Objetivo
Este documento tem por objetivo esclarecer o projeto arquitetônico para o Teatro Municipal de Londrina - PR. Os aspectos aqui considerados são os referentes: 1) Conceituação teórica e partido adotado para a arquitetura do edifício; 2) Condicionantes ambientais; 3) Soluções funcionais para o programa solicitado; 4) Soluções técnicas para ecoeficiência e estruturação da volumetria.
Descrição conceitual do projeto
Todas as formas de linguagem são contratos coletivos – palavras, sons, gestos e expressões, faladas, escritas, gravadas, transmitidas, existem, funcionam e são concebidos frutos do acordo entre todas as partes. É o contrato semiótico, por excelência. Da função poética na linguagem resulta a Arte, em todas as suas formas, criada, inaudita e inventada, mas só completa ao tornar-se pública, produto do coletivo. O que não é tornado público pouco existe. A ação da polis é o político, o ideológico.
O teatro é a forma mais explícita desse contrato semiótico. Quando se adentra ao espaço teatral, tudo o que é real é a ficção. Sem este acordo, entre autores, atores e platéia plasmados na linguagem, nada é possível.
A arquitetura neste projeto é pensada como manifestação da idéia do coletivo na forma arquitetônica. A idéia do coletivo apresenta-se tanto na linguagem quanto no uso do espaço arquitetônico. Os vários usos que não só o espaço teatral, como a praça teatral ou o teatro na praça, pretende incorporar a restauração do espaço como um sistema aberto à própria discussão ou evolução do conceito de cultura, incorporando a tendência atual da interação entre linguagens e mídias, em particular da própria noção de ação teatral ou do espaço “aberto” ao exercício livre da arte.
Joseph Beuys pensa todo homem como um artista, e pensamos neste projeto em uma grande passarela que abraça toda a construção como uma órbita – em torno dos três palcos, onde as pessoas em diálogo com as entradas criam fotogramas do interior e do exterior, exercem o olhar, o pensamento artístico, como performances ao mesmo tempo individuais e coletivas de interpretação do espaço da cidade e do edifício. As aberturas refletem a edição do olhar e dos fenômenos térmicos, acústicos e de iluminação. Uma espécie de modulação de placas “tecarquitetônicas” que em sintonia com o ambiente regulam a passagem do vento, da luz e dos sons para transformar o prédio inteiro num instrumento de arte. A idéia é de que a edificação seja menos um prédio do que uma espécie de atrator energético que imante a participação de toda a comunidade, tal como uma espécie de antena receptora e transmissora de energia vital e criativa.
A exemplo desta edição na arquitetura entendamos a possibilidade de dar sentido aos sons emitidos no edifício. “Atualmente estes conceitos podem ser extendidos e ampliados – devido ao uso de várias novas tecnologias de última geração : sensores e atuadores controlando programas sofisticados de interação homem / meio ambiente, resultando em música.
Também pode ser escolhido o caminho da velha e boa física acústica : tais como a de vibradores naturais (para atuarem com o vento), estruturas metálicas que reajam sonoramente à chuva, vibradores (tipo martelinhos de piano) que transformem cabos de aço em cordas de um hiperinstrumento, túneis e passagens reativas e assim por diante.
A integração entre todos os instrumentos num mesmo espaço físico e o prazer desta interação - são marcos que podem tornar um Teatro em um hiperinstrumento musical, tocado por todos”. (MÚSICO, 2007)
O partido adotado para a arquitetura pretende transforma o edifício num espaço cultural de uso coletivo, que atenda, alem da platéia dos espetáculos aos cidadãos londrinenses que anseiam por diversidade cultural.
Os condicionantes ambientais observados foram neste projeto incorporados de forma a definir a volumetria, sendo otimizados em prol do conforto térmico, acústico, luminoso e visual, bem como da eficiência energética do edifício.
Dados de entrada
Os dados de entrada do presente projeto consistiram de
1) Programa e organograma solicitados;2) Condicionantes ambientais (ventos dominantes, direção solar);3) Levantamento fotográfico;4) Normas de uso e ocupação do solo;5) Normas técnicas para teatros;
Descrição do projeto
Quadro de áreas
Pavimento térreo – 10312,97m²
Teatro - Palco – 793,51m²
- Platéia – 737,20m²
- Sala de dimmers – 15,36m²
- Hall de acesso camarins – 98,28m²
- Camarins –288,52m²
- Foyer – 474,88m²
- Cabine de projeções – 34,43m²
Teatro II
- Palco – 398,50m²
- Platéia – 452,18m²
- Sala de dimmers – 13,28m²
- Hall de acesso camarins – 160,83m²
- Camarins – 137,00m²
- Vestiário e sanitários –92,05m²
- Foyer – 302,00m²
- Ante câmaras – 22,24m²
Área técnica (comum)
- Salas dos técnicos – 151,09m²
- Copa funcionários – 16,21m²
- Vestiários – 62,811m²
- Oficina – 214,67m²
- Figurino – 149,08m²
- Carga e descarga – 397,56m²
Área pública
- Biblioteca – 217,80m²
- Guichês - 29,58m²
- Balcão informações – 7,89m²
- Área de apoio guichês – 19,90m²
- Salas didáticas – 224,60m²
- Vestiários – 35,26m²
- Estac (1°subsolo) 4353,20m²
- Acessos e circulação – 736,57m²
Pavimento superior I – 2423,09m²
Sala de espetáculos 3
- Black Box – 301,35m²
- Ante câmaras – 48,05m²
- Foyer – 309,67m²
- Sanitários – 44,00m²
- Camarins – 131,03m²
Administração
- Enfermaria – 22,81m²
- Copa / cozinha – 20,07m²
- Sanitários – 53,31²
- Deposito – 7,85m²
- Salas administrativas – 315,01m²
- Segurança – 57,06m²
- Balcão – 307,12m²
- Depósito – 16,27m²
- Cabine – 21,00m²
- Acessos e circulação – 728,81m²
Pavimento Superior II – 2801,38m²
- Passarelas técnicas – 630,37m²
- Depósitos – 93,06m²
- Cabine Black Box – 28,92m²
- Sala de artes cênicas – 487,23m²
-Vestiários – 149,11m²
- Acessos e circulação – 1339,56m²
Pavimento Inferior – 9960,59m²
- Casa de máquinas – 122,70m²
- Fossos teatros – 1304,24m²
- Depósito – 701,60m²
- Vestiários – 89,94m²
- Arena multiuso – 582,07m²
- Foyer – 100,59m²
- Sanitários– 126,78m²
- Sala de exposições – 536,32m²
- Estacionamento coberto (segundo subsolo) – 4786,48m²
- Acessos e circulação – 426,25m²
Especifições gerais
Neste momento serão apenas descritos os aspectos a serem considerados no projeto executivo, já que a especificação de materiais e equipamentos demanda estudos mais bem elaborados pelos projetistas responsáveis.
Estrutura
A concepção estrutural considera os volumes dos teatros como blocos fechados, vedados, o que auxilia no conforto térmico e acústico. Os demais ambientes, dispostos no entorno das caixas cênicas, são cobertos por uma casca, “dobradura” que se auto-suporta, apoiada nos volumes dos teatros. Os grandes vãos da casca serão executados com uma treliça espacial que se apóia ainda em pilares pontualmente posicionados para suportar a treliça, passarelas e rampas.
Instalações gerais
Dos projetos complementares surgirão as especificações relativas à elétrica, hidráulica, lógica, incêndio, iluminação, sonorização, condicionamento de ar, paisagismo, comunicação visual, sistema de segurança.
Vedaçoes e revestimentos externos
As vedações externas foram pensadas de acordo com os aspectos de conforto necessários a uma sala de espetáculos. Paredes duplas para as faces externas são estruturais e ainda contribuem no conforto térmico e acústico. Na cobertura foi especificada a telha tipo sanduíche que melhora o desempenho térmico da edificação e minimiza os ruídos externos. Os Brises são elementos utilizados para controle térmico e luminoso dos camarins, salas administrativas e didáticas, que recebem ventilação e iluminação natural.O vidro verde será o fechamento das “fretas” locadas estrategicamente para iluminação natural dos foyers e circulações públicas.
Vedaçoes e revestimentos internos
As vedações internas objetivam a facilidade construtiva, no caso do drywall utilizado nas divisões de salas técnicas, e qualidade térmica e acústica, no caso das paredes em alvenaria dos camarins, salas administrativas, salas didáticas e sanitários.O revestimento proposto é a pintura acrílica branca na maior parte, e colorida para destacar os principais volumes (teatros e passarelas).Os forros são os de propriedades absorventes, para melhor eficiência acústica dos ambientes. Nas áreas públicas (circulações, estacionamento, passarelas, praça central) os pisos são de cimento bruto polido, cor clara, o que facilita a manutenção e melhora o desempenho térmico. Nos foyers, camarins e salas de trabalho utiliza-se um porcelanato rústico para manter os aspectos das demais áreas e salientar a importância destes espaços. Nas salas de espetáculo serão considerados materiais absorventes e ou refletivos para obter a qualidade acústica necessária. Paredes, tetos e pisos serão especificados de acordo com os estudos da acústica do volume e da disposição da platéia.
Esquadrias
As esquadrias de alumínio são compostas por caixilhos pintados na cor branca e vidro laminado incolor. As portas internas nos ambientes de trabalho são em madeira e as posicionadas nas ante-câmaras do tipo corta-fogo.
Os grandes panos de vidro internos, locados nos foyers, são estruturados em perfis metálicos e compostos por duas lâminas de espessuras diferentes para garantir a acústica destes ambientes.
ficha técnica
Responsável técnico / Autor
José Wagner Garcia
Co-autores
Fernando Claudio Marcos Casado
Gabriela Lima Lessa Lobo
Telma Portero Peres
Colaboradores
Authur Francisco Cogo
Consultores
Conforto ambiental: Alessandra Prata, Andrea Bazarian, Mônica Marcondes
Estrutura: Heloísa Maringoni
Acústica: Wilson Sukorski
Cenografia: Tobias May