Avaliação preliminar da estabilidade da construção
O Palácio do imperador é uma construção de dois pavimentos realizada em alvenaria de tijolos argamassados com barro. A construção está elevada 77 centímetros em relação ao solo através de um embasamento também em alvenaria. Não foi possível verificar in loco, mas é muito provável que este porão fosse ventilado por gateiras que devem ter sido cerradas em alguma intervenção anterior.
Visualmente, as alvenarias aparentam estar em boas condições estruturais. Há somente deterioração superficial, sendo possível observar fissuras e trincas somente sobre as portas internas e trincas junto às paredes da ala onde estão localizados a escada e banheiros.
O madeiramento - barrotes, tesouras, frechais, etc - é apoiado sobre as alvenarias. Os pisos e forros, também em madeira, são constituídos por lâminas de 7 a 10 centímetros de largura com encaixe tipo macho e fêmea, fixados diretamente aos barrotes.
Todas as peças em madeira apresentam elevado grau de deterioração, sendo que muitos elementos encontram-se condenados, danificados ou faltantes, comprometendo criticamente a estabilidade e integridade do sistema construtivo.
Memorial
O conceito moderno de restauro patrimonial fundamenta-se no legado de continuidade cultural entre o passado, o presente e o futuro. Sabido que a restauração pressupõe a análise do estado de conservação das peças que compõe o objeto arquitetônico, o diagnóstico das sucessivas intervenções sofridas pelo monumento no tempo, discriminando aquelas que se incorporaram historicamente ao bem cultural daquelas que comprometeram o valor histórico, estético ou a própria conservação física do edifício. A definição do critério conceitual é, portanto, fator fundamental para orientar o que conserva
A liberdade de criação do novo projeto arquitetônico será inversamente proporcional ao valor cultural de cada ambiente ou elemento preexistente. Assim, quanto mais íntegro historicamente estiverem as formas e a espacialidade, mais o critério conservativo será prevalente, ou seja, o ímpeto da criação será substituído pela quase neutralidade das inovações. Nos ambientes cuja espacialidade ou elementos físicos não contiverem os valores culturais necessários, a nova intervenção poderá acrescentar valores contemporâneos à história da edificação. Nesse sentido, o restauro das fachadas, das alvenarias internas, dos caixilhos e portas, do piso e do forro, da cobertura, bem com da espacialidade e dos ambientes internos do Palácio do Imperador em Itapura terão um caráter conservativo, procurando sempre manter as características originais existentes. Novas intervenções são necessárias para a modernização e readequação dos espaços, como a substituição das instalações hidráulicas e elétricas. As novas intervenções devem comparecer com características próprias sem imitar ou falsificar o antigo e ressaltar a harmonia estética entre o novo e o antigo, como recomenda as normas internacionais.
Portanto, de modo a atender as exigências do edital do presente concurso quanto aos novos usos propostos e resolver as questões relacionadas à acessibilidade (NBR9050) propusemos a construção de um novo volume anexo ao edifício existente.
Esse novo elemento, justaposto ao volume original em sua face cega, abrigará uma escada em substituição a existente, que possui dimensões incompatíveis com os novos usos propostos. Além da escada, que é o elemento que faz a transição entre a construção original e a nova, esse volume anexo contará com um elevador e um banheiro adaptado para pessoas portadoras de necessidades especiais nos dois pavimentos.
A laje que cobre este novo volume servirá também de superfície de apoio do reservatório de água superior que deverá substituir o atual, instalado de forma precária e de difícil acesso, entre o forro e a cobertura da construção existente. No vazio antes ocupado pela escada antiga e aos banheiros a ela vinculados, propusemos instalar as novas instalações sanitárias, um banheiro por gênero, em cada um dos pavimentos, bem como os corredores de conexão entre o volume novo e o existente. Para tanto, será necessária a abertura de um acesso nos dois níveis do edifício.
O novo volume foi pensado em concreto armado, com fundações independentes da construção original e contará com uma junta de dilatação entre a antiga construção e a nova. Os novos caixilhos serão metálicos, com pintura eletrostática na cor cinza grafite e vidros temperados transparentes e incolores. Os pisos serão em concreto lixado e polido nas circulações, lances de escada e patamar e cimento queimado nos banheiros. Os novos corrimãos e guarda-corpos também serão metálicos com a mesma pintura dos caixilhos.
Propomos também reconstituir, na fachada oposta a do novo volume, um pequeno balcão existente. Para isso deveremos substituir as mãos francesas de madeira por novas em perfis metálicos pintados, piso em concreto lixado e polido e guarda-corpos metálicos.
O programa foi dividido da seguinte forma: No pavimento térreo localizar-se-ão os usos mais públicos do edifício, o salão central como espaço de acolhimento aos visitantes com as bibliotecas nas extremidades e, no pavimento superior, os usos mais restritos com as salas das secretarias sobre as bibliotecas e o museu no compartimento central.
O acesso ao edifício poderá ser feito tanto pelo “acesso principal” com alpendre, como pelo lado oposto, originalmente de caráter secundário, mas agora tratado com a mesma importância do anterior. Para isso, substituiremos a precária escada existente, responsável por vencer o pequeno desnível entre o piso térreo do edifício e o chão, por uma plataforma servida de um conjunto de rampa e escada. Vale ressaltar que essa rampa terá inclinação máxima de 5% de modo a evitar a construção de corrimãos, bem como de facilitar o deslocamento.
Duas praças foram projetadas nas esquinas opostas para a inserção do Palácio no tecido da cidade. Essas praças terão características distintas uma da outra, apesar de contarem com o mesmo tipo de pavimentação (bloco de concreto intertravado). A esquina da Av. João Soares com a Av. Imperador D. Pedro II constrói um novo espaço de encontro e convívio junto à avenida que se prolonga até o estádio municipal, a Igreja matriz e a praia do Rio Tietê. Já a esquina da R. Tiradentes com a Av. Imperador D. Pedro II, apropria-se dos renques de árvores existentes e estabelece um espaço de estar sombreado junto ao edifício, sendo um ponto de chegada dos estudantes da EE Dr. Paulo Grassi Bonilha e daqueles que vêm do centro da cidade.
Completando o tratamento da área envoltória, o mesmo tipo de pavimentação deverá contornar a quadra de modo a definir seu perímetro. A quadra, agora transformada em Praça do Palácio deverá contar, além da pavimentação proposta, com novas árvores como as Sibipirunas e Ipês aqui projetadas e bancos (de alvenaria e madeira) sob a copa das novas e velhas árvores, garantindo a este sítio a importância simbólica do lugar que abriga o Palácio.
ficha técnica
Arquitetura
Centro Arquitetura
Carlos Ferrata
Colaboradores
Diego Vernille de Silva
Fábio Hideki Teruia
Fábio Takayama Garrafoli
Lorran José Soares de Siqueira
Consultoria de restauro
Estúdio Sarasá
Estrutura
Gepro Engenharia
Elétrica, hidráulica e climatização
MBM Engenharia
Levantamento topográfico
Agritop Agrimensura e Topografia
Sondagens
Oeste Engenharia