Histórico
A “Casa Caramuru”, originalmente uma casa rural na “Chácara Villalobos”, situa-se na Avenida Caramuru, nº 232, no Bairro Vila Córrego Preto na cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo.
Construída nas últimas décadas do século XIX, é um bem protegido, considerado de valor histórico e cultural, pela Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto pela Lei 4.881 de 06 de agosto de 1986 e tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – Condephaat pela Resolução 61 de 20 de outubro de 1988.
É destacada a importância histórica e cultural da Casa Caramuru registrada no processo de tombamento, fundamentada na análise dos técnicos do Serviço Técnico de Conservação e Restauro STCR, órgão assessor do Condephaat à época, bem como nas argumentações iniciais apresentadas pelo Vereador Valdemar Couraci Sobrinho, autor da propositura de Junto à Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto. Posteriormente, eleito Deputado Estadual foi ele que encaminhou correspondência ao Condephaat que deu início ao processo de tombamento Estadual.
A Resolução de Tombamento nº 61 observa:
"Este edifício, de construção anterior a 1894, figura como um exemplo documental da arquitetura do 'Oeste Paulista', com relevante destaque para:
a. sua raridade como um dos dois únicos exemplares urbanos remanescentes do século passado na cidade.
b. seu valor como amostragem do complexo urbano-rural da arquitetura do café nessa região.
c. as pinturas decorativas de suas paredes internas, revelando o estilo ornamental rococó".
(Processo Secretaria da Cultura – CONDEPHAAT – Solicitação de Tombamento Guichê: 00227 fls 147)
A casa da Chácara Vilallobos foi implantada a meia encosta, repetindo a solução encontrada em outras regiões do estado de São Paulo, onde a parte frontal da casa (à época) voltava-se para o Córrego Preto abrigava a sala e os quartos se abriam para a varanda, construídos sobre um porão habitável. Já a cozinha e o banheiro ficavam no fundo da casa e eram construídos sobre o terreno.
Construída em tijolos de barro cozido, assentados e revestidos com o mesmo material, recebeu estrutura de madeira para o telhado de quatro águas e telhas de barro. Os pisos dos quartos, salas e varanda eram de tábua corrida sobre barrotes e para as áreas molhadas a pavimentação era de ladrilho hidráulico e do porão de ladrilho cerâmico. Parte dos forros eram de madeira do tipo saia e camisa e parte do tipo paulistinha.
Há registros que comprovam que o desenvolvimento da Cidade de Ribeirão Preto incorporou a chácara ao meio urbano invertendo sua organização espacial primitiva. Assim os “fundos” da antiga casa da Chácara passou a ser a parte da casa voltada para rua, foi quando, provavelmente realizou-se uma intervenção na fachada, executada por Vicenzo Lo Giudice , criando-se uma platibanda e um muro de fechamento que marcava o acesso a parte externa, na lateral da casa por meio de um portão sobre cujos pilares foram instalados esculturas de leões.
Destacam-se ainda as pinturas murais descritas minuciosamente pela pesquisadora Maria Elízia Borges em sua dissertação de mestrado “A pintura na ‘Capital do Café”: sua História e Evolução no Período da Primeira República”, UNESP, 1983.
Desde meados da década de 1980 a Casa Caramuru tem sofrido pela falta de manutenção e total abandono por parte de seu proprietário. O telhado ruiu e a ação das chuvas danificou e comprometeu definitivamente elementos da construção original: forros e pisos também ruíram, a estrutura da varanda já não existe mais e a umidade começa a comprometer os revestimentos, além dos atos de vandalismo.
Ao seu lado direito foi construído um edifício de três pavimentos – uma loja de material de construção e ao lado esquerdo foi construído um bar. Ambas as construções realizadas sem qualquer preocupação estética e muito próximas à antiga casa da Chácara Vilallobos impedem sua leitura e compreensão.
A restauração da Casa Caramuru justifica-se não só por ser um importante exemplar da arquitetura do café do “Oeste Paulista” ou, ainda, por ser, junto com a residência Schmidt, um dos únicos exemplares da arquitetura do café na área urbana de Ribeirão Preto, mas também como testemunho da evolução urbana da cidade.
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Memorial descritivo
As paredes da edificação são os elementos que permanecem como os mais íntegros testemunhos da construção primitiva. Assim, a solução apresentada no estudo preliminar para o restauro da Casa Caramuru entendeu serem estes os elementos que deverão simbolizar a intervenção pretendida.
Para tanto, a solução proposta para a estrutura da cobertura – uma grelha metálica, além de servir como apoio às telhas metálicas térmicas e zipadas restabelece a rigidez e estabilidade das alvenarias.
Grande parte do programa de necessidades foi resolvido no pavimento superior, de acesso direto pela rua, sem a necessidade de qualquer alteração na divisão dos cômodos, restando para o porão a instalação do café e de sanitários para o público. Nesse nível, rebaixado em relação à Avenida Caramuru, pretende-se criar uma praça para convívio e contemplação do bem futuramente restaurado.
Propõe-se a recomposição da varanda, construída em estrutura metálica e apoiada sobre berços fixados nas alvenarias das fachadas voltadas para o Córrego Preto e sobre os pilares existentes também em alvenaria. A solução permitiu que o piso em tábuas corridas ficasse solto das paredes, demonstrando a estrutura original. Na circulação externa pretende-se instalar um elevador de modo a garantir a acessibilidade universal, além de uma escada que fará o acesso direto da praça ao Centro de Memória e Desenvolvimento Urbano de Ribeirão Preto.
O mesmo piso da varanda repete-se no interior da edificação no nível superior, mas ali a solução de apoio sobre barrotes de madeira repete a construção primitiva.
Para os forros das áreas fechadas da edificação uma nova solução, solta das paredes, servirá como espaço para infraestrutura de instalações.
Propõe-se também que a edificação na esquina da av. Caramuru com a rua Antônio Salomone, que hoje abriga um bar, seja demolida, devolvendo ao conjunto um acesso franco da cidade para a praça interna, como ocorria, provavelmente, quando ali estava o portão ladeado pelas esculturas de leões.
A proposta arquitetônica prevê um fechamento leve e permeável com tela metálica ou chapa expandida, fixo nas estruturas de cobertura e de piso da varanda, que constitui o novo volume voltado para a praça, revelando e ao mesmo tempo protegendo a fachada remanescente.
Por fim, para as pinturas murais nos cômodos principais da casa propõe-se sua reintegração e consolidação pictórica.
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ficha técnica
Arquitetura
SIAA
Andrei Barbosa
Bruno Valdetaro Salvador
Cesar Shundi Iwamizu
Daniel Nobre
Eduardo Pereira Gurian
Francesco Perrotta-Bosch
Rafael Carvalho
Rafael Goffinet
Levantamento Arquitetônico e de danos e patologias
Alexandre Gervásio João
Carlos Augusto Gomide
Maquete física
Henrique Costa
Leandra Myasaka
Consultoria de restauro
Estúdio Sarasá
Estrutura
Gepro Engenharia Ltda.
Levantamento Planialtimétrico
Topograf Agrimensura Ltda. EPP