Pensar um pavilhão efêmero com ampla liberdade de experimentação, sem as restrições que usualmente se apresentam em projetos convencionais, é uma oportunidade que a ArcelorMittal oferece aos arquitetos, trilhando um caminho raro no Brasil e frequente em instituições, museus e centros de cultura mundo afora, que promove a arquitetura na sua mais profunda razão: a pesquisa tecnológica e espacial dedicada à invenção de novas possibilidades para a vida. Daí seu valor.
Nesta edição, o desafio consistiu em ir além da instalação efêmera, pensando uma implantação inicial na Casacor Minas Gerais que permitisse múltiplos usos e ao mesmo tempo sua desmontagem e remontagem em outros contextos. A ideia de reutilizar e ampliar a vida da estrutura vem no encontro das mais contemporâneas tendências da economia circular que a ArcelorMittal abraça em sua atuação.
Sua inserção na rua Sapucaí, um contexto urbano vivo em franco processo de transformação, vem reforçar a vocação cultural e gastronômica da região. No pátio frontal do belo casarão histórico tombado onde outrora funcionavam escritórios da extinta Rede Mineira de Viação e da Rede Ferroviária Federal, o pavilhão explora diferentes relações com o contexto: a vista para a cidade que a elevação em relação à rua Sapucaí oferece; a integração da locomotiva, que atravessa o pavilhão; a sombra das árvores da calçada; a vista para o próprio casarão.
O pavilhão utiliza telas soldadas nervuradas nas suas dimensões de fabricação para definir a modulação geral do sistema, a fim de evitar a geração de resíduos e perdas na produção. Adota um sistema de industrialização das partes com montagem no local, de modo a permitir sua desmontagem ao final do evento, seu transporte para uma localização definitiva e sua remontagem integral, onde a mesma estrutura será utilizada para outros fins. Amplia-se, assim, o ciclo de vida desta pequena edificação.
“Outras nuvens”, vídeo inspirado no processo de criação do Pavilhão Nuvem ArcelorMittal, Arquitetos Associados
É, portanto, mais do que um edifício ou um objeto: ele resulta de uma lógica de sistema. Assim pensamos os principais elementos que constituem esse sistema: módulos de paredes portantes, módulos para coberturas, módulos para espaços de apoio/sanitários, sistema para nivelamento das peças no piso, módulos para bancos ou arquibancadas. Além destes, aplicados no pavilhão, também se prevê um conjuntos de elementos de cobertura que pode receber um material translúcido, em policarbonato, ou opaco, em telha metálica com isolamento termo-acústico. Essa cobertura permitirá ampliar o potencial de uso da estrutura também para períodos chuvosos. A lógica de sistema permitirá pensar em outros pavilhões e edifícios, maiores, menores, com outros atributos espaciais e para outras finalidades.
A partir de uma tela padrão, recorta-se o módulo. Nele são soldadas treliças nervuradas para estruturar o conjunto e receber o próximo painel de tela. Repete-se a operação sucessivas vezes, formando um módulo de paredes.
Acrescentam-se suportes em barra chata para conexão entre os módulos, a fim de montar as paredes. Empilhados e soldados os módulos, constrói-se a parede vazada, com capacidade estrutural.
As regras para combinação decorrem da própria lógica construtiva: os elementos de estrutura de teto, uma vez montados, são travados nas paredes por peças conectoras em perfis leves. Quando aparafusados, estabilizam o sistema. Sua lógica de montagem exige paredes em pelo menos dois lados, ou em trechos parciais dos quatro lados. Os módulos de cobertura, de 6 por 6 metros, podem se combinar em linha, em malha e em malha defasada. Assim, um conjunto variado de possibilidades de arranjos e escalas surge, revelando o amplo potencial do sistema para a criação de espaços de lazer, descompressão, avarandados e multiusos, que podem ter espaços de apoio associados, conforme a necessidade, alternando grandes espaços indeterminados e módulos menores de apoio. Nestes últimos, o elemento vertical que conforma o espaço interno é revestido em espelho, que reflete a malha estrutural que o envolve e assim dissimula a presença do espaço fechado, potencializando o caráter diáfano e imaterial da construção.
A possibilidade de dispensar envoltórias pesadas e demarcações estritas entre o interior e o exterior favorece a integração com o entorno, com grande transparência e permeabilidade. Para a montagem na Casacor Minas Gerais, incluímos cortinas leves em linho, que conferem mais intimidade ao espaço interno e, quando abertas, permitem a integração com as áreas livres e o atravessamento do olhar pelas malhas das estruturas. Para os momentos em que o pavilhão se abre e se oferece à livre apropriação do público, ganchos de vergalhão podem receber redes de descanso, conformando um espaço lúdico e um intervalo na intensa experiência de visitação do evento. A nuvem de aço a um só tempo abriga e revela sutilmente o interior. Conforma o espaço e estabelece conexões sutis com as paisagens do entorno. Envolve e acolhe. Assim pensamos esse pavilhão, que oferece aos visitantes do evento um lugar de pausa e intervalo.
“Outras nuvens”, vídeo institucional do Pavilhão Nuvem ArcelorMittal, Arquitetos Associados
ficha técnica
projeto
Pavilhão ArcelorMittal na Casacor MG 2018
local
Belo Horizonte MG Brasil
ano
2018
arquitetura
Rafael Gil, Carolina Miguez, Filipe Silva Gonçalves e Marcos Vinicius Lourenço (autores) / Arquitetos Associados
execução
Jorge Maciel da Silva / Precon Estiraço
consultoria de iluminação
Mariana Novaes / Atiaîa Lighting Design
paisagismo
Felipe Fontes / FLP Paisagismo
cliente
ArcelorMittal
foto
Dentro Fotografia / Gabriel Castro / Olada Audiovisual / Pablo Lobato
vídeos
Outras Nuvens / Olada Audiovisual