para um projeto de tal envergadura, cuja implantação tão afastada, não prioriza o núcleo existente e solicita um novo centro, que certamente acredita-se com poder de recriar a região.

Assumimos, então, a tarefa de transformar a concretude real numa ordem espacial, criando através da arquitetura uma nova paisagem, que intensifique o caráter desse lugar. Segundo Einstein: “lugar é uma pequena porção da superfície da terra que se pode identificar por um nome.” O nome, ainda que por engano, já tínhamos: Hortolândia. E influenciados pela topografia, pela ausência de uma paisagem natural exuberante e pela diversidade do programa, optamos pela criação de um amplo jardim/ horto / parque, que acolheria todas as funções e atribuiria significado ao nome. Um parque como indutor de desenvolvimento para essa região, nos pareceu o mais adequado.

Adotamos como partido, a premissa de revelar a natureza utilizando a paisagem, através de uma arquitetura que brota da terra, de edifícios que se fundem com o terreno, como um solo vivo que se abre à busca da luz natural e acolhe distintos usos, proporcionando às pessoas lugares arquitetônicos que as façam sentir a presença da natureza, buscando encontrar mais um limiar do que uma fronteira entre natureza e arquitetura.

Quanto ao programa, um Paço Municipal centralizador dos três poderes, aos moldes racionalistas mais precisamente brasiliense, que serviu de base para o desenvolvimento urbano brasileiro a partir do concurso da nova capital, hoje já bastante questionável enquanto modelo, achamos que temos o dever de interpretá-lo à luz das questões contemporâneas. A fragilidade das instituições públicas e a desarticulação da força coletiva estão a demandar uma retomada da sociedade à ação, responsabilizando-se por zelar pela boa conduta de cada um dos poderes e de garantir a harmonia entre eles. Entendemos que o equilíbrio do projeto não se resume apenas em estabelecer a concórdia entre as várias funções, mas submetê-las à sociedade, que assumimos como o quarto poder. Nosso desafio consistiu em representar essa idéia, buscando uma lógica que impregnasse o todo, ao mesmo tempo, que estabelecesse uma unidade ao conjunto, permitisse uma fácil legibilidade dos vários itens do programa. Daí a escolha de um parque democraticamente aberto à população.

Os prédios

A padronização do sistema estrutural e dos componentes construtivos visa à simplificação do canteiro de obras, bem como a diminuição dos custos. Assim o projeto buscou uma estrutura regular, mas que abriga exceções enfatizando as diferenças do programa. Os edifícios têm lajes e painéis de concreto alveolar pré-fabricados com malha estrutural de 8x12m, mas o térreo tem seus pilares espaçados através de uma transição para formar o portal de entrada que dá acesso à praça. Também o auditório e o gabinete do prefeito têm vãos maiores e pé-direito duplo. Formam volumes que se projetam em balanço permitindo reconhecer sua presença em meio ao programa uniforme das secretarias.

Os edifícios foram implantados buscando a melhor orientação, com uma entrada de luz entre o bloco de serviços e o bloco de escritórios, criando um grande atrium que interliga o prédio verticalmente. As fachadas foram tratadas de modo a controlar a incidência solar, com brises e painéis fixos de concreto. Os brises também buscam encontrar a variação dentro da repetição. Assim foram desenhados brises de concreto celular com diferentes espaçamentos e profundidades, mas sempre cortando os raios solares acima de 45º.

O projeto

Buscamos uma dinâmica relação entre as áreas verdes, os edifícios e os terraplenos, tentando configurar um edifício que é parque, um parque que é edifício. Apesar de o terreno possuir pequena pendente, o projeto se aproveitou das grandes dimensões do terreno e do programa para criar patamares formando desníveis de 4m de altura. O patamar superior relaciona-se diretamente com a estrada e abriga os prédios da prefeitura e a ampla praça cívica. O patamar intermediário abre espaço para o Fórum e a Câmara, e o último patamar, que acolhe o centro cultural, alcança o nível da avenida projetada. Os patamares formados por um misto de terraplanagem e laje nervurada acomodam-se ao terreno natural através de rampas suaves. Assim forma-se um todo integrado que permite o caminhar através dos vários níveis, interligando as duas avenidas de acesso. Ao mesmo tempo fica criado um zoneamento sutil que separa as diferentes atividades e permite entradas independentes. Para completar, duas rampas helicoidais formam atalhos rápidos entre os níveis. Os patamares obedecem a uma malha estrutural de 8x8m, com exceções do plenário e teatro que requerem vãos maiores. Estão cobertos por uma laje nervurada de 40cm com camadas de impermeabilização, drenagem e substrato de terra e grama.

As plantas foram concebidas visando ampla flexibilidade no arranjo das várias funções, de modo a possibilitar não só a ocupação em diversas etapas, segundo determinação do edital, mas as inevitáveis mudanças que qualquer programa está sujeito numa época em constante transformação. Numa primeira etapa, previmos a implantação do parque, a execução do patamar superior e o bloco da prefeitura que abriga o gabinete do prefeito e as secretarias. Mais tarde os demais patamares podem ser acrescentados um a um.

ficha técnica

Equipe
Arq. Leda Brandão de Oliveira, Arq. Mônica Junqueira de Camargo, Arq. Roberto Alves de Lima Montenegro

Cálculo estrutural
Sergio José Brandão de Oliveira

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Equipe premiada
São Paulo SP Brasil

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072.03 Concurso
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original: português

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IAB-SP
São Paulo SP Brasil

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