O sobrado situado à Praça Coronel Esmédio, bem cultural protegido pelo Condephaat desde 1982, étestemunho de uma tipologia e de uma técnica construtiva que tão bem caracterizou a arquitetura paulista atéo século XIX e é sob este ponto de vista que a intervenção deverá ser guiada, de modo a conservar evalorizar o existente.
Neste sentido, a intervenção deverá ser orientada pelos princípios da distinguibilidade, reversibilidade, mínimaintervenção e compatibilidade de materiais, à luz do respeito à matéria autêntica, conforme as orientaçõescontidas na Carta de Veneza de 1964, elementos da Carta de restauro italiana de 1972 e na linha do restaurocrítico. Como também já consagrado pelas cartas, deverá ser dada especial atenção ao uso como primordialà conservação do monumento. Considera-se assim o Museu como equipamento público, vivo, de referênciapara a cidade e é a tal característica que as intervenções deste projeto buscam dar relevância.
Em termos práticos, a intervenção sobre o existente se dará em termos conservativos, visando a mínimaalteração da atual figuração do edifício, com atenção à sua estabilização e consolidação estrutural.Internamente, todos os novos elementos, tais como luminotecnia e instalações elétricas, terão linguagemcontemporânea, e recomenda-se que a museografia se desenvolva no mesmo sentido, valendo-se desuportes modernos, porém neutros, que não se sobreponham aos ambientes. Imagina-se ilhas expositivassoltas das paredes, de modo a permitir a fruição dos elementos arquitetônicos existentes.
O partido adotado para a intervenção busca extrapolar o lote urbano no qual se situa o edifício. Tal opçãoparte da constatação de certa escassez de espaços públicos no centro histórico de Porto Feliz, apesar de suaproximidade ao rio Tietê e ao Parque das Monções, de caráter bucólico. Assim, esta nova “praça do museu”comporia junto com a Praça da Matriz e a pequena Praça Coronel Esmédio - cuja marquise Déco a fezganhar o apelido de “chapéu da madre” – um novo sistema de áreas livres de lazer nestas quadras centraisda cidade.
Partindo desse dado, a intervenção proposta para o Museu busca realizar uma nova ligação urbana entre aRua Altino Arantes e Rua Arcílio Borges, garantindo a apropriação da área livre como espaço público etirando partido do fato do edifício estar construído em um grande lote urbano com baixa ocupação e tímidaapropriação do espaço livre existente. Um espaço de estar, polivalente, com vocações culturais e esportivas,mas que é – de forma permanente – uma grande sala, um recanto que se constitui a partir da relação detangência e apoio mútuo que estabelece com a marquise e as paredes que afloram do solo e quematerializam a ligação.
Tais paredes, que anunciam para o pedestre o uso urbano no interior na quadra e trazem a rua para oterreno, deverão ser permeadas por usos, configurados em um percurso. Em seu aspecto construtivo,pretendemos trabalhar com estrutura e painéis metálicos em aço corten, material leve, reversível, de rápidamontagem. O novo deve distinguir-se do existente por dissonância - contraste da massa construída dosobrado à leveza do aço; do prisma branco ao vermelho queimado das chapas metálicas. Porém nestecontraste, não se tem o intuito de fazer o novo competir com o existente, mas sim, acolher o público evalorizar as visuais do edifício ao longo do caminho.
Busca-se na geometria e posicionamento da peça, uma postura respeitosa em relação ao patrimônio pois elapraticamente não toca o edifício existente, a não ser no novo acesso proposto, pela fachada posterior doedifício. Em uma área onde já há um amplo trecho de parede cega, propomos uma incisão delicada queconduza o usuário para dentro do casarão, ou indique tal caminho pela linearidade de tal peça.
A intervenção prevê a demolição do volume correspondente aos sanitários, por descaracterizar a volumetriado edifício e dificultar a fruição da sua fachada posterior. Tendo em vista a necessidade de uma área deacesso generosa, não compatível com as entradas existentes nas fachadas frontal e laterais, que se abrempara corredores e um hall de pequenas dimensões, optou-se por implantar a bilheteria e guarda-volumes nasala 4 acessada pelo trecho de fachada já alterado pelo bloco de sanitários – área que demandariarecomposição, mas que não desejávamos sua repristinação. Tal decisão também se balizou na escolha dolocal para inserção do elevador: nesse ponto se torna natural solucionar o deslocamento vertical, para quetodo o Museu se torne acessível aos portadores de mobilidade reduzida.
Considerou-se que o local previsto inicialmente para o elevador pelo edital apresente problemas, seja doponto de vista do corte do assoalho e da dificuldade de posicionamento entre os níveis térreo e superior, sejado ponto de vista da circulação horizontal e distribuição de fluxos no interior do museu. Externamente, seráum novo corpo leve contíguo à entrada, que aproveita a necessidade de novo tratamento no térreo e utiliza-seum dos vãos existentes no piso superior.
O galpão existente, sem interesse para preservação, também será demolido para dar lugar aos novos usos.
Todas as áreas molhadas e o café estão previstos em blocos independentes do edifício, afastando um dosgrandes danos potenciais às construções em terra e seu acesso se dará através da marquise. Além dos usosprevistos pelo edital, cria-se na nova praça, espaços capazes de abrigar eventos da cidade, como a festajunina, que já ocupou o antigo rancho e a quadra existente, bem como shows, peças teatrais e mesmo o estarcotidiano, o passeio com as crianças e a permanência dos idosos.
Em frente ao sobrado, sugere-se a elevação do leito carroçável assinalando a presença do museu e conectando-o à praça.
Sempre causa surpresa constatar a real proximidade entre o rio Tietê e a cidade. Segundo relatos de porto-felicenses,quando ocorre a demolição de casas cujos fundos estão voltados para o parque, despertam asensação de que o rio está logo ali e nunca o vemos.
Apesar de ter apenas um núcleo consolidado, o Parque das Monções é linear e poderia contar com um novoacesso a partir da Praça Cel. Esmédio, com a simples desapropriação de um pequeno lote urbano, o estarproposto para o terreno do Museu das Monções poderia se estender até as margens do Tietê e ali consolidar-seum novo núcleo, que além do lazer, abrigaria atividades didáticas complementares às do Museu,reforçando a apropriação da água e do leito do rio como elementos da cultura e da história de Porto Feliz.
1. Histórico da edificação
O edifício foi construído na primeira metade do século XIX, em taipa de pilão e taipa de mão, com planta em “L” distribuída em dois pavimentos, em uma área construída de cerca de 820 m², como residência do capitão-mor, José Manoel de Arruda e Abreu. Entre os motivos que levaram à abertura de processo de tombamento do imóvel em 1969 pelo Condephaat, o conselheiro Vinicio Stein Campos escreve em 1969: “trata-se de prédio do Estado, dos mais tradicionais da cidade, imponente casarão que hospedou D. Pedro II e local onde se registraram importantes acontecimentos políticos da velha Araritaguaba” (CONDEPHAAT, fl . 02). Adquirido pelo governo do Estado em 1904, passa a ser utilizado pelo Grupo Escolar Coronel Esmédio, que funcionou no local até 1958, quando então recebe o Museu Histórico e Pedagógico das Monções, inaugurado em 1961. Já em 1998, o museu é municipalizado, sendo rebatizado como “Museu das Monções”.
Com relação às alterações e intervenções sofridas ao longo do tempo, podemos mencionar a substituição do beiral por platibanda, cuja datação ainda é difícil precisar, mas certamente ocorrida entre 1913 – data de fotografia publicada no livro de Roberto Capri, O Brasil e seus Estados, na qual o beiral ainda se faz presente - e 1969, quando já aparece com a nova feição nas páginas iniciais do processo de tombamento do Condephaat. Além disso, podemos mencionar a supressão da bandeira em arco pleno da porta, assim como a discreta ornamentação representada pela demarcação das pilastras em tambor, as cimalhas e frisos sobre as envasaduras. Nota-se na foto de 1969 a existência de duas faixas decorativas lisas sobre os vãos do primeiro e segundo piso, interrompidas sobre os vãos centrais (porta no térreo e janela no piso superior), mas muito discretas, pois aparentam ser de mesma cor que os panos de alvenaria. Em foto colorida de 1982 vê-se a fachada principal lisa, branca, marcada pelas envasaduras azuis. Já em 1997, os elementos são pintados em amarelo na base e coroamento do edifício, no piso dos balcões e faixa decorativa horizontal continua sobre as janelas do térreo. Nos anos 2000 foi acrescida faixa idêntica sobre as janelas do piso superior, com mesma interrupção sobre a abertura central.
Nos anos 1950, foi construído galpão provido de palco nos meio do terreno, conforme atesta placa fixada no local. Mais recentemente, um volume para abrigar sanitários foi construído junto à fachada posterior, descaracterizando a volumetria original do edifício.
Em levantamento fotográfico realizado em 1972, quando a edificação estava em precário estado de conservação, vê-se lacunas no revestimento e ornamentação, permitindo a visualização de trechos de alvenaria de tijolos na ala lateral, no segundo piso, o que demonstra a necessidade de maior pesquisa sobre a cronologia construtiva da obra.
2. Obras de conservação e restauração
2.1. Vedos
No geral, as alvenarias aparentam estarem sãs, sem evidências de fissuras, trincas, recalques, deformações, ataques biológicos, etc. O ponto que exigirá maior atenção se refere ao topo da fachada frontal, entre as envasaduras do 2º pavimento e a platibanda, que devido à ação da água da chuva ocasionou significativa área de erosão sobre dois dos vãos. A construção da platibanda fez diminuir a seção da taipa, que não resistiu ao transbordamento da calha e desagregou-se. Nos trechos erodidos, não localizamos a presença do frechal, apenas fragmentos de paus roliços no lugar das vergas, como usual na técnica. Para uma solução adequada, o projeto deverá prever minuciosa inspeção a fim de detectar toda área afetada pela ação da água.
Já no térreo da ala lateral encontra-se um superdimensionado reforço estrutural atirantado em concreto armado, que pelas dimensões pode ser considerada como descaracterização da fachada. Se possível após laudo estrutural, o projeto deverá prever sua remoção cuidadosa e substituição por solução que será dada pelo projeto estrutural após diagnóstico preciso da deformação/ inclinação verificada na fachada sudoeste, seja realizando reforço estrutural nas fundações, seja junto às alvenarias propriamenteditas.
Nestas, e nas demais intervenções que porventura sejam necessárias nas alvenarias de taipa; deverão ser previstos: análise laboratorial de amostras para caracterização das taipas de pilão e de mão (através dos métodos de análise petrográfica, mineralógica por difração de raios-X e granulometria); remoção das argamassas de revestimento nas áreas definidas pelo projeto de restauro para observação da sanidade das alvenarias e monitoramento de eventuais patologias localizadas; sondagens exploratóriasnas paredes e fundações a fim de mapear as alvenarias em taipa de mão ou eventuais alvenarias de tijolos ou outros materiais; sondagens a trado, em área externa à da edificação próxima da fachada com reforço estrutural.
2.2. Descupinização
Para elaboração do Projeto Básico, deverá ser contratado levantamento de Insetos infestantes e com potencial de infestação, com especial atenção à presença de cupins de madeira seca e cupins de solo. Deverão ser consideradas no levantamento as condições ambientais para as infestações de modo a fornecer solução que elimine as causas e não apenas as manifestações, complementarmente ao tratamento químico dos componentes. Os serviços previstos são: identificação botânica das espécies demadeira do telhado, caixilhos, paus-a-pique, pisos e forros, esteios, frechais e demais elementos estruturais; inspeção para avaliar a sanidade biológica das madeiras, objetivando caracterizar o ataque de fungos apodrecedores e/ou insetos xilófagos, por meio de alterações na aparência e resistência mecânica da superfície da madeira; avaliação da edificação e seus arredores para localização de possíveis focos de infestação por cupins e quantificação da intensidade do ataque; tratamento químico de solo interna e externamente ao imóvel, caixas e dutos de eletricidade e de telefonia, batentes erodapés de madeira, portas e janelas, assoalho, madeiramento de telhado, escadas e corrimãos de madeira, forros e barroteamento e árvores conforme definições do projeto.
2.3. Forros
Os forros são em madeira e foram sendo substituídos em obras ao longo do tempo, pois apresentam dimensões e qualidades variadas. A substituição de peças faltantes, comprometidas ou avariadas deverá ser realizada por outras de mesmas características formais e quando possível, de mesma madeira. Caso a madeira seja extinta, as obturações, enxertos e substituições de partes ou o todo dos forros poderão ser feitos em Cedro. Todos os novos elementos de madeira introduzidos no edifício devem passarpor tratamento de proteção contra ataque de insetos xilófagos através de processo de imersão. Os serviços de recuperação dos forros deverão ser precedidos de catalogação e salvaguarda de amostras para o perfeito refazimento, com as mesmas características encontradas.
2.4. Revestimentos de paredes internas
Para elaboração do Projeto Básico deverá ser previsto: análise laboratorial de amostras através dos métodos de análise química, petrográfica, mineralógica por difração de raio-x e granulometria para caracterização das argamassas e definição do traço utilizado na recomposição; remoção de camadas de massas acrílicas e em PVA liberando o revestimento original a base de cal de todas as paredes dos pavimentos térreo e superior; remoção de trechos de revestimento de argamassa deteriorada, solta e com obturações errôneas, com o uso de serra de disco diamantado para garantir a execuçãode trechos delimitados, após os testes de percussão; execução de trechos de revestimentonovo a base de cal nos locais onde houve a remoção, com composição e traço de argamassa idênticos ao existente, identificados em testes laboratoriais. A superfície acabada do refazimento do revestimento deverá facear o pano de revestimento original.
2.5. Pisos
Deverá ser executada a revisão dos assoalhos e barrotes de madeira de todos os ambientes com substituição das réguas comprometidas ou avariadas, por novas de características formais idênticas às existentes podendo usar a madeira Ipê ou Cumaru. O mesmo procedimento deve ser adotado para as soleiras, rodapés, corrimãos e degraus. Além disso, prevê-se raspagem e calafetação dos pisos em assoalho de todos os ambientes e posterior aplicação de camada de cera microcristalina para polimento com enceradeira de baixa rotação. Onde necessário, deverá ser aplicada a fita antiderrapante autoadesiva contrastante próxima das bordas dos degraus.
Para a elaboração do Projeto Básico deverá ser realizado levantamento minucioso do estado de conservação das peças de ladrilho hidráulico. São previstos: a limpeza manual através de escova de cerdas macias com o uso de detergente neutro para remoção da sujidade e enxague com água fria; a aplicação de solvente para remoção de camada de resina aplicada erroneamente causando manchas no piso; a substituição de peças avariadas com o mesmo desenho encontrado; aplicação de camada de cera microcristalina.
2.6. Esquadrias
Deverá ser realizada Identificação/numeração de todas as esquadrias, conforme planta e fichas parte integrante do Projeto Básico, contendo a análise do estado de conservação.
Para o restauro das esquadrias de madeira, serão previstos: remoção de pregos, grampos e quaisquer outros elementos estranhos apostos às esquadrias, seguida da remoção das camadas de tinta por meios físico-químicos, até a exposição total da superfície, seguido de hidratação do tecido lenhoso e masseamento nivelador de madeira; remoção e desmonte das seções de madeira que compõem as esquadrias que apresentamdeficiência mecânica a serem substituídas; reparo nos mecanismos defeituosos das ferragens; refazimento das partes ou peças comprometidas através de obturações, enxertos e substituição total das portas e janelas obedecendo criteriosamente as mesmas características formais, podendo ser usada a madeira Cedro; remoção e reinstalação dos vidros necessários ao tratamento dos caixilhos, com acondicionamento dos mesmos.A remoção cuidadosa dos vidros deverá ser precedida da identificação, catalogação e mapeamento de posição de todos eles em relação aos caixilhos e ambientes aos quais pertencem. Os vidros quebrados ou aqueles que vierem a quebrar durante a obra deverão ser substituídos por novos de mesmas características inclusive a fixação.
Quanto aos Gradis, prevê-se sua limpeza com água e detergente neutro e escova de cerdas macias; a remoção da pintura existente através de processos mecânicos e/ou químicos; remoção dos pontos enferrujados através do lixamento das superfícies oxidadas; interrupção do processo de oxidação por meio de produto químico neutralizador de ferrugem; reparos e revisão das ferragens das peças existentes; execução e instalação de réplicas dos elementos faltantes ou danificados, com peças de mesmo desenho e material das peças existentes.
2.7. Fachadas
Sobre a platibanda, executada em tijolo, há um trecho do ornamento inclinada, ameaçando desabar sobre a cobertura. Tal elemento deverá ser inteiramente removido e substituído por novo com mesmas características materiais e formais.
Para uma perfeita restauração das fachadas será necessária a remoção do revestimento em argamassa cimentícia utilizado nas áreas de desagregação do revestimento original à base de cal e nova aplicação, com o traço e composição originais obtidos através de testes laboratoriais. Serão previstos: teste de percussão e mapeamento das áreas de desagregação da argamassa de revestimento; remoção dos trechos de revestimento de base cimentíciae de argamassa deteriorada, solta e com obturações errôneas, incluindo-se o friso recentemente recomposto, com o uso de serra de disco diamantadopara garantir a execução de trechos delimitados; aspersão de água de cal a 1% para melhorar a aderência da argamassa ao substrato; aplicação da argamassa com o traço original a base de cal e areia; o revestimento novo deve apresentar a mesma textura que o revestimento original, para tanto deverá ser feitos exaustivos testes até a perfeita aparência com aprovação da fiscalização; limpeza mecânica dos ornamentos, com espátula e escova, para remoção de sujidades impregnadas e partes soltas ou desagregadas; reintegração da volumetria original dos ornamentos a partir da reprodução commoldes, empregando-se argamassa de idêntica composição e traço.
2.8. Cobertura
Para a cobertura, deverá ser feita inspeção minuciosa visando o máximo reaproveitamento das telhas e madeiras. Todas as peças danificadas serão descartadas. Serão previstos: retirada e lavagem com detergente neutro e posterior aplicação de hidrófugo à base de silicone das telhas existentes para reaproveitamento; substituição das peças danificadas do madeiramento do telhado (tesouras e caibros) e substituição total do ripamento; aplicação de manta de subcobertura; tratamento dos elementos de madeira com produto imunizante contra fungos, insetos xilófagos (conforme descritos anteriormente);reinstalação das telhas existentes já limpas e substituição daquelas faltantesou quebradas obedecendo às mesmas características formais; substituição do forro dobeiral danificado pelo mesmo tipo encontrado, onde deverão ser vedadas todas as frestasde modo a impedir a passagem de pombas; substituição dos condutores e calhasexistentes por novas, de chapa de ferro galvanizado em toda a cobertura, de corte edesenvolvimento conforme detalhe do projeto básico; instalação de rufos no topo dasalvenarias em taipa do piso térreo, geradas pelo recuo da alvenaria do piso superiorpela face externa.
2.9. Pinturas
Para a definição da proposta cromática, deverá ser realizado trabalho de sondagens eprospecções de superfícies parietais, forros e caixilhos, obedecendo-se ao método deestratigrafia de superfície – por método não destrutivo. Serão abertas faixas estratigráficas em diferentes alturas das paredes a fi m de investigar as fases cromáticas do edifícioe a existência de pinturas decorativas.
Nos panos de alvenaria da fachada, propomos a remoção total das camadas de pinturae massa acrílica liberando o revestimento original a base de cal, através dos procedimentoshabituais de decapagem por meios mecânicos e químicos, conforme resultadosde testes realizados e limpeza fina da superfície; pintura à cal ou silicato de potássio conforme especificação do projeto.
A hipótese cromática é de pintura geral das alvenarias em branco tanto nos panos dealvenaria quanto nos ornamentos, como na figuração visível nos anos oitenta, até queas prospecções pictóricas apontem novas informações. Tal proposta orienta-se pelaadoção de neutros, conservando-se a passagem do tempo através das alterações nocoroamento e ornamentação das fachadas, mas sem chamar a atenção para os elementosarquitetônicos devidos à ultima intervenção.
Nas paredes internas, caso sejam encontradas pinturas decorativas, serão deixadas“janelas” protegidas com resina “Paraloid” e o tratamento dado às superfícies será definido conforme as informações obtidas nos levantamentos.
Nas calhas de chapa de ferro galvanizado, rufos-pingadeiras, condutores, inclusive acessórios de fixação como braçadeiras, propõem-se a aplicação de fundo aderente Super Galvite; nas faces internas de calhas e de rufos de água-furtada, pintura com Neutrol ou similar; e pintura pela face externa em esmalte sintético na cor a ser especificada.
Regularização de toda a superfície de portas e janelas com a utilização de lixa nº 80 e120 para repintura, ou quando for o caso, recebimento da pintura nova, aplicação deselador, e pintura utilizando esmalte sintético acetinado em cor a ser especificada. Nosforros e rodapés, deverão ser realizados retoques com massa de madeira, nivelamentoatravés de lixamento, limpeza da superfície; e posterior pintura com tinta esmalte acabamentoacetinado em cores a serem especificadas.
3. Obras novas
3.1. Movimentação de terra
A apropriação do perfil topográfico atual pela intervenção proposta ocorre de formasuave e busca valorizá-lo ao expandir a grande área livre existente no platô que se situa3,5m abaixo do nível do Museu, esplanada que se qualifica com a chapa que desenhao espaço, seus bancos, e a grande arquibancada proposta na sua flexibilidade parareceber diversos usos e atividades. Para acessibilizar esta cota 95,00, propomos queo elevador faça uma parada também na cota 98,20, ou seja, 1,2m abaixo do nível doacesso, e à partir desse ponto, paralelo à divisa norte do terreno, inicie-se um trajeto emrampa, equipada e sinalizada conforme as normas vigentes.
3.2. Demolições e Remoções
As duas principais demolições propostas são externas ao Casarão. De um lado, propomosa retirada completa do pequeno anexo que abriga os sanitários externos – portratar-se de construção sem valor histórico e que descaracteriza o bem protegido – econstrução de um novo bloco para abrigar todas as áreas molhadas. A demolição desteanexo possibilitará certa liberdade para intervenção em pequeno trecho de fachadacega no térreo, ponto pelo qual pretendemos que se faça o acesso principal de visitantes. Por fim, o projeto prevê a demolição do bloco transversal de cobertura em duaságuas do dito rancho, para eliminar a obstrução visual representada por esse elementoe viabilizar a intervenção proposta para a área externa.
3.3. Estruturas
A estrutura portante para as novas construções serão simples, visto que a sobrecargaserá muito pequena e as novas cargas estarão afastadas da construção a ser restauradae preservada.
Os grandes planos verticais terão fundação linear, eventualmente com brocas ou estacas escavadas a distâncias a serem definidas pelo perfil geológico que se encontrenas sondagens. Serão muros de estrutura leve, recobertos com chapas de aço corten. A marquise é um desdobramento dos planos verticais, se resolve estruturalmente damesma forma, e contará com elementos estruturais de maior porte para vencer o grandevão livre.
Para as fundações do elevador serão necessários estudos e prospecções cuidadosospara determinar a necessidade ou não de afastamento em relação ao plano externo daparede do sobrado, entretanto propõe-se uma plataforma leve, que não representarágrande sobrecarga nas fundações. A torre do elevador terá estrutura metálica leve, aprincípio também em chapa de aço corten.
Os muros lineares de contenção, previstos ao longo do trajeto adaptado que se farálinearmente paralelo à divisa esquerda do terreno e também para vencer os desníveisjunto à Rua Arcílio Borges, são propostos em concreto aparente.
3.4. Alvenarias
As poucas alvenarias necessárias para a consolidação do programa de apoio, serão embloco de concreto estrutural.
3.5. Coberturas
No conjunto da marquise a cobertura será em chapas de aço corten, a fim de que amarquise tenha o mesmo aspecto também quando vista por cima. As chapas serãoestabilizadas quimicamente, como é próprio desse material, e protegidas, para prolongarsua vida útil. Os sistemas de drenagem serão por calhas e condutores embutidos,recobertos com placas removíveis para facilidade de manutenção. As coberturas serãoem lajes planas, impermeabilizadas nos blocos de sanitários, copa e café.
3.6. Revestimentos
Na maioria dos elementos arquitetônicos propostos os revestimentos serão em chapas de aço fixadas mecanicamente sobre frame estrutural metálico. As escassas alvenariasterão superfície sufi cientemente regular que permita seu recobrimento ou revestimentode forma rápida.
3.7. Pisos
Os pisos externos serão compostos por uma combinação de trechos em piso contínuoe outros em piso permeável, de forma que haja pleno atendimento à norma de acessibilidadee redução ao mínimo necessário a impermeabilidade do solo.
3.8. Esquadrias
Serão projetadas para terem grande durabilidade, portas metálicas e com materiais robustos, anti-vandálicos, etc. para a ventilação e iluminação naturais dos sanitáriose café, optou-se por claraboias que possam cumprir tais funções e requeiram mínimamanutenção.
3.9. Instalações Hidráulicas e drenagem
As instalações sanitárias estarão concentradas nos blocos de apoio, eliminando possíveisproblemas de conservação que poderiam decorrer da instalação de áreas molhadasno interior do sobrado. São de baixa complexidade e toda a drenagem de águasservidas se fará na direção da Rua Arcílio Borges, tirando-se proveito da topografiaexistente e evitando quaisquer interferências com a construção existente. O sistema dedrenagem será concebido de maneira a garantir o perfeito isolamento da taipa de pilãoe toda a fundação do sobrado em relação á umidade do solo e águas pluviais.
3.10. Instalações elétricas
O sistema de instalações elétricas será completamente refeito e calculado para atenderà demanda de um equipamento como Museu tendo em conta principalmente sua flexibilidadede usos. A nova entrada de energia e cabine de transformação estará situadajunto à Rua Arcílio Borges, a fim de eliminar as interferências visuais que o cabeamentocausaria junto à fachada do sobrado. A distribuição em baixa tensão, para rede elétricae lógica se fará com elementos aparentes, visualmente distinguíveis e cujo desenho e especificação evitarão ao máximo o contato com a construção existente.
3.11. Luminotecnia
O partido de projeto para a luminotecnia interna do Museu será baseado na especificação de um sistema contemporâneo e flexível, que possa atender adequadamentequaisquer usos expositivos, eventos culturais, institucionais, etc. Será um sistema modular, leve, com trilhos eletrificados e de desenho discreto. Propõe-se sistema completode iluminação externa que valorize o potencial arquitetônico do sobrado, das áreas propostas,árvores e praça para que seja viável e agradável o uso noturno do equipamento.
3.12. Paisagismo
O projeto paisagístico considera e tira partido das árvores de porte existentes no terreno,o par de palmeiras que existe plantado junto ao sobrado ajuda a compor o arcabouçoda praça do café. A linha de palmeiras existente ao fundo do lote e as duas árvoresde maior porte situadas no talude, ajudarão a conformar o recinto da praça da escadaria,dando sombra e permitindo também uma área sem pavimentação, para estar dosvisitantes e para a qual se prevê a especificação de vegetação de gramíneas e forração.
3.13. Instalações mecânicas
O elevador proposto será de mecânica simples, próprio de equipamentos de pequenoporte. Será do tipo hidráulico de pistão lateral e tem por objetivo principal atender àacessibilidade universal prevista na NBR 9050. Terá três paradas, a saber, cota 99,40m(térreo), cota 104,40m (superior) e cota 98,20m (inferior) a partir da qual parte o conjuntode rampas que permite o acesso à esplanada inferior.
3.14. Serviços Complementares
Sobre a marquise e ao longo dos planos verticais propostos na área externa, serãoprevistos sistemas de cabeamento capazes de atender à demanda de iluminação eforça decorrente de eventos, concertos e festas. Também estão previstos pontos para fixação de coberturas tensionadas, provisórias, ao longo de toda a área externa e novoselementos construídos.
3.15. Climatização
Do ponto de vista de conforto térmico e em primeira análise, a construção principal nãonecessita de sistema de climatização. Entretanto há duas situações de uso específicas,próprias de um equipamento cultural, que precisam ser contempladas: eventos nosquais haja concentração de pessoas e exposição de obras de arte, objetos, fotografias,pinturas, etc. que necessitem cuidados específicos de controle de temperatura e umidadedo ar. Essa demanda pode ser que se estenda à área de guarda do acervo, aolongo do tempo e à medida que o acervo for reunido. Tais condicionantes demandarãoa climatização parcial do imóvel, de alguns ambientes. A proposta preliminar que se fazé a de se trabalhar com sistema de split, com unidades compactas externas, dispostasnas coberturas das áreas de apoio (de forma discreta) e fan-coils internos integrados aos suportes expositivos, divisórias, mobiliários, etc. A tubulação de fluidos passará aolongo da marquise e por shaft situado na torre do elevador, devendo ter seu caminhamentointerno cuidadosamente estudado para evitar interferências com a construção.
3.16. Arqueologia
Está prevista etapa de investigação arqueológica da edificação e do solo em todo o terreno, a fim de levantar vestígios de construções e usos anteriores. A prioridade e nívelde detalhamento dos estudos arqueológicos será proporcional ao grau de intervençõesproposto para cada setor do terreno.
O desenvolvimento da pesquisa arqueológica deverá seguir um plano multiestágios,com adoção dos seguintes procedimentos:
- Método não interventivo: avaliação geofísica do terreno com utilização de Georadar para mapeamento de estruturas enterradas (antigas fundações, lixeiras, concentraçõesde materiais arqueológicos, fornos, fogões, canteiros, vias, etc.);
- Métodos interventivos: Aplicação de malha sistemática de sondagens arqueológicasem toda a área livre do terreno a ser modificado, visando a localização de estruturasmais discretas, não sinalizadas pelo radar; Abertura de áreas de escavação arqueológicanos locais que deverão sofrer modificações decorrentes do projeto de arquitetura enos quais tenham sido encontradas estruturas arqueológicas a partir dos procedimentosanteriores; Registro e mapeamento das estruturas encontradas; Curadoria, análisee acondicionamento para guarda do material arqueológico coletado durante as pesquisas.
Dependendo da significação histórica e patrimonial das estruturas encontradas, poderse-á prever a preservação das mesmas como elementos componentes do projeto de restauração adotado.
ficha técnica
Arquitetura
aa arquitetos associados
Antonio Carlos Barossi
Giovana Avancini
Paula Dedecca
ArcFaggin
Caio Faggin
Denise Invamoto
Colaboradores
Julia Caio Siqueira
Anna Carolina Attab
Ana Luisa Lopes Loureiro
Carolina Barreiros
Felipe Nascimben
Jeferson Thomaz dos Santos
Julia Paccola
Leandro Gomes
Lucas Mendonça
Estrutura
Yopanan Rebello (YCON Engenharia Ltda)
Estrutura consultoria
José Henrique Costalonga Seraphim
Instalações elétricas
Carlos Alberto Almeida (Enprel)
Instalações hidráulicas e protenção e combate a incêndio
Danubio Monte Pires (NDN – Engenharia, Projetos eC ltda)
Climatização
Roberto Akio Hattori (HTY Projetos de Engenharia Térmica ltda)