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MASSAD, Fredy; GUERRERO YESTE, Alicia. A inspiração do motor. Resenhas Online, São Paulo, ano 07, n. 077.04, Vitruvius, maio 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.077/3074/pt>.


tradução ivana barossi garcia

A poética exacerbada dos futuristas reconheceu na velocidade o signo de seu tempo. A velocidade: a beleza nova que enriquecia a magnificência do mundo. O automóvel, o artefato cuja beleza os futuristas conceberam superior à da Vitória de Samotracia, foi um dos transformadores cruciais da paisagem do mundo na era industrial.

A revolução provocada pela invenção do automóvel modificou completamente a vida do indivíduo do século XX, obrigando a arquitetos e urbanistas a repensar e recondicionar edifícios e cidades. Sua invenção e subseqüente popularização durante o século XX dependeu não somente da criação de redes de trânsito, urbanas e interurbanas, mas também do desenvolvimento do estacionamento como uma tipologia arquitetônica de complexidade específica. Uma complexidade que não radica só em sua natureza estrutural e material, mas também na projeção psíquica de sua entidade sobre a imaginação contemporânea.

Possivelmente seja esta segunda premissa a que mais enfaticamente sustenta a análise que o arquiteto Simon Henley realiza ao longo de The Architecture of Parking (Thames & Hudson, 2007), um ensaio no qual se traça uma síntese da evolução das estruturas e zonas de estacionamento de veículos utilitários desde a década de vinte do século passado até hoje. Com sua análise, Henley desperta essencialmente a transcendência e influência sobre a arquitetura contemporânea desta tipologia nascida como conseqüência da conversão do automóvel numa ferramenta indispensável. Algo que apresenta a ulterior reflexão acerca da incidência do desenvolvimento tecnológico e da produção de novos artefatos que incidem sobre nossas dinâmicas cotidianas, modificando-as substancialmente – tal e como supôs a popularização do carro no período posterior à Segunda Guerra Mundial -, sobre a evolução da linguagem arquitetônica de seu tempo.

A necessidade de produzir edifícios estritamente concebidos para a circulação veicular afrontou os arquitetos ao desafio de investigar a criação de estruturas cuja característica essencial é a de constituir um sistema de movimento para um artefato mecânico, na qual a presença do indivíduo – do fator humano - pode ser considerada absolutamente inexistente. É o veículo que dita todas as condições estruturais e funcionais do edifício ou âmbito destinado ao estacionamento.

É notável o fato de que sejam os projetos visionários para dois edifícios destinados a alojar um milhão de veículos desenvolvidos por Konstantin Melnikov em 1925 os que anteciparam e assentaram as bases que emergiriam nas formas construídas a partir da década de quarenta nos Estados Unidos: seção comprimida, planos inclinados e estrutura esquelética, como o incipientemente desenvolvido por Richard Neutra e concretizado radicalmente por Robert Law Weed em 1948, no estacionamento em Miami que expunha literal e brutalmente sua estrutura de cimento, despojado de fachada. Esse período, entre o transcurso dos anos 50 e o final dos anos 60, no qual o carro constitui o ícone da modernidade, se realizam os expoentes mais complexos da arquitetura de parkings na Europa e, particularmente, nos Estados Unidos. Neste contexto, Louis Kahn desenvolve entre 1947 e 1962 diversos estudos para a projeção de uma cidade cujo centro urbano de pedestres estivesse protegido por um anel de parques de estacionamento cilíndricos – evidência do reconhecimento do automóvel como eixo de uma transformação profunda nos paradigmas com os que conceituar o entorno, para gerar uma arquitetura  em coerência com o estado de avance tecnológico. Durante este período de euforia automobilística, os arquitetos se esmeraram na experimentação com a matéria (fundamentalmente, concreto), os aspectos formais (rampas inclinadas e helicoidais) e a criação de elevações expressivas assim como um cuidado tratamento estético da fachada que marcavam, às vezes com a magnificência colossal de torres como Marina City em Chicago, exultantemente a presença destas estruturas sobre o tecido urbano.

Henley indica que as mudanças culturais em relação ao veículo, surgidas a partir dos anos 80 foram desembocando a uma preferência por tratamentos mais discretos, reduzindo a contundência física prototípica e fascinante das estruturas realizadas nesse período anterior. Atualmente continuam emergindo remarcáveis exemplos, mas fundamentalmente é o interesse pelos fatores conceituais essenciais propostos no projeto destas estruturas transplantado a outro tipo de tipologias o que deixa claro a intensidade de sua influência a princípios do século XXI.

Ressurge outro ponto do Manifesto Futurista quando se traça a definição da arquitetura do parking: a idéia de que a beleza destes edifícios radica em sua agressividade, em sua estranha presença contundente produto talvez – como aponta o autor- do fato de que constituem a antítese visceral do mundo natural, do perturbador modo específico em que se expressa sua materialidade entre as outras peças da paisagem urbana e das qualidades de seus espaços interiores. “Meio finalizado, meio em deterioração. Exteriormente, suas formas e elevações podem surpreender. Interiormente, a paisagem, material e luz na qual alguém adentra pode ser desconcertante, às vezes terrível, e em ocasiões, bela”.

Henley destaca o fato de que é difícil encontrar em outras obras criadas pelo homem o nível de abstração que alcançam este tipo de estruturas, uma questão a enlaçar com sua indagação sem resposta acerca de nossa reação psicológica a ela. Não concebido como um espaço espetacular, mas adaptado às necessidades pragmáticas de sua função, por que os estacionamentos geram esse tipo de sensações que entrariam na categoria freudiana do sinistro. Adquiririam então uma dimensão metafórica, como uma forma arquitetônica na qual encontra uma transposição simbólica, o pathos da alma. O terror fascinado ante a infinidade do espaço, a desorientação do labirinto, que se representa, sobretudo nesses projetos quase monumentais de mediados do século passado: “edifícios que pertencem a uma era passada quando a cidade e seus lugares podiam permitir-se ser fantásticos e impressionantes”.

A reflexão sobre diferentes estacionamentos que constituem peças cruciais da história da arquitetura recente dirige a atenção ao redescobrimento dos valores e beleza arquitetônica dos parkings anônimos – habitualmente, lugares ocultos, assumidos como entidades arquitetônicas de segunda categoria - para reconhecê-los como variações desta complexa tipologia que constitui um paradigma arquitetônico do espírito da era industrial.

Adquirimos uma estranha familiaridade com os estacionamentos”, escreve Simon Henley, autor de "Architecture of Parking".

[artigo publicado originalmente na coluna “Arquitectura y diseño”, do caderno “ABCD las artes y las letras“, de ABC Periódico Electrónico S.L.U, Madri, dia 20 de outubro de 2007.]

sobre o autor Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, são titulares do escritório ¿btbW, e autores do livro "Enric Miralles: Metamorfosi del paesaggio", editorial Testo & Immagine, 2004.

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resenha do livro

The architecture of parking

The architecture of parking

Simon Henley

2009

077.04
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077

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