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Eliane Lordello destaca os recursos da cinematografia como o principal interesse do filme Prometheus (EUA, 2012) de Ridley Scott, consagrado pela crítica como um estilista da imagem

english
Eliane Lordello features the cinematography assets as the chief appeal of the movie Prometheus (USA, 2012), film by Ridley Scott’s, Recognized by reviewers and art critics as a stillest of the image

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LORDELLO, Eliane. Prometheus. O filme de um grande criador de imagens. Resenhas Online, São Paulo, ano 11, n. 131.03, Vitruvius, nov. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/11.131/4569>.


Uma rápida busca no Google com a entrada “ridley scott storyboards” abre uma galeria de copiosas imagens, provindas de sites e blogs das mais variadas origens e nacionalidades, que enaltecem um desenhista: o próprio diretor Ridley Scott. Não poderia ser outro o resultado, para um cineasta formado no Royal College of Art que se notablilizou no cinema como um estilista da imagem. Alien – O  Oitavo Passageiro (1979), Blade Runner, o Caçador de Andróides (1982), e Gladiador (2000) são títulos que exemplificam modelarmente o desvelo de Scott na criação e desenho de suas sempre espetaculares cenas. A denodada concentração do diretor na gênese de cenários, no apuro do uso da arquitetura, da fotografia e dos efeitos especiais, resulta no grande interesse de seus filmes para todos os que se dedicam a esses trabalhos, afins ao escopo deste Vitruvius.

Tela de resultados da busca no Google Imagens para a entrada “ridley scott storyboards” [Google Imagens]

É impossível não lembrar daquelas três grandes obras de Ridley Scott, ao ver o seu mais novo lançamento, Prometheus (2012), recentemente disponibilizado também em versão Blu-Ray 3D. A recorrência é justificável pelo gênero ficção científica e por sugerir, pelo título, alusão ao tema histórico – donde a recorrência a Gladiador. A confirmar a pertinência dessa recordação, está o próprio trailer de Prometheus, que finda por credenciar Scott como o diretor dos premiados Blade Runner e Gladiador. A propósito, o trailer é em si mesmo fenomenal e conta com depoimentos do próprio diretor, transmitindo inquestionável segurança quanto ao sucesso de sua mais nova criação.

Seguindo a trilha das duas obras citadas no trailer, é natural que Prometheus carreie algumas expectativas de abordagem histórica e filosófica, afinal, o título é tomado à mitologia grega. Resumidamente narrado, o mito de Prometeu relata que este semideus roubou o fogo de Zeus e o deu aos mortais, tornando-se se herói dos humanos. Como punição por esse ato, que tornou possível a vida humana, Zeus condenou Prometeu a ficar amarrado a uma rocha, onde seria devorado por aves de rapina.

O filme Prometheus, porém, desde sua primeira e colossal cena, descredencia qualquer vínculo genuíno com a mitologia e com a história. O que ali se insinua é a hipótese de um possível elo, de teor genético, entre seres alienígenas e a origem da existência humana. O filme, no entanto, não será capaz de levar a fundo a pesquisa necessária à comprovação de semelhante hipótese.

Assim, resta a Prometheus ser tão somente o nome da nave espacial onde viaja o robô David (Michael Fassbender), seu único tripulante desperto. David é encarregado de velar o sono de alguns pilotos espaciais e de um grupo de cientistas, que há dois anos hibernam na nave. A seleção de tal grupo, seu transporte para a nave Prometheus, e os motivos de sua longa hibernação não são plausivelmente explicados, em momento algum do filme.

O robô David (Michael Fassbender) [International Movies Database (IMDb)]

Chegada a hora de despertá-los, quem o faz é David. Uma vez despertos, cientistas e pilotos serão recebidos por Meredith Vickers (Charlize Theron), um misto de comandante e executiva. Vickers os introduz a uma preleção do supostamente fantasma Peter Weyland (Guy Pearce), o empresário que financia essa jornada espacial. Weyland quer convencer o grupo ali reunido de que sua meta é encontrar os alienígenas e desvendar o seu possível elo com origem da vida humana.

Destacam-se, naquele grupo, a Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), bióloga, e seu marido e parceiro de pesquisas, Charlie Holloway (Logan Marshall-Green). O casal de cientistas faz uma rápida preleção sobre sua tese de que a vida humana teria sido possibilitada por alienígenas, aos quais o casal apodou de “Os Engenheiros”. Desde esta sumária dissertação, o grupo ali reunido não convence como um time de cientistas. Não o fazendo pelas falas, Prometheus tenta convencer pela tecnologia. Maquetes holográficas, telas de última geração, movidas pelo leve tocar de dedos, como nos já popularizados smartphones são alguns dos recursos tecnológicos acionados para  compensar a tibieza do texto.

Maquete holográfica da caverna, na nave Prometheus [International Movies Database (IMDb)]

Ora, em essência, cientistas e pesquisadores são pessoas que respeitam o desconhecido e sentem-se por ele instigado. Mais ainda, cientistas de fato e de direito mantêm humildade perante os seus objetos de pesquisa, sendo esta postura imprescindível para  pesquisá-los a fundo. Nota-se, desde o início do filme, que não é isso que ocorre com o grupo congregado em Prometheus. A propósito, veja-se como Holloway é totalmente blasé ao expor sua parte na dissertação inicial ao grupo. Como contrapartida, é interpelado de modo irônico por Millburn (Rafe Spall), que ao assim proceder demonstra a mesma inaptidão de Holloway para a ciência. Posteriormente, confirmando sua inaptidão como tal, Millburn protagonizará uma irresponsabilidade que jamais seria praticada por um verdadeiro cientista. Vale dizer que esses são apenas dois, dos diversos momentos em que a superficialidade de condutas emerge no grupo. O que tal inadequação denota é a própria superficialidade do roteiro.

Em Prometheus, pode-se atribuir a inconsistência do roteiro principalmente à ausência de um eixo temático. Carente de um franco fio condutor, o filme resvala em seu rasíssimo argumento, sem jamais encarar seriamente as tais questões de criação que inicialmente postula. Quando muito, essas perguntas são tornadas metáforas visuais de grande impacto cênico, um recurso evasivo ao seu aprofundamento. Em decorrência, a superficialidade reflete-se em paupérrimos diálogos. É lamentável perceber os disparates despedidos pelas falas dos personagens. São despropósitos lapidares tais como este: “Deus não cria nada em linha reta”. Como se não bastasse, as falas ainda descambam em citações de Nietzsche fora de lugar, denotando tão somente a ânsia de um verniz filosófico para a trama.

A Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) na caverna, diante da imensa cabeça mitológica [International Movies Database (IMDb)]

Inevitavelmente, o elenco também se ressente dos problemas do roteiro. O David de Michael Fassbender não convence como robô,  tampouco comove como criatura que ambiciona ser humana. Assim, o bom desempenho desse já consagrado ator se dá somente nos momentos em que David age como um híbrido de ser sintético e mortal. Nessa condição, sua desfaçatez concentra alguns dos piores defeitos humanos: o desrespeito pela vida alheia e a vaidade. Como se vê, o caráter de David nem de longe lembra a integridade do andróide Roy Batty, de Blade Runner, magistralmente interpretado por Rutger Hauer. A comandante Vickers, por sua vez, é uma personagem obscura, que se movimenta de maneira periférica, sempre a espreitar a ação. Nessa conduta, Charlize Theron vai muito bem. Nos momentos de vilania, ao contrário, ela se perde, parecendo reviver, agora em uniforme militar, a  sua rainha má de Branca de Neve e o Caçador (2012).

A comandante Meredith Vickers (Charlize Theron) e o capitão Janek (Idris Elba), a cargo da nave Prometheus [International Movies Database (IMDb)]

É porém Noomi Rapace, atriz ainda mediana, o nome que mais se tem a lastimar no elenco. Noomi não tem estatura dramática para protagonizar uma saga cuja heroína paradigmática é a tenente Ripley, na insuperável atuação de Sigourney Weaver. Considerada a tradição de fortes personalidades femininas que marca os trabalhos de Ridley Scott, a Dra. Shaw de Noomi deixa ainda mais a desejar. Seu marido no filme, vivido por um desnorteado Logan Marshall-Green, se já não convencia como cientista, muito menos o faz como pretenso galã. Por fim, Rafe Spall tem uma atuação verdadeiramente constrangedora, beirando a canastrice. Em substância, de todo o elenco, somente os ótimos Idris Elba (capitão Janek) e Guy Pearce vivem plenamente seus personagens. Junta-se a eles, no quesito da boa atuação, a promissora menina Lucy Hutchinson (no papel da Dra. Shaw quando criança).

O escopo de Prometheus não tem um mínimo laivo da objetividade que marca o roteiro de Alien – O Oitavo Passageiro. Não tem a sincera humanidade das questões profundamente tratadas em Blade Runner. Não tem a historicidade de Gladiador. Na ausência de algo que verdadeiramente mova a plateia, o que a conduz em Prometheus é o ininterrupto suspense. Ironicamente, é também o suspense que a leva à frustração. E não podia ser outro o sentimento do público diante do modo irritante como Scott encaminha a história para sua continuidade em uma próxima versão de Alien. (Que ela venha logo, e com a dignidade da tenente Ripley!). Assim assumido como um prólogo, Prometheus, no entanto, não pode ser considerado um prelúdio descartável. Ninguém, em sã consciência cinéfila, desperdiçaria a chance de ver o espetáculo de suas imagens monumentais, regidas por uma sensacional trilha sonora, outro território que Ridley Scott domina com maestria.

O casal de pesquisadores Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green), com o robô David (Michael Fassbender), na caverna [International Movies Database (IMDb)]

sobre o autor

Eliane Lordello é Arquiteta e Urbanista (UFES, 1991), Mestre em Arquitetura (UFRJ, 2003) na área de Teoria e Projeto, Doutora em Desenvolvimento Urbano (UFPE, 2008), na área de Conservação Urbana. Pesquisa, sobretudo, os seguintes campos: Memória e Patrimônio Urbanos; Representações Sociais de Arquitetura e Cidade; Poéticas Visuais de Arquitetura e Cidade. É fortemente interessada em literatura, cinema e música clássica, e possui publicações também nesses campos, inclusive neste Vitruvius.

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