Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

reviews online ISSN 2175-6694


abstracts

how to quote

MASSAD, Fredy; GUERRERO YESTE, Alicia. Arquitetura em paranóia. Resenhas Online, São Paulo, ano 07, n. 077.01, Vitruvius, maio 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.077/3077/pt>.


tradução ivana barossi garcia

O atentado contra as Torres Gêmeas tornou subitamente obsoleta a definição de conflito em grande escala. Desde esse dia, o mundo sabe que qualquer cidade, indivíduo e cenário cotidiano é objetivo potencial de um ataque terrorista repentino. A imagem de urbicídio que representou a aniquilação do WTC está relacionada com o conceito de guerra no qual a destruição de estruturas arquitetônicas opera como arma e, ao mesmo tempo, como gesto bélico de imposição. Funcionou essencialmente como contundente primeira intimidação. O planejado pelos terroristas foi um ataque intelectualmente sofisticado executado com meios quase rudimentares. Nunca se saberá o que ocorreu na realidade. Os ataques do 11 de setembro de 2001 não produziram nem a pior tragédia nem a mais sangrenta matança da História - se depender do número de vítimas -, mas foi certamente o golpe mais duro ao sentimento de vulnerabilidade humana de nosso tempo, por ter-se produzido no coração do mundo e ter-se podido viver em tempo real em todo o mundo, inaugurando assim uma nova era de terrorismo que atemoriza de forma impressiva, tentando que cada atentado não somente assassine, mas que também tenha a maior audiência.

Triunfalismo moral

Depois da devastação das Torres, sua reconstrução se concebeu desde a perspectiva de que os novos edifícios deveriam encarnar uma simbologia de democracia e vitória. Vistas retrospectivamente, nas propostas participantes naquele concurso para o World Trade Center, incluindo o plano mestre de reconstrução e a Freedom Tower de Daniel Libeskind, subjazia a dialética de triunfalismo moral da administração Bush: A arquitetura devia erigir-se como signo de resistência frente à mente diabólica dos terroristas, reafirmando-se como entidade protetora e defensiva. Os posteriores atentados de Madrid e Londres não voltaram a se valer da arquitetura como artefato assassino, evidenciando que aquela reformulação carecia do menor sentido para uma época na qual os cidadãos do mundo vivem conscientes de se encontrar numa situação de ameaça permanente. A análise que a arquitetura deve hoje realizar sobre si mesma terá de transcender a mera vocação de atuar como expressão formal bem-intencionada para refletir sobre sua posição em algumas circunstâncias definidas sob o signo da ânsia e do temor.

Deixando aparte as tramas de especulação econômica e a procura de benefício político das diferentes administrações que se converteram no engano mortal no qual caiu o projeto de Daniel Libeskind, é preciso valorizá-lo como resultado de um concurso no qual primou a emotividade imposta sobre o projeto, recorrendo a clichês fáceis e sentimentalmente patrióticos (como a altura da torre, que em pés coincidia com o número 1776, ano em que se proclamou a Declaração de Independência dos Estados Unidos, e motivos alegóricos similares). O que conduziu este projeto ao fracasso e à irrelevância conceitual foi não ter sido capaz de encarnar em si a compreensão de que depois daqueles ataques se produziu uma quebra psicológica mundial que colocava em crise a idéia da arquitetura colossal e prepotente, representativa de uma sociedade que já tinha deixado de existir depois da mudança profunda produzida nos trinta anos transcorridos desde a construção das torres de Minoru Yamasaki – espírito da década de setenta – e que sua estrepitosa queda terminou de sentenciar.

O coletivo IGMADE – responsável pelo livro 5 Codes (Birkhäuser, 2006) – abandona a imagem das torres atacadas e pega a constante situação em “código amarelo” – indicando que as probabilidades de um atentado terrorista são elevadas – do sistema de advertência estabelecido em 2002 pelo Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos como referente simbólico do zeitgeist atual, submerso na paranóia por causa da existência do inimigo incerto e ilocalizável que pode emergir a qualquer momento.

Formas de violência

A paranóia, acredita IGMADE, tornou-se um conceito a partir do qual redefinir significados para uma arquitetura e um urbanismo que encarnavam um ideal moderno de sociedade pacificada. Sua reflexão parte da neutralidade política que lhe permite reconhecer que neste estado de guerra ambos “bandos” têm suas próprias formas de violência – que direta ou indiretamente implicam à arquitetura –, fundamentadas em ambos os casos neste estado global de paranóia: terroristas letargiados em qualquer parte (cavernas remotas ou aprazíveis subúrbios de classe média) ou hipotéticas armas de destruição massiva impõem formas agressivas de defesa preventiva como a hiper-vigilância dos movimentos dos indivíduos ou o uso de lugares para a tortura de supostos terroristas (Abu Ghraib, Guantánamo).

Defendem mesmo assim a idéia de que o medo do terrorismo devenha de uma força produtiva, como exemplifica o exercício dirigido por Stephan Trüby – um de seus integrantes – na Universidade de Stuttgart, propondo projetar um World Trade Center desde a premissa de que resulta-se fácil escapar dele no caso de ameaça, demonstrando que um edifício monumental deve poder se defender de ataques; ou seu interesse por Escape from the Bank Job, da artista Janice Kerbel, cujo desenho do roubo de um banco permite entender que a mente do terrorista sabe atuar livremente, oculta entre os recursos restritivos do olho paranóico de câmeras de vigilância. Esta paranóia não pode ser curada com edifícios que reparem uma auto-estima danificada. O desenvolvimento intelectual da proposta do IGMADE é ainda incipiente; não obstante, é necessário reconhecer que apontaram a um indicador desde o qual admitir que o terrorismo e as políticas contra ele indicam que estamos num novo tempo, e que a arquitetura está obrigada a assumir a existência destes novos medos.

[artigo publicado originalmente na coluna “Arquitectura y diseño”, do caderno “ABCD las artes y las letras“, de ABC Periódico Electrónico S.L.U, Madri, dia 09 de setembro de 2006.]

sobre o autorFredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, são titulares do escritório ¿btbW, e autores do livro "Enric Miralles: Metamorfosi del paesaggio", editorial Testo & Immagine, 2004.

comments

resenha do livro

5 Codes: architecture, paranoia and risk in times of terror

5 Codes: architecture, paranoia and risk in times of terror

Gerd de Bruyn and Stephan Trüby

2006

077.01
abstracts
how to quote

languages

original: español

others: português

share

077

077.02

Um Benevolo ansioso no século XXI

Roberto Segre

077.03

Construindo o pensar arquitetura

Leonardo Rodrigues Pereira

077.04

La inspiración del motor

Fredy Massad and Alicia Guerrero Yeste

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided