Como o próprio nome já insinua, o livro – Paisagem urbana. Uma mídia redescoberta – traz a tona uma discussão sobre o processo de comunicação, na atualidade, que adota a paisagem urbana como um dos seus grandes veículos.
Aproveitando-se da situação criada por seus expressivos mercados e pelo tempo, cada vez maior, gasto nos deslocamentos, grandes cidades, como São Paulo, fornecem o palco para que a paisagem urbana adquira competitividade diante das demais mídias e abre, novamente, a discussão sobre o avanço da publicidade no espaço urbano e suas interferências.
A autora realiza, portanto, uma releitura dos processos de interferência da mídia exterior na paisagem urbana, à luz das transformações contemporâneas experimentadas nos meios de comunicação e transporte que imprimiram ao território uma maior visibilidade e uma nova dimensão em termos de espaço e tempo.
Sem pretender fechar questão ou se posicionar quanto ao papel da mídia exterior e seu impacto na qualidade de vida urbana, este trabalho, resultado de dissertação de mestrado, defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, fornece informações, discute conceitos, recupera teorias, analisa legislações de forma contextualizada, permeados por excelentes ilustrações, abrindo ao leitor a oportunidade de formar seu próprio juízo de valor.
O primeiro capítulo introduz a questão da comunicação e sua evolução no tempo, apresentando noções sobre o sentido da comunicação humana, da construção de mensagens, do papel dos intermediários chave, e dos meios de comunicação direcionando-se para uma melhor compreensão do potencial da Paisagem Urbana como meio de comunicação, e dos avanços da mídia exterior.
O capítulo 2, que trata da Paisagem Urbana como meio de comunicação, utiliza-se de autores clássicos como Kelvin Lynch; Gordon Cullen, Lucrécia D’Alessio Ferrara, Ítalo Calvino, dentre outros, permitindo discutir os aspectos objetivos e, principalmente, os subjetivos que compõem a leitura, a percepção e a apreensão da Paisagem Urbana. Reforça o fato de que a paisagem urbana, resultado físico de um aglomerado humano, vai, muito além dos aspectos visuais e palpáveis imediatamente observáveis (pessoas e construções etc.), incorporando um conjunto complexo de relações que respondem pela definição da "vida da e na cidade".
No capítulo 3, o centro da discussão é a mídia exterior, sua capacidade de transmitir mensagens e as diversas formas que estas assumem: identificação, divulgação, reforço da marca. Formas de apresentação das mensagens e sua capacidade de atingir, devidamente, o seu o público alvo de acordo com os objetivos da comunicação, também fazem parte do conteúdo do capítulo. Neste momento, o livro assume, corajosamente, a publicidade e a propaganda veiculada na paisagem urbana como parte deste processo de comunicação e informação da sociedade que a produz, buscando a superação dos pré-conceitos que as identificam, imediatamente, com poluição visual, convidando para uma reflexão mais profunda sobre o seu significado. Convida a repensar o conceito de poluição visual para determinados setores da cidade e a discutir temas como o stress ou a ineficácia na recepção das mensagens causados pelo excesso de estímulos visuais, ao mesmo tempo que assume o excesso, como parte da cultura contemporânea na identificação imediata de seus lugares.
Sempre de forma contextualizada com uma leitura bastante acessível, o capítulo 4 coloca o leitor a par deste processo evolutivo da comunicação pela mídia exterior, tendo como estudo de caso, a cidade de São Paulo. Para cumprir esta tarefa, a autora adota a divisão temporal assumida por Nestor Goulart Reis Filho, em “São Paulo e outras cidades. Produção social e degradação dos espaços urbanos”, publicada pela Hucitec, em 1994, cujo critério foi a diversidade da fisionomia assumida pela cidade em cada período estabelecido: a cidade de taipa ( até 1880); a cidade européia (1889-1930), a cidade modernista ( 1930-1960) e a metrópole centralizada e congestionada (1960-1990), que com uma certa intensificação dos processos, poderia ser estendida para os dias atuais. Considerando que o interesse é a paisagem urbana, esta divisão presta-se muito bem a finalidade do trabalho que, devidamente ilustrado, torna a leitura ainda mais esclarecedora e agradável. Instiga, ainda, a rever o olhar sobre os instrumentos de controle da publicidade na paisagem urbana, cujo tema tem movimentado as discussões sobre a cidade.
Finalmente, o livro vem suprir uma lacuna na literatura nacional sobre o tema, abandonado nos anos 80 e 90, recuperando autores que com ele se preocuparam e induzindo à reflexão sobre o tema. A utilização da paisagem urbana como meio de expressão das sociedades que a constroem; o alcance desta comunicação; os impactos sobre a qualidade de vida urbana; e, a eficácia dos instrumentos de controle sobre os limites da sua atuação, proliferação e formatos alternativos, são aspectos para uma discussão mais aprofundada que o livro de Camila Mendes convida a partilhar.
sobre o autorHeliana Comin Vargas, Arquiteta, Urbanista e Economista, Profa Titular da Faculdade de Arquitetura Urbanismo da Universidade de São Paulo.