Um catalisador social
Lugar de conservação, difusão e transferência de conhecimento, a biblioteca, como edifício público, é uma referência de grande valor simbólico nas cidades – sua presença urbana prevalecente e destacada remonta a séculos.
Espaço tradicional da arquitetura, o patrimônio de seu acervo sempre engrandeceu o capital cultural, social e humano de uma comunidade, de um território ou de uma nação.
Na sociedade contemporânea, com a evolução das técnicas e dos meios de propagação do conhecimento, a biblioteca se transforma também em laboratório multimidial de informação. Essa condição, aliada à cultura do tempo livre e ao crescente valor que bens imateriais como informação, conhecimento e criatividade adquirem, permite à biblioteca ampliar suas funções e transformar-se em um catalizador social integrado de serviços destinados à cultura, informação, formação, estudo, encontro, entretenimento e lazer.
Contexto
A Antiga Área Portuária é um fragmento de cidade que se reconstrói.
Nesse contexto, o Porto Maravilha se apresenta como território estruturador de uma nova paisagem urbana, composta por novos edifícios, edifícios reciclados para novos usos e variados espaços destinados à interação e à convivência pública.
O Anexo da Biblioteca Nacional se localiza paralelo ao mar, contíguo a uma Praça Pública e entre o Binário do Porto, a Via Expressa e o Passeio de Pedestres. Juntamente com a Cidade do Samba, a Fábrica de Espetáculos do Teatro Municipal, o Aquário Marinho, o Museu de Artes do Rio de Janeiro e diversos edifícios e locais de relevância histórica, comporá um expressivo conjunto arquitetônico destinado à cultura e lazer.
A singularidade dessa localização, aliada à sua inerente importância como edifício público e institucional, reafirmam e reforçam seu valor simbólico e representativo. Assim, acreditamos que seu projeto deva externar uma arquitetura que o referencie como signo urbano forte, legível e com identidade suficiente para ser reconhecido e assimilado na memória coletiva.
Para que sua presença também qualifique o território, essa arquitetura deve se harmonizar com a escala e o ritmo do lugar, estabelecendo com a paisagem envoltória e os fluxos da cidade uma relação espacial contínua, direta e consequente – um lugar urbano por excelência.
Edifício
O projeto ocupa toda a projeção do lote, respondendo a um programa denso para um terreno de geometria irregular que preserva sua parte central edificada.
A partir dessa ocupação se estabelece o desenho e a volumetria do edifício que, lançado em balanço em direção a Praça Pública contígua, recebe e absorve com generosidade os fluxos urbanos.
Contando com térreo, pavimento inferior, mezanino e três pavimentos superiores, o edifício se unifica formalmente por uma pele metálica de proteção ambiental e revestimento externo. Um quarto e último pavimento de coroamento das Alas Leste, Oeste e Norte, proporciona variadas perspectivas da paisagem de entorno.
Dentro das prerrogativas funcionais e espaciais estabelecidas no Termo de Referência, o programa do edifício assim se organiza:
Ala Leste – voltadas para a Praça, encontram-se as áreas de grande fruição pública: a Biblioteca Pública, o Espaço de Eventos e o Bar/Restaurante.
Ala Oeste – com entradas e controles de acessos independentes, localizam-se os ambientes e setores administrativos e de serviços, apoio, suporte e infraestrutura da Biblioteca Nacional.
Ala Norte – área de transição entre os setores público e privado que concentra e setoriza por usuário as circulações verticais e os módulos de sanitários.
Biblioteca pública
Pensamos a Biblioteca Pública como um grande percurso arquitetônico. Um espaço integrado onde se combinam a Biblioteca Tradicional, de atmosfera serena e introspectiva, a Biblioteca Virtual, com informações disponíveis em rede de comunicação e a biblioteca interativa, multifuncional e, por vezes, informal, chamada por nós de Biblioteca Contemporânea.
No Térreo (100.00), o Saguão Principal recebe e distribui os fluxos de público ao Espaço de Eventos e à Difusão Cultural (Pavimento inferior), ao Bar/Restaurante (voltados para a Praça Pública) e à Biblioteca Pública (escalonada nos Pavimentos Superiores). A independência desses acessos garante o funcionamento autônomo desses ambientes.
A Livraria, o Balcão de Informações e o Guarda-volumes da Biblioteca antecedem a triagem do visitante que, cruzando os espaços do Painel Digital e das Exposições Informais, (localizados entre a Grande Escada e os Elevadores de Público), se inteira das atividades e dos acontecimentos da Biblioteca.
No 1º Pavimento (106.70), se localiza a Biblioteca Virtual, onde o visitante encontra bancadas, terminais e espaços variados para a conexão com o acervo em rede da Biblioteca Nacional.
A Biblioteca Geral ocupa o 2ª e 3º Pavimentos (111.35/116.00), onde se mesclam espaços de grande visibilidade a ambientes reclusos e silenciosos, destinados ao estudo e às pesquisas individuais e coletivas – como em uma Biblioteca Tradicional. A luz natural interna, filtrada pelas aberturas zenitais da cobertura e pelos caixilhos protegidos pela pele metálica perfurada externa, proporciona boa luminância e preserva a atmosfera de introspecção necessária à concentração.
No 4º e último Pavimento (120.65) se localizam integrados a Biblioteca Contemporânea e o Deck de Convivência aberto, coberto e protegido da ação de chuvas, que oferece espaços de vivência ao ar livre, múltiplos, dinâmicos e de grande interação. A contígua Sala de Leitura das Coleções de Periódicos e de Periódicos Raros, envidraçada, porém acusticamente isolada e controlada no seu acesso, se integra visualmente a esses espaços.
Contando com Mirante e Varandas em todo seu entorno, esse pavimento, transparente, iluminado e permeável ao olhar, proporciona perspectivas visuais variadas do interior da Biblioteca, assim como, da cidade, do porto e do mar.
Biblioteca Nacional
Os ambientes e setores administrativos e de serviços, apoio, suporte e infraestrutura da Biblioteca Nacional se distribuem rigorosamente de acordo com suas necessidades programáticas, funcionais e operacionais.
No Térreo (100.00/101.00), a triagem de funcionários, veículos funcionais e de serviço é seletiva e rigorosa - como requer uma Biblioteca Nacional.
Próximo aos acessos se concentram os Vestiários, os Serviços Gerais, a Garagem e as Docas que dão suporte direto ao CPT - Divisão de Manutenção Administrativa, Centro de Conservação e Encadernação, Coordenadoria de Microrreprodução, Laboratório de Microfilmagem e Laboratório de Digitalização.
No Mezanino (104.00) encontram-se a Estocagem Geral e o novo espaço destinados ao crescimento futuro do acervo do Arquivo BN – um acréscimo de área para o Armazém de Guarda de aproximadamente 25% em relação ao projeto original.
O conjunto Data Center e BN Digital se localizam no Pavimento Inferior (95.00) em área de acesso restrito e blindada por paredes e lajes de segurança.
Nos três Pavimentos Superiores (116.70/111.35/116.00) estão, respectivamente, o Centro de Processos Técnicos, a Divisão de Bibliografia Brasileira, a Coordenação Geral e as Divisões de Depósito Legal e de Serviços Técnicos e a Coordenadoria de Administração da COAD.
A Presidência, Diretoria e Coordenadorias, com acessos diretos, tanto pela ala de serviços quanto pela ala pública, ocupam o 4º Pavimento (120.65). Seus espaços de trabalho e reuniões se voltam para as Varandas e para o Deck da Presidência, destinado ao estar, ao trabalho e às reuniões informais ao ar livre.
Assim como no Deck de Contemplação da Biblioteca Contemporânea, o Deck da Presidência é aberto e coberto por envidraçados que o isolam das ações das chuvas e, consequentemente, reforçam os necessários isolamento e resguardo que o acervo contido no Armazém de Guarda da Biblioteca Nacional necessita.
ficha técnica
autores
Renato Dal Pian e Lilian Dal Pian
colaboradores
Carolina Tobias, Henrique Zulian e Luis Taboada
consultoria engenharias e sustentabilidade
AFA Consult