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GUIMARAENS, Cêça. Para a qualificação das cidades-outras. Resenhas Online, São Paulo, ano 08, n. 092.02, Vitruvius, ago. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.092/3027>.


Ao nomear algumas cidades, reconhecidas na condição de “partidas”, cada vez mais se agrega, de maneira contundente, o adjetivo “fragmentadas”. E a dimensão social das crises dos sistemas econômicos está contida em quase todos os significados e usos destes vocábulos. Portanto, foi na procura do sentido e na reflexão sobre as soluções para dicotomias e complexidades urbanas socialmente excludentes que André Luiz Pinto constituiu os eixos temáticos do seu livro de estréia, o Urbanismo na fragmentação.

O jovem autor fundamenta e descreve as etapas iniciais e avalia a resposta do Bairro-escola, projeto integrante do Programa de Estruturação Urbanística (PEU) da Prefeitura de Nova Iguaçu. E, ao comentar teorias e teses recentes sobre o “urbano”, articula experiências profissionais e resultados das fases do seu trabalho acadêmico, elaborado em universidades européias.

André L. Pinto explicita com fé, antes de tudo, que o projeto Bairro-escola se baseia no firme propósito de fazer valer as “pré-existências”, ou seja, os atributos e valores de ordem cultural dos diferentes grupos de usuários da cidade. E, afirma, os conceitos básicos e os ajustes gerenciais do projeto adaptaram e se adaptaram, de modo mútuo, às metas objetivas e aos desejos de administradores e habitantes da grande cidade da Baixada Fluminense, situada na região noroeste do Recôncavo da baía de Guanabara, estado do Rio de Janeiro.

Assim, foi de acordo com referenciais teóricos e empíricos, delineados na crítica analítica e operativa de André L. Pinto, que os métodos autoconstrutivos se justificaram e fundamentaram o “enfrentamento” técnico-administrativo das ações de qualificação dessas áreas urbanas conurbadas.

Segundo o autor, arquiteto e urbanista, o processo de elaboração e desenvolvimento desses projetos enfrentou desafios, reações e efeitos de imposições funcionalistas e paradigmáticas e, portanto, geradoras de contextos e lugares periféricos. O Bairro-escola da prefeitura de Nova Iguaçu envolve, em oposição a essas antigas determinações, ações sociais de qualificação das atividades educacionais, criação de oportunidades de trabalho e combate à violência. Mas, melhor se expõem publicamente nas propostas para as transformações e melhorias do espaço físico urbano.

Nesta perspectiva, os planos e as ações municipais iguaçuanas fazem parte das políticas estatais de agenda positiva e são implementadas em áreas urbanas cujas desqualificações e descentralidades se originam em pobreza e diversidade. É possível observar, também, que  esses lugares sempre foram considerados muito, mas muito, “diferentes”.  Por outro lado, é fato óbvio o consenso acerca da imprescindível diferenciação de fórmulas para superar as dificuldades desses lugares. E, nesses casos que encaram o injusto ambiente urbano, esta atitude foi “facilitada” pela consciência e reconhecimento da multiplicidade das “culturas” que conformam as populações do país.

Assim posto, prefiro denominar esses territórios com a expressão  “cidades-outras”. E creio que as atuais maneiras de gerenciar os interesses difusos, mas supostamente livres que aí ocorrem, buscam, de maneira ansiosa e emergencial, minimizar os resultados socioeconômicos e as inúmeras desordens físicas “urbanas” que decorrem da perversa e injusta ocupação do espaço agrário brasileiro.

Em conseqüência, as formas de tratar os temas do Urbanismo na fragmentação sempre revelam a intenção de “deixar falar as origens” de tudo, pois, apenas dessa maneira, é possível planejar, desenhar e executar as melhorias que devem ser dirigidas para todos. Assim, desde a interpretação histórica da cidade de Nova Iguaçu até os procedimentos para a necessária auto-avaliação, também se expressam no texto os traços utópicos, criativos e intuitivamente originais em que o autor se mostra, ao mesmo tempo, cientista e arquiteto.

Complementando o livro, misto de trabalho científico sobre experiências profissionais e relato-reportagem de estratégias metodológicas e políticas para projetos técnicos, André L.  Pinto reuniu na parte final as imagens das propostas físicas do Bairro-escola. Ao disponibilizá-las para os seus leitores, tornou possível a eles verificar que as intenções de qualificação do desenho urbano dos eixos e centros de bairro de Nova Iguaçu levaram adiante as idéias fundamentais do projeto Favela-bairro, da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.

Dessa maneira, anuncia-se, mais uma vez, a escrita de Sérgio Magalhães, arquiteto que prefaciou o novo Urbanismo na fragmentação.

sobre o autor

Cêça Guimaraens, arquiteta, professora doutora do PROARQ – FAU/UFRJ, onde coordena o Grupo de Estudos de Arquitetura de Museus, pós-doutora em American Museum Studies na New York University, autora de livros e ensaios sobre patrimônio, museus e arquitetura moderna brasileira

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