O projeto partiu de uma encomenda da Associação Comercial de São Paulo que queria propor uma readequação desse recinto icônico da fundação da Cidade.
Propusemos um estacionamento subterrâneo, em torno da construção pré-existente (não original porém, já consolidada no terreno) com acesso por uma viela secundária intermediária a dois palacetes gêmeos que sinaliza o endereço. Os pisos do estacionamento se alternam ora inclinados, ora em nível, permitindo que, se desça suavemente ao contornar a pedra do palácio e fazendo com que, ao se chegar à saída, em rua secundária, teremos vencido o desnível original, de 15m, entre o Pateo e a meia-encosta da base da Colina, junto ao Vale do Tamanduateí. O Elevador do estacionamento, de grande porte, aflora na Praça servindo de equipamento público de locomoção interligando os dois níveis, a exemplo do Elevador Lacerda, em Salvador. Enfatizamos a importância de se re-abrir a circulação pela escadaria do Beco do Pinto, restaurado durante o desenvolvimento do projeto porém, mantido fechado, com o intuito de criar um binário de conexão entre a parte alta e baixa da Cidade, naquele sítio, complementados pela ladeira Porto Geral, que margeia o lado oposto do Pateo e conecta, de forma mais suave, os dois níveis.
A ideia era franquear, novamente, este espaço ao público redesenhando, em aço e vidro, o pavilhão que abriga o remanescente da parede de taipa e recompondo o claustro, com suas plantas e espelho d´água (remetendo à ideia do Paraíso, no linguajar jesuíta) para as atividades protegidas de meditação e retiro dos religiosos. As conversadeiras remetem àquelas antigas, inseridas nas espessas paredes de pedra porém, instalam-se num volume oco de placas de granito apicoado, fixadas a uma estrutura de perfis metálicos que retoma a ideia de construção / mobília. Para completar o lado faltante do claustro, pensamos numa marquise espessa em concreto branco que remetesse à ideia das maciças paredes de alvenaria que, por absurdo pudessem, agora, flutuar. Para permitir um eventual franqueamento do claustro ao público (como se observa hoje) desenhamos grandes portas painéis pivotantes, igualmente brancas, que conferem essa versatilidade ao espaço.
As intervenções contemporâneas destacam-se pela linguagem atual e despojada enfatizando, como é de consenso internacional, os adendos de hoje ao bem histórico. O pavilhão que abriga o fragmento da parede de taipa original abriga uma cafeteria e o acolhimento do Museu de Anchieta, redesenhado no piso imediatamente abaixo ao nível do Pateo e que, se interliga ao porão da Igreja. A Consultoria para estruturas metálicas, e em concreto, foi prestada pela engenheira Heloisa Maringoni.
Com ampliação dos espaços museológicos liberamos o salão do piso superior do Palácio voltado ao Páteo do Collegio para abrigar um segundo restaurante, mais aconchegante com vistas tanto para o palácio da Justiça, prédio emblemático do Centro Velho, como para o claustro.
O estacionamento bem como, o novo restaurante e o centro de convenções foram pensados como elementos de geração de receita e oferta de recursos escassos na vizinhança imediata reforçando o caráter de apelo turístico do local. A ideia seria contrapor aos sobrados históricos mal adaptados em exíguas garagens das adjacências (rua Roberto Simonsen, por exemplo) que eliminaram o comércio local e transformaram a região num deserto nos horários não comerciais uma estrutura planejada para tal fim atendendo a 500 vagas segundo dimensionamento de eficiência econômica elaborada pelo parceiro, líder no setor de estacionamentos que investiria recursos na obra em troca de gestão do negócio por um longo período de tempo, estruturando uma Parceria Público Privada — PPP.
A viabilidade desta intervenção, sob o aspecto do impacto ao Patrimônio Histórico baseou-se em competente consultoria das professoras arquitetas Cássia Magaldi e Leila Diêgoli, elaborada a pedido dos jesuítas. Com base nesta consultoria, também, que não considerava histórica e representativa a vegetação das encostas em “L” da colina, é que se redesenhou, sob a direção do paisagista arquiteto Raul Pereira, a ocupação desse jardim configurando-o como monumento. As espécies selecionadas buscam ao mesmo tempo, forrar de forma baixa e rasteira as encostas, acentuando a conformação da topografia e juntando a elas, uma sinfonia de árvores esbeltas de copa alta e troncos de diferentes texturas e cores, que enfatizam a conexão visual entre o Pateo do Collegio e o Vale do Tamanduateí.
Completa o programa um centro de referência estruturado em torno de significativa biblioteca temática que os jesuítas receberam de Roma.
ficha técnica projeto
Readequação para o Pateo do Collegio
local
Pátio do Colégio, São Paulo SP Brasil
data
2013
arquitetura
Pedro Mendes da Rocha (autor)/ Arte 3 Arquitetura
museologia
Ana Helena Curti/ Arte 3 Arquitetura
estrutura
Heloisa Maringoni/ Cia de Arquitetura
paisagismo
Raul Pereira/ Raul Pereira Arquitetos Associados
premiação
IAB/SP Especial 75 anos (2018). Categoria Restauro e Requalificação