De título sucinto, este livro do consagrado autor catalão tenta explorar, de forma grandiosamente didática, o conteúdo e o objetivo da crítica arquitetônica recente.
Sua abordagem, para usar uma de suas palavras prediletas, inicia-se com um descontraído bate-papo com o leitor, onde indica alguns possíveis encaminhamentos da posição crítica no enfrentamento com seu objeto de trabalho, a obra arquitetônica.
Suas defesas recriam um ambiente de descompromissado compromisso, de leveza e subjetividade no julgar, porém sem anarquias. Para ele, todo ato crítico não é senão um juízo estético e, assim o sendo, necessita de uma teoria e uma metodologia que o embase.
A simplicidade de que falava advém de um posicionamento mais ou menos low-profile: quando mais despretensioso o julgamento, mais objetivo este será. Nesse momento, defende a noção de repertório e gosto do crítico. Sua principal atividade é captar o sentido da obra e de alguma forma, expô-lo a aceitação pública.
Em função da natureza do espaço abordado, diferente do fazer literário, por exemplo, defende a obrigatória necessidade da presença física e sensorial do homem perante a esfinge. O “decifra-me ou te devoro”, o tête-a-tête é oportuníssimo para o exame da arquitetura.
Porém, das afirmações de Montaner, a mais frutífera parece ser o seu encantamento com o poder de interação dialética entre crítica e criação. A crítica mostra-se criadora na medida em que altera os padrões de reflexão e produção da obra. Por vezes, a criatividade arquitetural é tão variada que é necessário uma constante re-instrumentalização crítica para sua observação adequada.
Passados os dois primeiros capítulos, o livro percorre uma história da teoria da arquitetura, e por que não, da crítica ao longo dos últimos séculos. Do positivismo ao pós-estruturalismo recente, o autor percorre as idéias de filósofos, arquitetos, sociólogos e historiadores no afã de alinhavar uma tentativa de explicitação da arte e da arquitetura que possa conter em si um maior rigor metodológico.
Nesse sentido, Montaner mostra-se corajoso. Enaltece o trabalho de Walter Benjamim, por sua lucidez abrangente; de Siefried Giedeon, por sua construção historiográfica pioneira do movimento moderno e de Manfredo Tafuri, por sua inteligência, vigor histórico e precocidade. Em suas palavras, estes dois últimos nomes poderiam resumir, em si, toda a atividade crítica do século XX.
De resto, um livro breve e delicioso.
sobre o autorClevio Rabelo é Arquiteto e Urbanista, formado pela Universidade Federal do Ceará em 2001 e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie