Localização
O sítio é localizado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Trata-se de uma área pobre, onde o acesso é precário devido a má urbanização e a topografia, que proporciona uma vista ampla da cidade.
Introdução
Fazer um projeto visando uma urbanização de um ambiente pobre como a Vila Fátima é difícil. O pensamento não esta somente voltado para o âmbito arquitetônico, mas o social. A participação futura dos moradores e os programas de melhoria devem ser dosados, visando não proporcionar uma especulação imobiliária e um distanciamento maior entre as condições atuais.
No Brasil, a política de habitação social assume uma postura de investigação somente na década de 50. A partir da era Vargas. Os arquitetos modernista, trabalhando sobretudo a partir da idéia de superblocos souberam adaptar os modelos europeus as nossas peculiaridades. Nos anos 60, com o autoritarismo, a desastrosa política do BNH e uma incompreensível desarticulação entre a política habitacional e a urbana, a má utilização dos superblocos transformou se em pombais, com uma arquitetura defasada e desprovida de equipamentos sociais. Somente nos anos 90 que o interesse da gestão pública voltou se para o abandono e as discussões voltaram à pauta.
A formulação de uma política inovadora de habitação social, onde a arquitetura voltasse a ser uma preocupação relevante, foi a nossa intenção. Dentre o programa enumeramos: devolver o direito a terra, diversificar as intervenções, reconhecer a cidade, direito ao centro, direito a cidadania, melhoria da qualidade de vida e o direito a arquitetura. Destas a geração de renda, a topografia, o arroio, o traçado, as habitações e os equipamentos foram enfatizados para o tratamento da vila Fátima.
Garantir que a diversidade física, local e social foi o preceito básico. A melhoria da infra-estrutura, circulação interna a ligação do assentamento com a cidade. O projeto tira proveito do plano urbanístico, através da recolocação de moradias e a distribuição das novas casas.
Carências e Problemas Detectados
Potencialidades
Topografia
Vegetação
Arroio
Interação social
Equipamento social
Escola
Capacidade de reciclagem
Paisagem urbana
ComércioMétodo construtivo (mão-de-obra)
Atividades culturais
Perfil da comunidade
Deficiências
Saneamento
Lixo (coleta)
PoluiçãoTraçado viário
Sinalizações
Habitações
Equipamentos sociais
Conservação residencial
Material de construção
Condicionantes
Topografia
Arroio
Traçado viário
Habitações existentes
Equipamento social
Escola (muro e localização)
Cultura local
Atividades culturais
Geração de renda
No Brasil, a geração de lixo nas grandes cidades passou a causar grandes problemas. Com o crescimento dos centros urbanos de maneira acelerada, a saída mais fácil para as famílias e o poder público tem sido tradicionalmente a retirada da sujeira das ruas e deposição em lixões. Incinerado ou enterrado, esconder o lixo passou a ser a escolha que parecia mais correta, até aparecerem os problemas ambientais, como a contaminação das águas subterrâneas.
Foram-se acumulando expressivos segmentos da população sem emprego ou renda, levados a uma situação de privação total, inclusive de alimentos básicos, surgindo uma nova atividade: a de catador de lixo.
A reciclagem é um de seus principais atributos. Este material pode ser reciclado infinitas vezes, sem perder suas características, diferente de outros materiais, podendo ser reciclado a partir de sucatas geradas por produtos com vida útil esgotada.
Pelo seu valor de mercado, a sucata de alumínio permite a geração de renda para milhares de famílias. Utensílios domésticos, latas de bebidas, esquadrias de janelas, peças automotivas, podem ser fundidas e empregadas novamente na fabricação de novos produtos.
A geração de renda foi um dos principais condicionantes propostos. Para isso criamos um centro, próximo ao córrego que disponibiliza de artesanato e padaria. Banheiros também foram implementados, na frente da área destinada ao lazer, contando com churrasqueira e pia. A geração proporciona oportunidade e remanejamento da mão de obra existente na vila. Uma possibilidade de sustentação.
O local escolhido foi feito devido a proximidade com a rua Pio X, para a produção ser transportada e pela facilidade de acesso. O lugar é um ponto forte do terreno, pela possibilidade de exploração, tanto do riacho quanto do terreno. Com a escola ao lado, também haverá uma possível troca entre os moradores e alunos.
Topografia
A vila Fátima tem uma topografia com níveis que variam de trinta e cinto metros a sessenta e cinco. Andar na vila, dar uma simples caminhada já denota a importância e o condicionante que é. Ele defini todos os acessos e vias. De inicio o fluxo de carro praticamente só pode ser realizado na rua Pio X. Por ela ter largura e declive um pouco menos acentuado. Para os pedestres criamos no Beco Dois uma escadaria com um play e um estar no final. A sua continuação é dada com um maior gabarito, devido a menor inclinação e abertura natural existente. As casas existentes, junto com os novos caminhos, como o do riacho, foram feitos usando como sustentação o muro de gabião e muro de taipa. As contenções no riacho junto com a praça e a geração de renda demonstram o quanto o uso do muro é necessário. O deslocamento das casas em péssimas condições, ao lado do arroio, foi outra medida necessária. Os dois com baixo custo, comparado com o muro de arrimo. Para o projeto das novas casas as curvas de nível foram predominantes. Elas interferiram e condicionaram a volumetria e a planta. Criamos uma escada dentro da casa para minimizar a dificuldade do declive, já que a solução do muro de contenção não suportaria. O acesso a deficientes também foi priorizado com a utilização de rampas no Beco Dois e na praça ao lado do arroio.
Escadarias e a praça central
As escadarias cumprem um papel relevante ao projeto. De uma rua inexistente, onde casas ocupavam o lugar, ela rompe com o existente e da vida a um lugar tumultuado. É um meio de ligação importante. Conecta o colégio a praça, Cria acessibilidade aos atuais moradores e proporciona dignidade com o acesso ao lazer, advento da praça. Ao longo da escadaria a melhoria é evidente. Criamos bancos, e assim, recantos aos moradores.
O acesso à escola ficou fácil. A Rua B tornou-se próxima, antes distante. Com isso o trajeto antes difícil revigorou a vila.
No fim da escada, temos a praça. A mais importante praça do projeto. Nela a sustentabilidade e o acesso a recursos básicos tornam-se evidentes. Nela temos o reservatório, espaço para jogos e estar. Um meio de diversão e entretenimento aos moradores. Banheiros públicos também foi prioritário com a implantação da rampa.
Sustentabilidade
A vila é densa, os moradores não têm espaço aberto. Não há um “respiro”. Suas casas mal atendem os requisitos mínimos. A condição de deslocamento quase não existe. Não há demarcação de vias nem acessibilidade. Há necessidade de áreas abertas tornou se outro fator definitivo no traçado das vias. No final da escadaria criamos um play com uma diversidade de equipamentos. Ao lado do riacho também dispusemos outro play, com recanto e vários desníveis com o fim de melhorar as questões sociais de lazer e habitação, já que é difícil gozar de uma moradia e um bairro sem as condições necessárias de áreas abertas e estar. Hoje a única possibilidade é na rua, em frente a sua casa.
A melhoria da Rua Pio X foi um fator importante. Com a sua abertura a possibilidade de circulação de linhas viárias e a facilidade de acesso a outras regiões é um fator importante. Diminuímos assim o distanciamento dos moradores com a cidade. A favela tem que deixar de ser um assentamento precário e isolado.
Com a urbanização da área, o morador se sente estimulado a melhorar seu barraco, embora isto dependa fundamentalmente das condições econômicas. A regularização fundiária consiste na segurança do morador que não será despejado, isso significa um importante passo na melhoria individual da habitação.
As casas projetadas para o condomínio da vila, tiveram uma grande preocupação quanto a sustentabilidade e o distanciamento que poderia causar. As casas vão seguir um padrão, adaptadas a cada tipo de terreno. Mantém uma volumetria característica e usa bloco de concreto no seu fechamento. O telhado diferencia se. Telhado verde. Consiste na aplicação e uso de vegetação na cobertura. Proporciona um melhor conforto termo acústico e paisagístico, reduzindo a poluição ambiental. A captação de água foi outro recurso utilizado. A reserva ficará contida junto à caixa d água. O reservatório da vila ficou localizado na praça, no Beco Dois. O intuito foi proporcionar a todos qualidade e conforto da distribuição de água, deficiente na maioria.
Aplicações sustentáveis economicamente
- coletor de águas pluviais sem uso de bombas;
- telhado verde como conforto térmico;
- tentativa de obter as melhores orientações solares, dando mais de uma opção de aberturas;
- aquecimento de água feito artesanalmente com mangueiras pretas;
- ventilação cruzada para todos os ambientes;
- utilização de mão-de-obra da região;
- possibilidade de duas residências ocupar o mesmo terreno.
Aplicações sustentáveis socialmente
- possibilidade de ampliação das residências;
- espaço para lazer nas próprias residências;
- comporta o programa básico para uma residência.
Planta baixa. Áreas molhadas setorizada e abaixo do reservatório o que garante economia. O corredor estrutura a casa e ainda permite uma última abertura para o terraço, que pode se tornar uma das áreas a ser ampliada
Imagem dos autores do projeto
Corte AA. Mostra o telhado verde, o coletor pluvial e ainda possibilidade de ampliação dentro de um dos dormitórios com o pé direito mais elevado e acessado através de uma escada marinheiro
Imagem dos autores do projeto
Corte BB: nova escadaria. À esquerda: praça projetada. À direita: Muro da escola existente
Imagem dos autores do projeto
Fachadas norte
Imagem dos autores do projeto
ficha técnica
Autores
Cláudio A. Nuss e Fábio Maia Guzenski
