A leitura do livro “São Cristóvão” de Hélio Brasil, nos traz revelações históricas, arquitetônicas, urbanísticas, sentimentais e, sobretudo, a alma da gente que viveu ou ainda reside nesse tradicional bairro do Rio de Janeiro. Texto rico de conteúdo, fluência e cativante, possui qualidades possíveis a um autor que incorpora certas características. São elas: conhecimento histórico da cidade e do bairro, relação direta com o local (o autor nasceu e viveu, “por quase vinte anos” em São Cristóvão) e paixão por ele, sensibilidade para os elementos da edificação e do espaço e, sobretudo, domínio da escrita. Hélio Brasil é contista e romancista com trabalhos literários publicados.
O livro São Cristóvão, memória e esperança deve ser lido, pela primeira vez, de um único fôlego – proeza fácil pela capacidade do texto de envolver o leitor – a fim de descobrirmos o grande e monumental quadro sobre a região, elaborado pelo pintor histórico Hélio Brasil. Na primeira leitura, o leitor anotará as páginas que mais lhe tocaram. Após essa descoberta, deverá voltar à leitura-olhar-sentir, dos detalhes do mural do bairro de São Cristóvão.
A leitura pode ser realizada na ordem sugerida pelo autor, ou delineada livremente. Esse foi o meu caminho. Por exemplo: o leitor poderá iniciar a releitura a partir da p. 70 – “Colar de pérolas” – e, daí, caminhar pelo Campo de São Cristóvão e arredores. Atento ao detalhe, encontrará aspectos de edificações descritas segundo sua linguagem arquitetônica, sua história e personagens a elas vinculadas. Se o leitor pular para a p. 93, ao percorrer as seguintes, deparará com o pulsar cultural, comercial e humano nas ruas, praças e largos de São Cristóvão. Terá a oportunidade de ir a uma sessão no Cine Fluminense, ir às padarias e confeitarias, ao armarinho do “turco” seu Elias, à Alfaiataria Lacerda ou conhecer o velho Nicola, competente sapateiro italiano. Visitará, com emoção, outros lugares da vida de pessoas que construíram o Ser São Cristóvão.
Ao percorrer as 112 páginas constituintes do corpo principal do texto, com certeza, o leitor estará ao lado do autor posicionando-se em defesa da cultura, da memória daquele bairro, e, sobretudo, das raízes cariocas. E estaremos todos reafirmando com Hélio Brasil: “Nos verdes da Quinta acharemos a esperança”.
sobre o autorNireu Cavalcanti é professor e Diretor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense – UFF