O projeto do novo escritório da GK Ventures – empresa cuja missão é apoiar iniciativas que ajudem a solucionar grandes problemas brasileiros – se concretizou a partir de uma busca intensa do arquiteto em conjunto com seus fundadores Eduardo Mufarej e Thomaz Pacheco, por edifícios com integridade arquitetônica na região da Faria Lima. Tarefa nada fácil, para o ainda jovem distrito financeiro que se perde entre sucessivos reflexos de edifícios genéricos e banais. A busca criteriosa foi motivada pela amizade em comum com jornalista de arquitetura Raul Juste Lores, autor do livro São Paulo nas Alturas e redator-chefe da Veja São Paulo, e que nesta oportunidade, estabeleceu o contato entre as partes envolvidas.
Três meses de procura levaram ocasionalmente, ao Edifício Capitânia. Uma visita ao Edifício Acal culminou na lembrança do Capitânia, do mesmo arquiteto e do outro lado da rua. Enquanto o Acal se mostrava extremamente atraente de fora para dentro – enquanto marco urbano –, o Capitânia, menos publicado e discreto, se revelou muito agradável de se estar dentro dele.
A obra brutalista projetada em 1973 pelo arquiteto, também mackenzista, Pedro Paulo de Melo Saraiva, tira partido de sua condição de esquina, tendo nas duas de suas faces uma vista excepcional para a mais importante avenida financeira da cidade. Não se trata apenas da vista, mas da maneira especial como o arquiteto resolveu emoldurá-la, numa sequência de caixilhos que formata a paisagem em quadros perfeitos.
Somamos a sua condição essencial, uma compreensão original do que é o espaço corporativo contemporâneo: um território livre, tido como não hierarquizado, não setorizado e fluído, não apenas para o desempenho mais eficiente das atividades, como também para um cotidiano prazeroso.
Os espaços corporativos mudaram muito nos últimos anos. Saíram da formalidade compartimentada dos anos 1950 e atingiram grande informalidade nos anos 2000. Essa informalidade ainda precisa ser calibrada, pois hoje não é incomum que se confundam salas de descompressão com as de creches, ou alguns lounges com os salões de festas do McDonald’s. Aos poucos as empresas retomam o equilíbrio de sua estética. Não se trata de piso de mármore e painéis amadeirados fechados em portas piso-teto, tampouco se trata de playgrounds ultra coloridos para adultos.
A proposta arquitetônica deste espaço toma partido, inicialmente, de suas características inerentes, também leva em conta a compreensão crítica do espaço de trabalho contemporâneo e a mensagem arquitetônica que convém comunicar. Em última instância, a linguagem arquitetônica toma para si as qualidades do prédio, emancipa suas qualidades primárias.
Uma única mesa repete a esquina do edifício, resolve o programa e organiza o espaço. Não se trata mais de uma mesa somente, mas de um elemento arquitetônico, de Arquitetura. Esta superfície não entra em confronto com a paisagem, mas tira partido dela e sublinha o afortunado endereço. O espaço é desobstruído, e a vista privilegiada e contínua é a protagonista de mensagens e signos que acabamento nenhum é capaz de superar. A distância entre os agrupamentos de uso na mesa estabelece a hierarquia necessária, se necessária.
Propomos, a vista. Propomos, espaço. Atingimos o ambiente extirpado de modismos e tendências materiais. Constrói-se sobretudo a atmosfera, a partir da luz, elemento imaterial, promovida a instrumento fundamental, arquitetônico. Propõe-se uma base consistente que tratará de receber, e acomodará bem, a cor do cotidiano, de pilhas de papéis, livros e documentos, gravatas listradas e camisas xadrez.
Entre tantas ideias e conceitos, recorrentes e que se substituem periodicamente, propomos pouco, quase nada – a ideia de coisa nenhuma – capaz de resistir ao tempo e a outras futuras novas ideias. Postura rara, mas que não é novidade, presente nas obras do americano Donald Judd, do britânico John Pawson, do mexicano radicado no Brasil Aurelio Martinez Flores, entre poucos outros.
ficha técnica
projeto
GK Ventures
local
São Paulo SP Brasil
ano
Projeto: dez. 2019
Obra: jan. 2020
arquitetura
Felipe SS Rodrigues
engenharia
Eng. José Pacheco/ Later Engenharia
clientes
Eduardo Mufarej e Thomaz Pacheco
área
100 m²
iluminação
Companhia de Iluminação
piso
Protécnica Revestimentos
marcenaria e mesa
Officio Móveis