Introdução
Considerando-se que a arquitetura deva refletir a condição representativa de um povo, procuramos apresentar para o Centro Matucana, uma proposta que preconize a visão humanista, a fluidez cultural e a permanente conservação dos valores mais dignos da memória do povo chileno.
Assim dedicamos especial atenção à amplitude da área escolhida, valorizando de forma harmônica o entorno paisagístico e histórico do lugar; procurando proporcionar ao usuário, a visibilidade ampla e generosa do contexto urbano.
Ao considerar que o Museu é um lugar de encontro, e que seu conteúdo deverá carregar os registros de acontecimentos que marcam e identificam a vida de um povo, distinguimos na “ágora” (o mais antigo e democrático conceito urbano de lugar de encontro), a premissa que orientaria o – espaço da memória.
Este conceito, além de se apropriar das condicionantes topográficas existentes no terreno transforma o espaço que poderia ser considerado “escondido” em espaço polivalente e de luz refletindo o caráter simbólico e mágico da história e cultura chilena.
Entendemos também que o partido arquitetônico deveria enfatizar a discrição reclamada pelo tema; e assim, acolhemos as condições propostas pelo edital, e consideramos a especificidade urbana e do terreno, adotando como estrutura de comunicação, três níveis compostos por três praças – no nível da Avenida Matucana – cota 0.0m, – Serviços e comércio no nível intermediário – cota -5.0m e praça museulógica na cota -11.0m, onde funcionará o museu e o acesso ao metrô; apropriando-se desta forma dos desníveis topográficos existentes.
Os edifícios destinados às atividades públicas e privadas, ficarão no nível da praça. Fazem parte do complexo harmônico Centro Matucana mantendo sua independência funcional, porem se caracteriza arquitetonicamente como um único edifício diferenciados apenas pelos elementos de vedação e iluminação vinculadas as necessidades de conforto e eficiência técnica em relação às variações climáticas.
Para este edifício adotou-se um desenho de volumetria e implantação que valoriza as qualidades paisagísticas do lugar.
Os estacionamentos estarão respectivamente nas cotas -8.0m e -11.0m com comunicação direta aos níveis do museu.
Espaço - Memória
Para a primeira praça na cota 0.0m, no nível da Avenida Matucana, criou-se um espaço aberto de caráter essencialmente público, onde pode- se chegar e apreciar num giro de 360o, o trecho da Avenida Matucana com o parque ao fundo e seu patrimônio arquitetônico, o antigo colégio e o novo edifício proposto, que pela sua configuração e neutralidade, reforça a beleza e espacialidade do lugar.
O piso desta praça que também constitui a cobertura do saguão principal do Museu, é formado por módulos pré-fabricados (1.25m x 1.25m) de concreto e vidro, apresentando quatro variações luminosas de diferentes intensidades e transparência (pixel). A distribuição da luz natural advindas da cobertura nas áreas de permanência e de circulação no subsolo, poderão ser controladas por aberturas e fechamentos conforme as necessidades de uso de cada atividade programada.
Esta luz que penetra através do piso de forma aparentemente aleatória e abstrata, vai se caracterizando na figura do rosto de um dos personagens mais significativos na história política do Chile (Salvador Allende), à medida que a perspectiva e a imaginação do espectador se ampliam. O caráter universal e simbólico desta imagem poderá ser também estendido e captado por imagem satélite, reforçado-se assim a posição da cidade de Santiago como marco em defesa da paz e Direitos Humanos.
A diversidade desta luz e transparência proposta no piso superior garante a iluminação natural dos pisos inferiores.
Um totem vertical construído em aço e vidro sinaliza o posicionamento do acesso ao complexo na amplitude horizontal da praça.
A Praça Intermediária cota -5.0m, caracteriza-se pelo seu espaço intimista. Abriga as atividades comerciais e de lazer. Sua natureza arquitetônica possibilita a flexibilidade necessária à apresentação de exposições e intervenções próprias das atividades públicas artísticas e culturais contemporâneas, fazendo a inter-comunicabilidade entre os níveis do metrô e Avenida Matucana.
O Museu cota -11.0m, é caracterizado como uma praça coberta circundada por todas as atividades necessárias à constituição dos programas estabelecidos; constrói em seu núcleo um grande vazio que interliga os vários ambientes níveis de atividades, assim como valoriza a integração espacial e os elementos arquitetônicos.
O Museu, um território premiado pelos fluxos, é trajeto indutor dos destinos que acolhem o Complexo Matucano. Permite a circulação rápida e múltipla interligando por passarelas, rampas, elevadores e escadas mecânicas, construindo desta forma a permeabilidade espacial e a integração dos níveis entre si.
Pretende-se uma intervenção otimista que expresse de forma representativa os objetivos deste complexo, mantendo viva a memória e cultura chilena, proporcionando desta forma ao seu espaço arquitetônico, um caráter mágico.
ficha técnica
Autores
Bruno Castro, Guilherme Lemke Motta, Miguel Felipe Muralha, Thiago Florez e Victor Paixão
Colaboradores
Ana Maria Lindemberg e Luís César Amad Costa