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Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense, Curitiba. Arquiteto Carlos Arcos
Foto Carlos Arcos
São poucas as oportunidades que temos de projetar obras que tenham uma capacidade real de transformação urbana de grande escala e que se constituam como um verdadeiro legado infraestrutural para nossas cidades. O caso do projeto arquitetônico do Complexo Esportivo e Cultural para Curitiba, que inclui o Estádio do Clube Atlético Paranaense, Sede Curitiba da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014™ e uma Arena Indoor, se apresenta, então, como um desses interessantes desafios.
Encarregado de receber um evento de caráter global, a Copa do Mundo Brasil 2014, mas que teria uma duração efêmera, a nossa responsabilidade foi construir um recinto sustentável social, econômica e ambientalmente para a Cidade de Curitiba, e para o Clube Atlético Paranaense, proprietário do mesmo.
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Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense, Curitiba. Arquiteto Carlos Arcos
Foto Carlos Arcos
Devia ser capaz de se ativar-se (“on”) muitas vezes, servindo também para outros eventos, de futebol e de qualquer outro tipo, que reviverão e renovarão a efervescência deste singular acontecimento. Assim, a “festa” será outra, mas o espírito permanecerá o mesmo, utilizando as enormes possibilidades do recinto legado. Propõe-se por tanto, focar na dimensão performática do mesmo através de um conjunto aberto e híbrido de abordagens parciais e complementárias que apresentam a “vida” do evento como a essência do problema arquitetônico a ser resolvido.
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Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense, Curitiba. Arquiteto Carlos Arcos
Foto Carlos Arcos
Utilizamos “o encontrado” como premissa projetual. A necessidade de chegar a conhecer intensamente uma realidade complexa desde nossa visão estrangeira foi fundamental para considerar, como estratégia projetual principal, os fundamentos extraídos desde um olhar atento a aqueles dados “encontrados”: arquitetônicos, urbanos e metropolitanos. Essa estratégia nos permitiu aprofundar em uma realidade cultural e histórica sem preconceitos nem linha temática que guiasse a indagação. Deveríamos levar em consideração também as coisas e fatos comuns, secundárias, sem aparente importância; detalhes e informações que incluem retalhos e anedotas que de outra maneira não seriam incorporados como informação relevante. Essa objetividade na análise do “encontrado”, deixa aberto o caminho a múltiplos significados e relações entre os fatos culturais e urbanos, podendo assim riscar novas conceptualizações até agora inexploradas.
Desta análise objetiva entendemos as três principais premissas que o projeto deveria procurar: uma implantação urbana que respeite a imagem da cidade e seus usos; a criação de um Complexo Multieventos Esportivo e Cultural que era uma demanda vital da população curitibana e paranaense e um Sistema Construtivo que aproveitasse ao máximo as condições industriais do Estado de Paraná e permitisse facilidade e agilidade de montagem. As três premissas respondem a uma posição ética que priorize a sustentabilidade social, econômica e ambiental.
A baixada...
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Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense, Curitiba. Arquiteto Carlos Arcos
Foto Carlos Arcos
De uma lógica de respeito pelo “encontrado”, nasceram as chaves que enriqueceram as decisões de implantação visando uma cuidadosa relação com a cidade, tanto física como perante seus usos e costumes. Um grande respeito a “vida” mesma da população que será a usuária do empreendimento. O novo e o existente deveriam potencializar-se mutuamente. Assim, trabalha-se com noções de diversas escalas simultâneas e complementárias. Desde a sua posição no meio da trama urbana que oferece uma acessibilidade total e uma excelente interligação com toda a cidade, até a sua relação de vizinhança com os prédios mais próximos. A sua localização na baixada do bairro de Água Verde, até a integração com a nova Praça Afonso Botelho. Ou desde a sua vocação de atrativo social e marco urbano, até o aproveitamento do desnível da topografia para uma melhor inserção na cidade, sem causar um impacto visual que interferisse com a imagem tipológica do bairro.
A gleba está situada no leito do vale do Rio Água Verde. Essa singular localização topográfica outorga ao conjunto uma ideia de “respeito” pela cidade, o contexto e sua escala urbana, pede uma arquitetura que não imponha a sua presença na paisagem urbana. Ao contrário das implantações de destaque próprio de edifícios destinados ao Poder Político ou Religioso de todas as épocas, que eram implantados nos altos das cidades, o Complexo situa-se num terreno que dialoga e se integra em forma amável a cidade. Assumimos essa realidade urbana e procuramos por todos os meios respeitar e potencializar este critério de implantação para promover, desde a arquitetura e as decisões urbanas um diálogo permanente e aberto com a população. Para isso foram utilizados vários recursos visuais que propõe uma escala adequada em relação às edificações vizinhas: fragmentar a fachada até atingir a escala doméstica criando uma envolvente de partes; utilizar a modulação estrutural para continuar com a imagem urbana de prédios de baixa altura; e dividir a fachada em duas alturas através da mudança de materialidade, horizontalizando o volume. Respeitar alinhamentos, criar afastamentos, fragmentação, modulação, repetição, se transformaram em ferramentas poderosas contra a unicidade do objeto, uma forma preconcebida ou o respeito pelas proporções.
Uma luz no skyline...
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Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense, Curitiba. Arquiteto Carlos Arcos
Foto Carlos Arcos
Mostrar ao exterior a “vida” do evento, fazendo que a cidade participe dele como imagem não objetual, foi a ideia principal desde os primeiros esboços do projeto. Esta interação “arte-vida” – arquitetura da população que prioriza o respeito pela “vida” dos habitantes –, posiciona o olhar fundamentalmente no evento e elimina toda intenção formal de fazer um edifício singular na paisagem urbana. Por essa razão foram deixadas de lado ações de desenho que procurem uma presença destacada cheia de significados como propósito de impor-se perante a cidade. A nossa intenção, pelo contrário, foi ser respeitoso e amável com a mesma.
A criação de um efeito de iluminação que, quando seja dia de “festa” se acenda (on), e lembre a cidade sua presença elevada do suporte urbano destacando-se na paisagem noturna de forma calma, mas ao mesmo tempo de forma ativa. Quando o evento se apaga (off) volta a surgir um edifício com vocação de desaparecer, de se tornar cidade novamente.
O diálogo está aberto.
Cria-se então um edifício híbrido, com cores neutras e sem uma forma singular de destaque; que permita então gerar a sua imagem desde o Evento e não se imponha a ele. Será a ‘festa’ de cada Evento que servirá de imagem principal do Complexo: suas cores, bandeiras, fantasias. É assim como se propõe uma “caixa iluminante”, translúcida, onde o “on-off” do Evento deixa num segundo plano a arquitetura que atua a modo de véu. A imagem se cria quando se acende mostrando a cidade sua vida interior, sua intensidade, a pulsante emoção e vibração do acontecimento. Esta caixa iluminante banha a cidade de luz, anunciando um novo dia de “festa” coletiva. Os refletores criam uma imagem do complexo suficientemente potente e representativa do evento para se manter na memória da cidade. A intensidade do instante.
A repetição do fragmento como diálogo aberto...
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Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense, Curitiba. Arquiteto Carlos Arcos
Foto Luciano Machin
O Sistema é protagonista e sujeito de reconhecimento. A proposta se apoia assim em um Sistema Complexo e aberto de partes ou componentes, estruturador de todo o projeto. Esta premissa torna necessária a definição de um módulo estrutural e dos fragmentos que trabalha por repetição. Esse módulo se define com base no “encontrado”, nos requerimentos de uso e as dimensões das partes ou peças utilizadas. Essa maneira de definir as regras de jogo, simples e repetitivas, dá lugar a um desenho controlado, eficiente e aberto.
Aproveita-se ao máximo então, o potencial expressivo desses componentes, baseado em sua contundência e nas possibilidades que oferecem as transparências da pele exterior e a concepção geral do prédio. O Sistema de partes ou componentes Complexo e aberto permite a maior flexibilidade de uso. A arquitetura se põe ao serviço da “vida” da população para potencializar suas manifestações populares: o futebol, diversos esportes, os recitais e shows, todos os Eventos que a população deseje coletivamente.
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Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense, Curitiba. Arquiteto Carlos Arcos
Foto Luciano Machin
Para possibilitar que o Estádio se transforme numa autêntica Arena Multieventos se propõe uma cobertura retrátil que permite um potencial muito maior de uso. Admite configurações variáveis entre 1.000 a 60.000 espectadores utilizando os campos de jogo. Essa premissa de máxima flexibilidade e área totalmente coberta, implica, além de uma postura ética de profundo sentido social, um conjunto de múltiplas considerações técnicas: espaciais, materiais, estruturais e infra estruturais. As condições de flexibilidade que outorga a repetição de partes resultam numa metodologia apropriada para enfrentar este desafio.
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Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense, Curitiba. Arquiteto Carlos Arcos
Foto Luciano Machin
Uma sinergia total entre as partes completa a ideia de potenciar a flexibilidade. Um verdadeiro Complexo Multieventos deve ser capaz de adaptar-se a maior diversidade de usos possíveis e a sinergia como proposta permite que uma parte se aproprie da outra sempre que seja necessário de acordo com a dimensão do Evento. Uma arquitetura neutra formada por uma somatória de fragmentos modulares permite acolher diversas configurações espaciais. Um edifício eficiente e compacto, de dimensões e subdivisões adequadas, de estrutura e infraestrutura simples e clara para dar maior poder de dialogo aos possíveis usuários.
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Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense, Curitiba. Arquiteto Carlos Arcos
Foto Luciano Machin
ficha técnica
obras
Complexo Esportivo e Cultural Clube Atlético Paranaense
Estádio Arena da Baixada
Arena Indoor
proprietário da obra
Clube Atlético Paranaense
autor do projeto arquitetônico
Arquiteto Carlos Arcos Ettlin
ano do projeto
2007-2014
localização
Rua Buenos Aires, bairro Água Verde, Curitiba, Paraná, Brasil
área
125000.00 m2
fotografias
Nelson Kon e Carlos Arcos