A premissa fundamental do projeto foi criar espaço livre para a população da comunidade local. Essa diretriz foi originada da análise de dois elementos fundamentais do contexto pré-existente: primeiro, o fato do tecido da favela não contar com espaços coletivos de qualidade. Trata-se de uma malha densamente ocupada, onde os poucos espaços livres são estreitas vielas onde coexistem automóveis, esgoto a céu aberto e muita gente. Segundo, um terreno livre, de 1500m² que era utilizado pelos moradores como um dos principais acessos da favela, utilizado para eventos da comunidade e também como depósito de lixo de estacionamento de automóveis. A ideia principal, portanto, foi tornar esse terreno num grande espaço coletivo. Para tanto, organizamos o projeto em 4 “praças”: uma praça esportiva (a quadra de esportes), uma praça coberta (sob as salas de aula), uma praça plana (no centro, articulando os demais espaços), uma praça em patamares (no acesso, aproveitando a topografia acidentada) e uma praça elevada (na cobertura dos prédios).
A articulação entre a obra e os espaços abertos e coletivos gerados: A “obra”, para nós, é o conjunto de espaços abertos. Para configurá-los, e também dar conta do programa funcional, os blocos dispõem-se em composição ortogonal. O bloco menor, elevado, configura a praça coberta e protege a praça de esportes. Já o bloco maior cria uma relação mais direta entre os espaços externos e internos: é por ele que se dá o acesso principal aos edifícios. Além disso, as oficinas no pavimento térreo têm grandes portas que se abrem, integrando a praça ao interior do edifício nos dias de evento. No pavimento superior deste edifício maior, há uma pequena loja que se abre diretamente à rua, para vender os produtos fabricados na cozinha-didática. Adicionalmente, é importante observar que parte do terreno foi reservada para a criação de uma rua, de maneira a consolidar o uso pré-existente do terreno como acesso à comunidade.
A maneira como a obra tem gerado de forma evidente, espaços significativos abertos e coletivos, contribuindo desta forma, à apropriação do espaço e às melhorias da convivência na comunidade: É evidente a apropriação do espaço pela comunidade, mesmo que tenha sido realizado posteriormente um fechamento periférico com gradis removíveis. Os portões estão sempre abertos, permitindo que as pessoas entrem e usem o espaço mesmo que não tenham um vínculo específico com alguma atividade em curso. Para que esse uso seja real, contribuem as ações coordenadas pela Associação Viver em Família, como aulas de reforço, treinamentos profissionalizantes, campanhas de atendimentos médico, odontológico, jurídico, psicológico etc. Mas, sobretudo, contribui o espaço generosamente desenhado para ser parte fundamental de uma nova paisagem e de um novo cotidiano desses moradores. A disponibilidade e espaço coletivo qualificado promove a noção de que trata-se um bem de todos os moradores, que vêm se apropriando deste espaço de forma significativa e mantendo-o como um bem precioso da comunidade.