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EICHEMBERG, André Teruya. Koolhaas em meio à chuva ou os trajetos perceptivos da Sra. Guadalupe. Resenhas Online, São Paulo, ano 08, n. 091.01, Vitruvius, jul. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.091/3032>.


KoolhaasHouselife não é somente um livro, mas um ensaio áudio-visual-textual sobre um ícone da arquitetura contemporânea, a enigmática Maison Bordeaux, projetada em 1998 pelo escritório Oma/Rem Koolhaas e com singular projeto estrutural de Cecil Balmond/Arup. Projetada para um cliente usuário de cadeira de roda, sua esposa e filho. Os autores desta obra ensaio, Ila Bêka e Louise Lemoîne nos apresentam uma leitura inusitada e espontânea da obra do arquiteto holandês ao traduzi-la em livro e filme. Durante o período de uma semana, os trajetos, atividades e inquietações perceptuais da empregada e “atriz principal“, Sra. Guadalupe Acedo podem ser contemplados pelo espectador.

A obra de Bêka e Lemoîne, que participou da 11ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza em 2008, é composta de um livro com farto material de textos e fotos da residência. O que serve também como complemento da peça principal é um filme de 58 minutos. A publicação ainda contém um extra com entrevista sobre o filme com o arquiteto Rem Koolhaas. A publicação de Koolhaas Houselife faz parte de uma ampla proposta de análises áudio-visuais-textuais de obras arquiteturais diversas, como uma recente igreja de Richard Meier em Roma, a vinícola Moueix de Herzog & deMeuron e o Guggenheim de Bilbao de Gehry.

O livro divide-se em duas partes: as rotas realizadas pela Sra. Guadalupe divididas em 25 temas tais como escada, cortinas, elevador, janelas, pedras, rachaduras, autômato, passarela, entre outros; e outra parte com extratos de um diário dos autores durante os sete dias de permanência na residência. Tais temas nos permitem ter um vislumbre de diferentes pontos de vista do projeto, focando muitas vezes em particularidades extremamente ricas, que passam despercebidas ou sem importância nas revistas e livros especializados sobre o projeto, como por exemplo, a singularidade das rachaduras e diversas infiltrações “misteriosas“ do projeto de Koolhaas.

1° dia, 7 pm. Respeitando o gosto dos outros. Opinião pessoal de Guadalupe sobre a Maison Bordeaux.

O filme é uma imersão aos movimentos que nascem da relação entre a arquitetura e o cotidiano, entre a obra e o tempo. O filme não é uma ficção, mas uma aventura pautada na realidade limiar mesma da obra, entre o concreto e a rachadura, entre o desenho e o equilíbrio estrutural. Há mesmo na obra de Koolhaas esse significado limítrofe, esse momento entre o estável e o instável, entre a imagem e o tempo, paradoxo primordial para sua arquitetura.

2° dia, 9:30 am. As cortinas, as luzes, os ventos.

As cortinas que deslizam suavemente por meio dos gestos da Sra. Guadalupe, dialogam com o vento, produzem sons, geram outras luzes, outras texturas. O livro igualmente destaca visualmente esses diálogos por meio de fotografias e croquis. Cortina de tecido rosa, de véu verde, de manta prateada, de algodão amarelado; tudo é luz, transparência latente que reforça a relação entre a edificação e o entorno, limiar entre leveza e peso.

Música clássica, câmera com enquadramento estático, e vagarosamente emerge a famosa plataforma-escritório-biblioteca do cliente com cadeira de roda, dentro dela está Sra. Guadalupe com balde, vassouras, aspirador de pó; momento 2001 uma Odisséia no Espaço de Kubrick. De tão tecnológica, a plataforma guiada por sensores afinadíssimos trava ao entrar em contato com qualquer objeto (principalmente os diversos livros nas prateleiras verticais). Risada de Jacques Tati.

3° dia , 3 pm: joystick.

Num determinado momento vemos uma pequena televisão, e nela, está sendo apresentado um trecho de Mon Oncle de Jacques Tati, referência não arbitrária, mas que faz emergir signos entre a tecnologia e o espaço da modernidade. Não há chave na Maison Bordeaux, o que há é um joystick, elemento fálico luminoso que permanece ali, esperando por interação. Há aí uma frágil descoberta que se repetirá em várias situações funcionais da residência, que as coisas ora funcionam, ora não.

5° dia , 3 pm: Koolhaas em meio à chuva.

O grande mistério da residência de Koolhaas não jaz em sua estrutura espetacular: um cubo de concreto enterrado conectado a um cabo e grande viga invertida, apoio paradoxal. Muito menos no generoso espaço plataforma que possibilita uma multifuncionalidade, nem mesmo na relação de transparência obtido com as peles de tecidos entre espaço interno e externo enquanto unidade universal da residência. Para Bêka e Lemoîne o mistério surge avassalador. Água. Nos dias chuvosos há infiltração por toda parte, micro cachoeiras, pingos, linhas escorrediças d´água. Novos atores surgem: copos, jarros, baldes, bacias, panos.

A Maison Bordeaux torna-se humana.

Mas ainda assim, a perspectiva principal do livro-filme não é elucidar ou criar mistérios, mas sim apresentar uma visão interna e pessoal sobre a residência. As opiniões expressas pela Sra. Guadalupe emergem da simplicidade e clareza de sua própria relação cotidiana com o espaço. Sua sinceridade perceptiva nos questiona a todo o momento, desarticulando muitas vezes o próprio projeto, a idéia de projeto, e porque não, o pensamento do arquiteto.

O filme-livro KoolhaasHouselife torna-se extremamente interessante pois mostra uma arquitetura humana, demasiada humana.

6° dia , 3 pm: Olhe aqui, por exemplo, me fale, como isso permanece em pé?

Não há nada aqui, tudo bem, há uma parede aqui, mas ela não sustenta nada. Breve análise da Sra. Guadalupe sobre a estrutura da residência.

links de interesse

Livro, dvd, trailer.
http://www.koolhaashouselife.com
http://www.bekafilms.it

sobre o autor

André Teruya Eichemberg é arquiteto e urbanista formado pela UNESP – Campus Bauru e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Atualmente é professor do curso de Arquitetura e Urbanismo, e Comunicação do Centro Educacional de Votuporanga UNIFEV

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