O exterior bruto e resistente da pedra contém e protege o que há de precioso em seu interior. Ao se fechar para a rua, o edifício conserva em seu centro o que nele existe de mais valioso, o vazio. O pátio aqui tem o papel de elemento de articulação e palco para o cotidiano. A existência do espaço central como evento, núcleo da organização espacial, é um incentivo ao encontro e à convivência coletiva.
Sustentado sobre um programa que oferece condições atrativas de financiamento de moradias para famílias de baixa renda (programa Minha Casa Minha Vida), o projeto emerge com a premissa de construir com o mínimo de recursos financeiros o máximo de incentivos arquitetônicos para a convivência harmoniosa entre os moradores. O desafio, portanto, foi determinado pelos parâmetros fundamentais do projeto: construir oito apartamentos, com uma suíte e um quarto com banheiro no corredor de aproximadamente 70m2com custo de construção inferior a 1.300,00 reais o metro quadrado.
Desta forma, o projeto explora a qualidade volumétrica de conter o espaço vazio e definir o pátio interno ao edifício contrariando a ocupação preconcebida para este tipo de empreendimento, sem nenhuma interação entre si ou aos elementos urbanos adjacentes. A implantação da Vila Amélia em torno do vazio sugere a ocupação do espaço coletivo e o coloca como questão central na estruturação funcional do edifício.
Ao elevar o pátio à condição de articulador programático, o coletivo passa a desenhar o privado de forma que eles se relacionam em diversos momentos na Vila. Os quartos são voltados para as áreas de menor tráfego e permanência enquanto as áreas sócias dos apartamentos se voltam para o vazio, que com a presença de paisagismo consegue proporcionar privacidade aos apartamentos e qualidade de vida aos moradores.
Como forma de reduzir custo com a obra, a edificação foi concebida com uma modulação estrutural ideal para a construção em concreto armado e lajes pré-fabricadas. Passarelas metálicas articulam os volumes com fechamentos em alvenaria de tijolo baiano. As janelas e portas com dimensões padrão de mercado dispostas de forma dissemelhante, são determinantes para o aspecto final do edifício. A leve inclinação na cobertura estipulada pela telha de fibrocimento que cobre a laje, possibilita uma maior iluminação do pátio e agrega à composição da fachada da edificação.
A partir do incentivo ao encontro a Vila Amélia propõe de forma singela uma nova prática no modo de vida de seus moradores. O projeto resulta de uma convergência entre espaço construído e não construído condicionantes deste modo de vida. O vazio suplementar ao conjunto arquitetônico atua como catalisador de situações sociais.
ficha técnica
projeto
Vila Amélia
datas
Projeto: 2015
Conclusão da Obra: 2017
local
Sertãozinho SP Brasil
autores
Arquitetos Fernando O’Leary, Pedro Domingues e Pedro Faria / Vaga Arquitetura
áreas
Terreno: 528m2
Construída: 580m2
valor do m2 de construção
R$1.300,00
cliente
2R Empreendimentos Imobiliários
fotos
Leonardo Finotti
nota
NE – O júri do Prêmio Instituto Tomie Ohtake Akzo 2018, formado pelos arquitetos Adriana Benguela, Fábio Mariz Gonçalves, José Lira, Marcos Boldarini e Priscyla Gomes, selecionaram treze finalistas, publicados nos números 211 e 212 da revista Projetos do portal Vitruvius:
01. PRISCO, Alexandre; ANDRADE, Nivaldo. Casa do Carnaval. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 211.01, Vitruvius, jul. 2018 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.211/7056>.
02. MANGABEIRA, Daniel; COUTINHO, Henrique; SECO, Matheus. Casa 711H. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 211.02, Vitruvius, jul. 2018 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.211/7058>.
03. NITSCHE, Lua; NITSCHE, Pedro. Residência Piracaia. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 211.03, Vitruvius, jul. 2018 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.211/7059>.
04. O’LEARY, Fernando; DOMINGUES, Pedro; FARIA, Pedro. Vila Amélia. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 211.04, Vitruvius, jul. 2018 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.211/7060>.
05. TEIXEIRA, Carlos M. Casa no Cerrado. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 211.05, Vitruvius, jul. 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.211/7062>.
06. VAINER, André. Residência em Gonçalves. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 212.01, Vitruvius, ago. 2018 <http://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.212/7063>.
07. VIGLIECCA, Héctor; QUEL, Luciene; SHIMIZU, Neli; WERNER, Ronald Fiedler. Parque Novo Santo Amaro V - Programa Mananciais. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 212.03, Vitruvius, ago. 2018 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.212/7064>.
08. MACIEL, Carlos Alberto; ITOKAWA, Ulisses Mikhail Jardim. Estúdios Ouro Preto. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 212.04, Vitruvius, ago. 2018 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.212/7065>.
09. CALVINO, Rodrigo; PORTAS, Diego. Hostel Villa 25. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 212.02, Vitruvius, ago. 2018 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.212/7071>.
10. JUNI, Anna; WINKEL, Enk te; DELONERO, Gustavo. Sede de uma Fábrica de Blocos. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 212.05, Vitruvius, ago. 2018 <http://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.212/7073>.
11. FANUCCI, Francisco; FERRAZ, Marcelo. Cais do Sertão. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 216.02, Vitruvius, dez. 2018 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.216/7193>.
12. XAVIER, Cristina. Vila Taguaí. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 205.03, Vitruvius, jan. 2018 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.205/6859>.
13. ROCHA, Paulo Mendes; MOREIRA, Marta; BRAGA, Milton; FRANCO, Fernando de Mello. Sesc 24 de Maio. Projetos, São Paulo, ano 18, n. 206.02, Vitruvius, fev. 2018 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.206/6886>.