A implantação do Centro Cultural em uma edificação existente compreende o princípio da reapropriação de um edifício que já era parcialmente construído, evitando ao máximo as demolições e desperdício dos recursos já aplicados, a partir de uma leitura das qualidades já presentes no terreno e na edificação. A edificação ocupa integralmente o terreno de 78,20m² na vila conhecida como Favelinha (Aglomerado da Serra, Belo Horizonte MG) e totaliza, em três níveis, 194,73m². O projeto foi realizado ao longo de aproximadamente três anos em um processo colaborativo que envolveu a comunidade Lá da Favelinha, os profissionais e estudantes do coletivo, designers, costureiras, empresas de engenharia, pedreiros, serventes, serralheiros, vidraceiros e pintores do Aglomerado.

Centro Cultural Lá da Favelinha, croquis do aglomerado, Belo Horizonte MG, 2021. Arquitetos Fernando Maculan e Joana César Magalhães (autores) / Coletivo Levante
Imagem divulgação [Coletivo Levante]
A intervenção trouxe algumas supressões e correções espaciais, de modo a organizar melhor os espaços vazios, mais abertos à livre apropriação (pavimento térreo e terraço), e aqueles mais compartimentados e com usos definidos (segundo pavimento). O projeto foi construído a partir do financiamento colaborativo, que permitiu que se formasse uma grande rede de parceiros de diversas áreas (moda, design, arquitetura, engenharia, paisagismo, iluminação, construção civil), e, portanto, grande parte do material utilizado na obra e na construção veio em forma materiais reciclados por doação dos parceiros.

Centro Cultural Lá da Favelinha, perspectiva isométrica, Belo Horizonte MG, 2021. Arquitetos Fernando Maculan e Joana César Magalhães (autores) / Coletivo Levante
Imagem divulgação [Coletivo Levante]
No térreo, a Loja Favelinha cria uma conexão direta entre o prédio e a rua. Em frente à calçada, com o apoio da prefeitura, foi elaborado o Parklet Favelinha, que tem como matéria-prima carteiras quebradas descartadas por escolas municipais. Para sua elaboração, maquetes usando peças de Lego foram montadas para simular a área com grupos de crianças e jovens locais, que ajudaram a pensar na concepção e funcionalidade do espaço.

Centro Cultural Lá da Favelinha, Belo Horizonte MG, 2021. Arquitetos Fernando Maculan e Joana César Magalhães (autores) / Coletivo Levante
Foto Leonardo Finotti
O segundo pavimento se divide entre espaços de apoio e vestiários; e espaços de trabalho, onde hoje está a administração e gestão do Centro Cultural. A circulação de ar e entrada de luz natural foi observada em todos os espaços, adotando elementos vazados e aproveitando grandes aberturas. Faixas vermelhas de tela agrária — elementos marcantes da fachada e cobertura, costuradas pelo Remexe (marca cooperativa de moda sustentável e upcycling da favela) — amenizam a insolação direta, afirmam a presença do Centro Cultural na comunidade e estabelecem um limite sutil entre os espaços internos e a paisagem.
No terceiro pavimento está o terraço multiuso, espaço flexível que, além de ser um incrível mirante sobre o Aglomerado, pode receber as atividades promovidas pelo Centro Cultural e outros eventos excepcionais.
ficha técnica
projeto
Centro Cultural Lá da Favelinha
local
Aglomerado da Serra, Belo Horizonte MG
ano
2021
área
194,73m²
arquitetura
Arquitetos Fernando Maculan e Joana César Magalhães (autores); Ricardo Lobato, Cássio Lopes, Luiza Salomé, Julia Passos, Arthur Souza, Richard Ramos, Marina Vilela e João Pedro Pujoni (equipe) / Coletivo Levante
cliente
Lá da Favelinha
idealização do centro cultural
Kdu dos Anjos
iluminação
Arquiteta Mariana Novaes (autora); Marina Faria, Pedro Ferreira e Wallace Moreira (equipe) / Atiatîa Design
paisagismo
Felipe Fontes
engenharia
Marcello Cláudio Teixeira
mural lambe-lambe
Bruno Ulhoa
concepção parklet
Micrópolis, Fernando Maculan e moradores do Aglomerado da Serra
mobiliário
Fábrica Jangada / Opendesk
painéis têxteis da fachada e cobertura
Remexe Favelinha
colaboradores
Jacques Simão de Siqueira, Luiz Eduardo Andrade Chiatti e Movimento Gentileza
premiações
Vencedor na categoria “edificações”, da 21a Premiação de Arquitetura do IAB MG (2021); vencedor do 8o Prêmio de Arquitetura AkzoNobel do Instituto Tomie Ohtake (2022) e vencedor Premiação Nacional de Arquitetura do IAB (2022)
foto
Leonardo Finotti / Bruna Brandão / Fernando Maculan / Matheus Angel