A construção da memória da arquitetura da paisagem é a base necessária para a sua homologação como prática operativa do espaço público contemporâneo.
1. Herança histórica
A estrutura política é indissociável da Polis, ou seja, da estrutura física pública da cidade. Estamos assim, reconstruindo a essência do espaço urbano público representativo.
2. Modificação do relevo urbano
Através do deslocamento de “placas tectônicas” recriamos um relevo com um novo valor de paisagem (entendendo tectônico no sentido da etimologia grega “a arte de construir”).
3. A existência de uma autonomia
Hoje este espaço é descaracterizado, um residual, resultado do fracionamento e de rupturas das massas construídas do entorno em relação à geometria da praça. Esta independência do entorno nos levou a considerar a praça como um objeto autônomo, que, no entanto, poderá ter a capacidade de catalisar as futuras ocupações urbanas pela valorização do solo do entorno imediato.
4. O paradoxo dos subsolos
Sempre concebidos como pura funcionalidade, onde valores significativos de conexões e espacialidade estão proscritos e irremediavelmente acabam por resultar em residuais urbanos. O subsolo proposto reverte essa condição constituindo um fator positivo que agrega urbanidade, portanto usamos declividades apropriadas em planos e rampas com 3% e 6% que permitem grande mobilidade e segurança, tanto para público como veículos.
5. Os pontos de intermodalidade no transporte público
É a essência da “civitas”: a mobilidade e a visibilidade dos pontos de transferência: do transporte público ao carro, à bicicleta, ao caminhar, ao“flaneur”.
6. Leitura da região
Uma leitura aprimorada da região nos convida a dialogar com o entorno identificando dois setores determinantes:
- O plano limpo e minimalista a noroeste que incorpora o centro consolidado da cidade: as áreas para os eventos públicos multitudinários e solenidades.
- O plano inclinado arborizado ao sudeste que incorpora visualmente o verde dos morros (Mariquinha e Mocotó- APP): as áreas para os encontros nos “cantos” de sociabilidade.
7. Proposta para o futuro
A consolidação desta área como uma centralidade institucional tem como ponto de partida a readequação da praça. No entanto, deverão ser definidas diretrizes e instrumentos urbanísticos específicos para as quadras do entorno como forma de indução de novas construções e adensamento urbano compatível com as características do local, potencializando não só o uso da praça, mas de toda a região.
8. A legibilidade e a memória
Os fluxos de carros e pedestres serão de fácil compreensão e lógica, fator indispensável para a formulação nemotecnica (o lócus) do mapa mental, fator de apropriação pelos usuários, e portanto, de assimilação como “lugar próprio”ou lugar referencial.
9. A paisagem artificial do plano arborizado
Negamos a paisagem urbana, como objeto de consumo pintoresquista. O desenho do piso revela uma “projeção sólida” das sombras das árvores que associadas a inserção vertical de placas de cristal laminado – com desenhos serigrafados – formalizam as micro praças.
Este conjunto constituído pela familiaridade das sombras e o aconchego das micro praças definem os“cantos de sociabilidade”.
Ao andar sob as árvores podemos perceber: clareiras ensolaradas, cantos sombreados, pavimentos diferenciados, cada um com seu próprio caráter induzindo a uma atividade diferente… sentir-se livre para perambular elegendo seus lugares favoritos sem convenções.
A presença da água em bicos distribuídos por toda a praça arborizada cria um grande sistema de filtragem, permeabilidade e coleta para os reservatórios de reuso.
A continuidade do desenho de piso adentrando as áreas comerciais reforça a integração dessas atividades à animação da praça.
A iluminação indireta nas árvores estabelece um “teto” verde ao mesmo tempo em que refletores rasantes ao chão definem sombras alongadas dos passantes que sobrepostas ao desenho do piso geram na superposição um novo desenho.
10. O anfiteatro
A passagem, o anfiteatro, o ponto de reunião. Espaço coberto com uma estrutura transparente estabelecendo um valor arquitetônico como ícone de união das diversas formas básicas de expressão coletiva. A estrutura transparente se transforma em um espaço para espetáculos.
Um sinal de identidade, foco de atenção e convite para uma animação permanente de vitalidade cívica.
13. O efeito “koyaanisqatsi”
Assim como em nosso universo, na natureza e inclusive nos espaços construídos, eles são “indiferentes” ao ser humano. Os movimentos das pessoas, e seus modos de ocupação são os que dão sentido aos lugares.
14. A arborização
Após uma análise fito-sanitária, serão mantidas as espécies indicadas no desenho, as demais serão transplantadas.
As espécies novas serão de variedades nativas da Ilha (da espécie Guarapuvu).
15. Tratamento das água pluviais
As fontes de água pontuais marcam uma malha virtual dentro do desenho do plano inclinado. Um sistema de recuperação e filtragem natural permite seu reuso a baixo custo.
ficha técnica
local
Florianópolis, SC
data
2010 – em andamento
cliente
Prefeitura Municipal de Florianópolis / IPUF
área de intervenção
20.500m²
concurso
Concurso Nacional, 1º Prêmio
arquitetura e urbanismo
Vigliecca & Associados
autor
Hector Vigliecca
coautores
Luciene Quel, Ronald Werner, Neli Shimizu, Caroline Bertoldi, Thaísa Fróes, Fabio Pittas, Kelly Bozzato, Pedro Ichimaru, Bianca Riotto, Aline Ollertz, Fernanda Trotti, Gabriel Farias, Paulo de Arruda Serra, Luci Maie,
colaborador
Fábio Galvão
artista plástico
Victor Lema Riqué