IntroduçãoO projeto para o Teatro de Londrina busca responder às seguintes premissas:
1 – a potencialização das características do sítio, através da apropriação da variação da topografia para equacionar as demandas de uso, e da criação de amplos espaços abertos que reforçam seu caráter público, monumental, e a sua abertura para o espaço urbano, tanto na frente para a Rua Attílio Octávio Bizato em que a suave inclinação da praça gramada permite a realização de grandes eventos ao ar livre, como nas interfaces com o novo parcelamento do Marco Zero, que permite um contato mais cotidiano com os futuros empreendimentos que ali se implantarão.
2 – a máxima racionalidade na organização de acessos, fluxos e demarcações territoriais, com clara distinção entre os domínios do público – espaços com acesso livre, como saguão, café, bilheteria, espaços de comércio, exposições e espaços didáticos – dispostos no pavimento inferior, de acesso; do semi-público – espaços com acesso controlado, como foyer e salas de espetáculos – dispostos na face sul, no segundo pavimento; e do privado, com acesso restrito - caixas cênicas e áreas técnicas, camarins, oficinas, depósitos e carga e descarga, dispostos no segundo pavimento e organizados em um só nível, na cota dos palcos, com circulações independentes do público.
3 – a qualificação dos espaços para o uso e para fruição estética em toda a extensão do complexo, desde as áreas abertas e espaços de recepção de público – praças externas, saguão, foyer – como nos espaços cênicos – tratamento plástico dos elementos cênicos e acústicos das salas de espetáculo – e também nas áreas técnicas, didáticas e de apoio, partido da premissa que tanto visitantes como os profissionais que ali trabalham devem usufruir de espaços ambientalmente bem resolvidos, para além da funcionalidade.
4 – o estudo detalhado das especificidades de uso relativas à cenografia, de modo a potencializar a maior diversidade de usos e combinações entre os diversos espaços cênicos do edifício, ampliando o potencial de conformação de espaços não-convencionais através da integração física entre as caixas cênicas de cada uma das salas, assim como entre seus respectivos foyer’s.
5 – a qualificação acústica de todos os ambientes, com especial cuidado nos espaços cênicos, em que o estudo de acústica contribui para a definição de suas características físicas e dimensionais, atuando no âmbito do conceito inicial da geração do espaço e não apenas como corretivo através da aplicação onerosa de materiais. Esse cuidado comparece também na conformação do volume e da proporção entre as dimensões das salas de aula e ensaio de modo a assegurar o melhor desempenho acústico com a aplicação mínima de materiais especiais, o que também equaciona as áreas de grande afluência de público, minimizando a reverberação excessiva e reforçando a qualificação dos espaços tendo em vista a sua desejada fruição estética, compreendida não apenas na instância visual, mas sensorial e física.
6 – a diferenciação construtiva e formal entre o conjunto dos espaços cênicos – com estrutura industrializada em perfis metálicos e vedações com absoluta estanqueidade acústica – e os espaços técnicos e de público – com estrutura semi industrializada, em sistema misto de pilares metálicos e lajes protendidas ou nervuradas – de modo a conferir a cada tipo de espaço a melhor qualificação construtiva com o menor custo conforme as diferentes demandas quanto às alturas livres, isolamento térmico e acústico, regularidade ou variedade espacial.
7 – a adoção de sistemas construtivos, elementos de vedação e proteção e disposições espaciais virtuosas quanto ao desempenho energético e economia de recursos, tanto na etapa da construção quanto ao longo da vida útil do edifício.
O sítio: implantação e acessos
Partindo do reconhecimento das características do lugar, optou-se, conforme recomendado pelo Termo de Referência, em abrir a frente pública do terreno em toda a sua extensão como acesso ao público, reforçando sua continuidade com o espaço urbano pela conformação da praça gramada que convida ao acesso. Para evitar obstruções visuais e físicas indesejáveis neste trecho, o acesso ao estacionamento foi disposto na lateral leste do terreno, junto ao futuro empreendimento vizinho, e a sua saída na porção oposta, em conjunto com o acesso único ao pátio de serviços e carga e descarga, em porção menos visível do terreno devido à existência do talude frontal que, acentuado com a estratégia de implantação proposta, permite ocultar as áreas de apoio. Pela mesma razão, localizou-se o estacionamento descoberto na face leste do terreno, implantado na cota da via interna do empreendimento, portanto rebaixado em relação à cota do acesso principal, o que minimiza o impacto da sua visualização e amplia a visibilidade das copas das árvores previstas para o seu sombreamento, finalizando o conjunto com uma massa verde complementar à praça gramada. Complementam essa área os estacionamentos destinados a artistas e funcionários, junto à ‘stage door’ – acesso lateral que permite um contato cotidiano entre as áreas técnicas e didáticas e os futuros empreedimentos do Marco Zero -, e os estacionamentos cobertos, abrigados por sob a praça gramada, em cotas inferiores ao acesso de pedestres. Organizados em dois níveis interligados por rampa, que permite uma continuidade de percurso e a recirculação, conectam-se tanto com as áreas externas que antecedem a entrada de pedestre a leste como com a área interna do saguão, gerando uma afluência variada de público que alimenta o principal espaço de acolhimento em diversos e distintos pontos de acesso.
O principal acesso de pedestres se faz por uma suave rampa descendente cujo ponto de partida coincide com a chaminé preservada, principal marco vertical do conjunto. Um segundo acesso acontece em uma fenda na qual se implanta uma escada rampa, sob o plano inclinado lateral do volume do grande teatro, de modo a reforçar a oposição entre os dois elementos principais do conjunto.
Os dois principais acessos de pedestres convergem para as extremidades leste e oeste do saguão. Com isso, assegura-se sua vitalidade evitando aglomerações indesejáveis em um dos lados. Essa disposição de acessos favorece ainda a distribuição equilibrada das diversas atividades ao longo da linearidade do saguão, caracterizando cada um de seus trechos e individualizando entradas para as diferentes salas, área de café, chapelaria, conexão com exposição e áreas didáticas e, na extremidade oeste, bilheteria.
Saguão e Foyer se desdobram em suaves planos inclinados e em dois níveis distintos, de modo a favorecer a clareza de fluxos e controle, bem como para proporcionar uma maior variedade de espaços qualificados para a atuação social do ver e ser visto no teatro.
Usos e articulações funcionais: gradações entre o público e o privado
A partir da organização em dois níveis principais de uso, buscou-se a máxima independência, clareza e legibilidade dos fluxos tanto de público como de artistas e técnicos. Essa diferenciação em nível permitiu caracterizar os espaços que demandam controle de acesso sem comprometer a fluidez e a abertura ao público do saguão, que atravessa todo o conjunto e permite aceder às áreas didáticas ao nível térreo.
Para isso, todos os apoios e serviços – sanitários, café, chapelaria, escadas e plataformas de percurso vertical – foram concentrados em um único bloco utilitário que, por sua localização centralizada, diferencia saguão e foyer da grande sala no nível de chegada, e setoriza os três foyer’s no nível superior. Essa disposição espacial permite ainda que se integrem os foyer’s em um único grande espaço, quando desejável. Favorece também a racionalização de investimentos em infra-estrutura e evita a multiplicação de espaços comerciais ao assegurar o atendimento de todos os foyer’s e do saguão por um único café disposto em dois níveis, o que amplia a sua viabilidade econômica evitando a multiplicação de áreas comerciais.
Nas áreas técnicas e de apoio, buscou-se localizar cada conjunto de camarins com a maior proximidade possível ao palco a que se destinam, conformando núcleos diferenciados que preservam a individualidade de cada companhia no caso de concomitância de eventos. Todavia, sua organização linear e articulada a uma circulação comum, permite o encontro e a troca entre artistas, e viabiliza facilmente a flexibilização do uso dos camarins entre salas, conforme as mais variáveis demandas e tamanhos dos grupos e companhias. Em especial no caso da apresentação de óperas, é possível destinar parte dos camarins da black box ou da sala 2 para orquestra, coral ou grupos de apoio, sem comprometer a unidade do espetáculo.
Cenotécnica e condicionamento dos espaços técnicos e de apoio
A principal proposta conceitual que concerne à cenotecnia consiste na possibilidade de integração total do conjunto das caixas cênicas. Devido a sua disposição linear associada à proposição de portas acústicas corta-fogo contrapesadas entre as caixas, propõe-se a alternativa de interligação física, parcial ou total, dos palcos, o que multiplica as possibilidades de montagens cênicas além das conformações típicas solicitadas no programa. Essa condição viabiliza desde a duplicação de platéias – na sala grande, acrescentando-lhe uma platéia lateral a ser montada na black box, na sala pequena, uma platéia posterior ao palco -, até a conformação de um espaço cênico único e integrado com os três palcos interligados, totalizando 74 metros de extensão, o que estimula a realização de experimentos cênicos avançados com a total eliminação da distinção ator-espectador, passando pela alternativa de duas arquibancadas laterais com espaço cênico linear aos modos do Teatro Oficina, e chegando até à possibilidade de apresentações em circuitos cênicos com alternâncias entre platéias, palcos, foyer’s e circulações técnicas.
Quanto ao condicionamento técnico e à geometria de cada sala, foram definidas as seguintes especificações e requisitos:
Grande sala
O partido adotado para a platéia utiliza a abertura de 19º das faces laterais, o que aproxima o espectador do palco ao ampliar significativamente o número de cadeiras à medida em que as filas se sucedem. As circulações foram dispostas de modo assimétrico, em diagonal em relação aos setores, a fim de responder aos fluxos naturais de entrada e saída decorrentes do acesso unilateral. Essa opção permite a concentração e redução proporcional das áreas de foyer, ampliando a vitalidade destes espaços e minimizando seu custo de implantação.
Com o objetivo de assegurar visibilidade ótima em todos os assentos, associada à qualificação acústica, a platéia inferior apresenta três inclinações predominantes, sendo o incremento inicial do traçado da curva de visibilidade de 10cm nas 6 primeiras filas, passando a 15cm nas 5 filas intermediárias e a 20cm nas 4 filas posteriores. Além de melhorar significativamente a visibilidade nas filas da parte posterior da platéia, essa variação apresenta benefícios quanto ao condicionamento acústico, como se descreverá adiante.
A platéia superior (balcão) se desdobra parcialmente sobre a platéia inferior em apenas três filas, o que evita a geração de espaços profundos e de pequena altura, geralmente de visibilidade prejudicada e acústica deficiente. Neste intervalo se localiza, em contrapartida, a cabine de som, tradução e controle. Sua posição centralizada na platéia evita a profundidade excessiva e recebe a melhor condição acústica e de visibilidade, o que assegura sua qualificação para o uso exigente dos técnicos, dispensando a tradicional remoção improvisada de assentos em meio ao público para instalação da mesa de som.
A platéia superior apresenta, ainda, camarote na lateral oposta ao acesso principal. Deste se atinge a saída de emergência, lateral ao palco, com escape direto ao espaço externo, na região do pátio de carga e descarga.
Foi plenamente atendida a demanda pela capacidade máxima da sala (1.237 pessoas). Foram reservados 15 assentos para cadeirantes, alternados com poltronas para seus respectivos acompanhantes e com acesso em nível com a antecâmara e com o palco, 11, assentos para obesos, com dupla largura e fácil acesso, nas extremidades das filas, e 11 assentos para pessoas com mobilidade reduzida, também nas extremidades das filas, junto aos corredores de acesso, de modo a permitir acomodação de bengala, em atendimento à NBR 09050-2004, que trata da Acessibilidade a Edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Foi assegurada ainda plena acessibilidade ao palco, em passarela em nível junto à antecâmara, bem como equipamentos acessíveis nos camarins e sanitários públicos.
Para o palco, foi definida a altura de 1,05m, adequada à proporção da sala e à variedade de usos pretendida. No proscênio, a previsão de futuro elevador de orquestra se associa ao fosso que se prolonga por sob o palco para assegurar o atendimento à capacidade para 100 músicos. Após o fosso, as quarteladas se dispõem de modo centralizado, com acesso facilitado ao porão do palco pelas escadas laterais que interligam todos os níveis de varanda e urdimento. Prevê-se, para o piso do palco, estrutura metálica primária, sobre a qual se estrutura laje – exceto nas áreas de quartelada. Sobre todo o palco, um conjunto de painéis de compensado naval montado sobre barrotes com suportes de elastômeros assegura o necessário amortecimento ao piso, para proporcionar condições de salubridade e conforto aos bailarinos em espetáculos de dança. Sobre esta base, instala-se o acabamento final em madeira maciça (tábua corrida com 4cm de espessura), que pode receber ainda, quando desejável, sobrepiso em linóleo preto.
Frontalmente à caixa de palco, sobre a boca de cena e em cota elevada acessível desde uma das varandas, prevê-se a casa de máquinas para os equipamentos de fan-coil para a climatização da platéia. Para a área do palco, prevê-se ventilação mecânica, uma vez que a redução excessiva de temperatura é prejudicial para a maior parte das atividades cênicas. Ainda assim, a área de palco usufrui indiretamente da redução de temperatura da sala. Alternativamente, pode ser previsto equipamento independente para climatização da caixa cênica, com controle independente de temperatura. Todo o ar insuflado em todas as salas deverá ser pré-filtrado e conduzido aos equipamentos de fan-coil através de dutos, a fim de assegurar a redução da presença de partículas sólidas nos ambientes controlados, inclusive de partículas desprendidas de possíveis materiais fonoabsorventes instalados nos plenuns de isolamento das salas. Evitar este tipo de desprendimento de partículas, comum em salas de espetáculos que utilizam sistema de retorno de ar em plenuns livres nos intervalos vazios sob platéias e em entreforros, assegura a salubridade do ambiente cênico e minimiza os custos de manutenção tanto dos sistemas de ventilação como dos elementos e materiais de acústica. Tanto a casa de máquina como os dutos, saídas de isuflamento e retorno do ar condicionado deverão ter tratamento acústico, através de isolamento sonoro e de vibrações e da instalação de atenuadores de ruído dentro das classes recomendadas por norma.
As dimensões de palco, coxias, proscênio e boca de cena atendem rigorosamente ao solicitado pelo termo de referência. Foram previstas 44 varas contrapesadas com 26 metros de comprimento, sendo que uma delas recebe um conjunto de painéis leves dobráveis em fibra de vidro que permite a montagem simplificada de uma concha acústica ao fundo da platéia, nos casos de concertos e recitais. A opção por montá-la permanentemente em uma das varas minimiza a demanda por espaços de depósito, além de simplificar sua montagem e desmontagem. Para apoio ao espetáculo, foi previsto no nível do palco, no interior da caixa cênica, um camarim de troca rápida equipado com sanitário, e um pequeno depósito com tanque, para limpezas rápidas do palco.
O acesso ao palco se resolve através de duas portas. A primeira, em guilhotina contrapesada com 6 x 6 metros, permite a rápida conexão com depósito, oficina e carga e descarga, implantados rigorosamente em nível com os palcos. A segunda, menor e para o uso cotidiano, é abrigada em antecâmara e permite a conexão com a área técnica de camarins e vestiários, também no mesmo nível do palco. Estes espaços se organizam, para além de apoios técnicos, como áreas que estimulem a convivência entre os artistas. Para isso, se organizam ao longo de um jardim interno, recebem iluminação zenital farta e se articulam ao redor de um generoso ambiente de estar que funciona como área de concentração no momento que antecede o espetáculo. Conectam-se, ainda, por escadas e elevadores – inclusive para cargas – com os espaços didáticos no pavimento inferior, o que permite utilizá-los como salas de ensaio.
O tratamento da sala busca evidenciar também internamente a variação geométrica que a caracteriza externamente. Assim, os refletores acústicos móveis e giratórios se distribuem deixando visível toda a caixa da platéia, instalações, passarelas e angulações, que recebem no segundo plano tratamento neutro em cor escura que responde à difusão ou absorção acústicas, conforme o condicionamento variável em função da necessidade de uso do ambiente para acolher os mais diversos tipos de atividades, desde canto gregoriano até sons amplificados de bandas de rock ou de grupos de música eletrônica. A condição assimétrica de acesso é reforçada no tratamento assimétrico dos planos laterais, permitindo o correto condicionamento dos planos que conformam a antecâmara de acesso de público. Essa assimetria é considerada na distribuição dos elementos de acústica e se sobrepõe à ordenação regular da platéia e à absoluta simetria da caixa de palco, conforme solicitado no termo de referência. Através deste conjunto de elementos e soluções, buscou-se ampliar o caráter monumental que um grande teatro exige, associando a necessária qualificação cênica com a força expressiva que um espaço desta escala permite explorar.
Sala para teatro falado
O partido adotado para a platéia busca reforçar o caráter intimista da sala e reduzir a separação ator – expectador. Para isso, a platéia se diferencia em dois setores, demarcados claramente pela circulação de acesso, pela geometria da disposição dos assentos – em arco, próximo ao palco, linear na parte posterior -, pela inclinação – suave junto ao palco e mais forte, aos modos de arquibancada, na parte posterior -, e ainda pelo tratamento interno da sala, que define refletores acústicos angulados junto à boca de cena abrigando a primeira parte da platéia, e um tratamento absolutamente neutro na cor preta, parte refletor, parte absorvente, na segunda platéia de modo a reforçar o foco no palco.
Os planos que encerram a platéia frontal, angulados em 26º em relação ao eixo da sala e executados em madeira pintada, apresentam a possibilidade de terem seu acabamento final transformado em consonância com a cenografia de cada espetáculo. Passarelas laterais permitem percursos em nível entre palco e circulação de acesso, o que amplia a sensação de que a primeira platéia rebaixada passa a integrar a área de palco e a participar efetivamente do espetáculo, enquanto a segunda platéia se eleva e conforma um plano visível desde o palco que substitui o fundo pela própria platéia. A altura definida para o palco é de 81,5 cm, coerente com a escala e o uso pretendido para o espaço, e as quarteladas se prolongam até a borda do pequeno proscênio, o que amplia as possibilidades de montagens. Cada uma dessas iniciativas vem reforçar o caráter intimista da sala e a sinergia entre palco e platéia, contribuindo para acentuar a interação e a empatia (Einfühlung) entre atores e público.
No trecho frontal, prevê-se apenas circulações laterais. Na arquibancada, as circulações foram dispostas de modo assimétrico, em diagonal em relação aos setores, a fim de responder aos fluxos naturais de entrada e saída decorrentes do acesso unilateral.
Com o objetivo de assegurar visibilidade ótima em todos os assentos e ampliar a sensação de interação com o público, foram utilizadas duas variações na inclinação da platéia. Essa variação é ainda fundamental para a ampliação dos níveis de audibilidade em toda a platéia, especialmente no caso do teatro falado, sem a utilização de sonorização artificial. No trecho curvo, o incremento inicial do traçado da declividade é de 10cm; na arquibancada, de 25cm, o que gera proporções entre piso e espelho com grande similitude às utilizadas nos teatros gregos.
Foi plenamente atendida a demanda pela capacidade máxima da sala (498 pessoas). Foram reservados 11 assentos para cadeirantes alternados com poltronas para seus respectivos acompanhantes com acesso em nível com antecâmara e palco, 6 assentos para obesos, com dupla largura e fácil acesso, nas extremidades das filas, e 6 assentos para pessoas com mobilidade reduzida, também nas extremidades das filas, junto aos corredores de acesso, conforme recomenda a norma.
As dimensões de palco, coxias, proscênio e boca de cena atendem rigorosamente ao solicitado pelo termo de referência. Foram previstas 31 varas contrapesadas com 19 metros de comprimento. Para apoio ao espetáculo, foi previsto no nível do palco, no interior da caixa cênica, um camarim de troca rápida equipado com sanitário.
Como na grande sala, o acesso ao palco se resolve através de duas portas, sendo a de carga em guilhotina contrapesada com 6 x 6 metros e a segunda, abrigada em antecâmara, também funcionando como saída de emergência para a platéia. Ambas permitem a conexão com a área técnica, depósitos, camarins e vestiários, rigorosamente no mesmo nível do palco.
O tratamento da sala busca ampliar o seu caráter intimista, reforçando a presença do palco integrado ao primeiro trecho de platéia como o grande foco visual, e valorizando a sua interação com o público. Para isso, todos os revestimentos internos, pisos e cortinas recebem a cor preta, à exceção da caixa angulada junto à boca de cena, cuja aparência é mutável, conforme a cenografia de cada espetáculo, e as poltronas, claras. Essa opção reforça a relação hierárquica de atores e público como protagonistas do espaço cênico, reduzindo a importância dos seus elementos constitutivos, tratados como pano de fundo para o acontecimento humano.
Black Box
O partido adotado para a Black Box busca reforçar sua flexibilidade e indeterminação. Para isso, adotou-se altura maior do que a solicitada, de modo a permitir sua perfeita integração com as demais caixas cênicas, sem restrições ou descontinuidades. Para atender ao funcionamento previsto, varandas laterais em toda a extensão, acessíveis por escadas nas duas laterais do conjunto de caixas cênicas, permitem montagens incluindo as áreas de apoio técnico, que funcionam como eventuais áreas de projeção. Evita-se, com isso, a definição de um único eixo de ordenação preferencial da relação público – espetáculo – geralmente definido pela localização da cabine de projeção em oposição ao palco -, o que favorece arranjos mais abertos, inclusive com diluição total dos limites entre espectadores e atores.
Para ampliar a flexibilidade e a mutabilidade do espaço cênico, prevê-se que o grid superior seja móvel, contrapesado de modo a permitir sua montagem em diversas alturas, desde a cota da varanda inferior até a cota máxima de 18 metros, equivalente à altura da caixa cênica da sala menor.
Previu-se um espaço livre retangular de 17,50 x 20,50 metros, incluindo as varandas, o que libera 358 m2 internos, exceto antecâmaras, escadas e apoios. Esse espaço apresenta altura total média de 24,50, e altura útil de 18 metros – altura máxima do grid. Suas dimensões totais atendem ainda à boa proporção dimensional para acústica de salas retangulares, apresentando proporção 1 x 1,2 x 1,4.
Como nas demais salas, o acesso ao palco se resolve através de duas portas, sendo a de carga em guilhotina contrapesada com 6 x 6 metros e a segunda, abrigada em antecâmara, também funcionando como saída de emergência para a platéia. Ambas permitem a conexão com a área técnica, depósitos, camarins e vestiários, rigorosamente no mesmo nível do palco.
O tratamento interno busca responder às demandas de acústica (absorção e difusão) com a maior neutralidade possível, a fim de reforçar seu caráter indeterminado.
Acústica
Cada um dos espaços cênicos do conjunto teve suas características físicas – dimensões, proporções e materiais - determinadas para resultar no melhor condicionamento acústico para os variados usos ali previstos.
Construção e sustentabilidade
Dois fundamentos conceituais relacionados à lógica construtiva e à sutentabilidade orientaram a elaboração deste projeto: primeiro, a distinção clara entre sistemas construtivos que viabilizam os diferentes tipos de espaços projetados – espaços abertos de uso público, espaços acustica e termicamente isolados e espaços técnicos e de apoio – a fim de potencializar cada solução construtiva para atender às mais rigorosas especificidades de cada espaço sem concessões, evitando o dispêndio supérfluo de materiais e recursos; segundo, a utilização de soluções de projeto que minimizem o impacto ambiental tanto no processo de construção como na manutenção do edifício, reduzindo o consumo de energia e adotando sistemas construtivos limpos e racionalizados.
Diferenciação dos sistemas construtivos
A diferenciação clara, volumétrica e construtiva, do conjunto das caixas cênicas em relação aos demais espaços permite minimizar a extensão da aplicação do padrão construtivo mais oneroso e tecnologicamente mais avançado que assegure a perfeita estanqueidade destes espaços controlados. Neste conjunto, propõe-se a utilização de estrutura industrializada, metálica, com vigas treliçadas de grande altura para o melhor equacionamento dos grandes vãos demandados pelas caixas cênicas. Esta estrutura recebe externa e internamente revestimentos leves metálicos, associados a camadas de isolamento acústico – lã de vidro, manta asfáltica, lã de vidro – que equacionam também o necessário isolamento térmico do conjunto, o que reduz a demanda por condicionamento artificial destes espaços, minimizando seu consumo de energia. O revestimento externo deste bloco adota a fachada ventilada executada em placas de zinco patinado, o que amplia a inércia térmica e o isolamento.
Na cobertura, propõe-se um sistema leve que assegure estanqueidade física e acústica, semi-industrializado, de modo a reduzir as cargas na estrutura e ao mesmo tempo ampliar o amortecimento do ruído de chuvas. Adota-se aqui uma sub-estrutura leve sobre a qual se montam painéis duplos de placa cimentícia recheados por lã de vidro ensacada. Por sobre os painéis, manta asfáltica de impermeabilização moldada a quente sobre substrato de asfalto quente, totalmente aderida, assegura a estanqueidade, reforçada pela drenagem fácil favorecida pelo plano inclinado da cobertura. A manta asfáltica contribui ainda para reforçar o isolamento acústico ao agregar mais um material na seqüência de elementos de atenuação acústica. Por sobre este conjunto, o revestimento externo do volume constitui uma sobre cobertura de sombreamento, conformando um colchão de ar que amplia também a inércia térmica do conjunto, minimizando inclusive deformações excessivas dos elementos construtivos e estruturais.
Nas áreas técnicas e de apoio, o sistema construtivo potencializa a lógica modular que o programa sugere, utilizando módulo de 6,25 que permite a combinação de vigas de 6 metros (submúltiplo das dimensões de fabricação) com pilares em perfil metálico com 25cm de largura. No sentido transversal, a modulação de 2,50 metros permite a utilização de lajes industrializadas em painéis de concreto pré-moldado protendido, o que otimiza a construção e minimiza a geração de resíduos devido à utilização de sistemas construtivos limpos. Nas coberturas, sheds em telha metálica dupla com isolamento termo-acústico concilia a qualificação ambiental e iluminação natural com a construção a seco.
Nas áreas de público – saguão, foyer, estacionamentos – propõe-se, por sua geometria variada, a utilização de um sistema misto, que utiliza colunas em tubo metálico preenchidas com concreto com lajes nervuradas e protendidas moldadas in loco, com a utilização de sistema de formas plásticas reutilizáveis. Essa solução construtiva permite conciliar uma lógica racionalizada do canteiro de obras com uma maior exploração plástica do potencial do concreto armado, viabilizando a necessária variedade espacial que o conjunto de planos inclinados, rampas e cobertura gramada assegura aos espaços de uso público.
Redução do impacto ambiental e uso racional de energia e água.
Para ampliar a sustentabilidade do conjunto, foram adotadas as seguintes medidas de projeto:
- abertura de intervalos verdes – jardins internos lineares – nas interfaces entre áreas de público e caixas cênicas e destas com as áreas técnicas, o que contribui para a climatização e a ambientação de saguão, circulações técnicas e áreas de estar, camarins, administração, biblioteca e salas de aula;
- minimização da exposição de panos envidraçados ao sol, voltando as principais aberturas para os jardins internos protegidos - no foyer pela sombra do volume da caixa cênica, nas áreas técnicas por cobertura em shed -, e utilizando brises com fachada verde, nas aberturas a norte das áreas técnicas;
- ampliação da inércia térmica dos elementos de proteção, ora com a adoção dos planos inclinados gramados da laje de cobertura do foyer, ora potencializando o necessário isolamento acústico das caixas cênicas como retardante da transmissão térmica por indução, ora pela aplicação da fachada verde associada a brises nos planos de abertura a norte e leste nas áreas didáticas e técnicas;
- potencialização da ventilação natural e cruzada nas áreas de apoio, viabilizadas pela utilização dos sheds e do destacamento do volume com a conformação do um jardim interno em sombra, e também nas áreas de saguão e foyer e ainda nos estacionamentos cobertos, cuja dupla abertura no sentido leste-oeste permite a caracterização de ventilação natural contínua dispensando a utilização de condicionamento de ar nestas áreas;
- potencialização da iluminação natural na maioria dos espaços de permanência e recepção de público, tanto pelas generosas aberturas aos referidos jardins como pela utilização dos sheds no bloco de apoio e de clarabóias sobre as áreas de foyer e seus apoios, e também nas garagens cobertas;
Por último, a recuperação das águas de chuva para uso em irrigação e descargas sanitárias minimiza significativamente a demanda de água potável, contribuindo para a ampliação da sustentabilidade do complexo.
Instalações: água e energia
Toda a drenagem do plano inclinado da cobertura se faz em diversas linhas, fracionando o recolhimento das águas de chuva, que são conduzidas a reservatório sobre terreno natural, destinado a reuso de água. As demais coberturas - sheds e laje impermeabilizada e gramada da praça frontal – igualmente contribuem para a reserva de reuso. Na praça, o conjunto grama, terra, areia e brita conforma um filtro natural que minimiza o carreamento de partículas. Nas coberturas secas, os primeiros 500 litros de contribuição são recolhidos em caixa intermediária e desprezadas automaticamente por sistema de bóia, acionado em seu enchimento, desviando então a água limpa seguinte para a reserva.
Da caixa geral de reuso, o sistema se deriva para caixas menores, instaladas no entreforro dos camarins e do núcleo de apoio dos foyer’s, em par com caixas de água potável, para distribuição racionalizada às áreas servidas minimizando a implantação de grandes ramais.
Especificamente nos camarins, a orientação norte dos planos inclinados do shed e da fachada permite complementar o sistema com a previsão de coletores solares para aquecimento da água dos chuveiros, minimizando significativamente o consumo de energia.
Para os sistemas elétricos, prevê-se, junto ao pátio de serviço, com acesso facilitado para instalação e manutenção, uma substação com cabines de reserva, e um grupo gerador com 3 motores com capacidade de 500KVA, com reservatório de combustível prevendo-se autonomia de 12 horas.
Este projeto busca, sobretudo, a definição de um conjunto edificado de forte expressividade, permanência e atemporalidade, como convém a um equipamento público com a vocação para simbolizar o monumental esforço e a virtuosa tenacidade de uma gente que deseja expressar sua contemporaneidade e marcar no tempo e no espaço a sua presença positiva no mundo. Para isso contribuem a redução dos elementos edificados através do ocultamento das áreas de público por sob o teto gramado, que abre as visadas desde o espaço urbano e assegura o equilíbrio entre volumes construídos e áreas livres; a exploração da opacidade e da monumentalidade dos dois volumes principais – o conjunto das caixas cênicas e a grande sala de espetáculos, como objetos singulares que ampliam a iconicidade do complexo; a potencialização da materialidade dos revestimentos naturais – o cobre e o zinco - e de seu contraste com o plano gramado, configurando uma representação simbólica e complexa da dialética entre natureza e cultura; a opção por materiais patináveis, cuja aparência se modifica com o tempo, que permitem que o edifício avance no tempo com grande dignidade, além de minimizar as demandas por manutenção; a valorização do principal espaço e não coincidentemente principal elemento simbólico do conjunto, a grande sala de espetáculos, conferindo-lhe grande força expressiva através da singularidade de sua geometria tronco-piramidal e do uso do material mais nobre – o cobre – que se destaca em oposição ao pano de fundo construído pelo conjunto negro das caixas cênicas e pela base gramada; a exploração, pela disposição do conjunto no terreno, da oposição entre o volume principal da grande sala, a oeste, e a chaminé preservada, a leste, que indica o principal acesso ao edifício, em uma sutil representação da síntese entre o esforço civilizatório e industrial do passado e a criação do lugar da cultura para o futuro. A potencialização da luz como elemento arquitetônico, tanto na exploração da luz natural, moldada por sheds e clarabóias para a qualificação dos espaços internos, como, em sentido inverso, na exploração plástica da luz artificial, noturna, que, vazando pelas aberturas e pelas frestas geradas pelo destacamento do volume das caixas cênicas, revela a lógica construtiva e plástica do conjunto e valoriza a oposição entre os volumes opacos, monumentalizando-os.
Enfim, buscou-se criar edifício e praça, integrados, a conciliar sua natural vocação monumental com uma ampla e irrestrita abertura ao público, constituindo um intencional esforço por se construir uma monumentalidade aberta e democrática.
ficha técnica
Autor
Arq. Carlos Alberto Batista Maciel
Co-Autores
Bruno Berg Camisasca, Gelson de Jesus Veloso, Marco Antonio de Mendonça Vecci (Acústica), Rafael Silveira Borges, Wanderson Almeida Ferreira.