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reviews online ISSN 2175-6694


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português
Essa resenha visita a publicação São Paulo, razões de arquitetura do arquiteto Angelo Bucci – resultado de sua tese de doutorado – fazendo paralelos externos livres.

english
This review visit to publication São Paulo, razões de arquitetura from the architect Angelo Bucci – result of his doctoral thesis – making parallel external free.

español
Esta revisión critica visita a la publicación de São Paulo, razões de arquitetura del arquitecto Angelo Bucci – resultado de su tesis doctoral – haciendo paralelos externos libres.

how to quote

RIBEIRO, Paulo Victor Borges. Resgate como possibilidade de superação. Angelo Bucci e as razões da arquitetura. Resenhas Online, São Paulo, ano 15, n. 170.02, Vitruvius, fev. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/15.170/5930>.


“A hipótese que anima o roteiro a seguir é de que a cidade detém todos os ‘elementos’ que se mobilizam na elaboração dos projetos de arquitetura. A cidade informa, ao seu modo, a atividade do arquiteto”
Angelo Bucci, p. 13.

Angelo Bucci, arquiteto formado pela FAU USP, tem se equilibrado com notoriedade entre prancheta e academia. O livro, São Paulo razões de arquitetura: da dissolução aos edifícios e de como atravessar paredes publicado pela Romano Guerra Editora para a coleção RG bolso, em 2010, é resultado, com poucas alterações, da tese defendida em 2005 sob a orientação de Ana Maria de Moraes Beluzzo. O autor é provavelmente um dos arquitetos mais destacados de sua geração, tem sido publicado nacionalmente e  internacionalmente com certa regularidade em periódicos acadêmicos e na mídia de divulgação de projetos, sendo este livro o primeiro como autor. Bucci que também já tem publicações de maior fôlego, de autoria própria, traduzidas para o inglês. Prova disso é a recém-lançada publicação, The dissolution of buildings, em novembro de 2015, com participação de Kenneth Frampton pela Universidade de Columbia nos Estados Unidos. Nos últimos anos, Bucci tem lecionado como professor convidado em diversas universidades americanas e europeias, entre elas, Torcuato Di Tella, MIT e Harvard.

O livro é estruturado em três partes, divididos em 5 capítulos que totalizam 152 páginas. Em um primeiro momento há uma contextualização, posteriormente um resgate e por fim uma proposição, onde o autor funde teoria e prática. Como aponta Abílio Guerra (1), em resenha publicada em 2005, feita com base na arguição de Bucci em sua defesa de doutoramento, apesar da linguagem palatável o conteúdo é denso. O autor se auxilia em conceitos de diversas áreas do conhecimento, sobretudo a filosofia e sociologia, com destaque para a escola de Frankfurt, além de reportar-se a geografia. Sua abordagem vale-se de Milton Santos, Jürgen Habermas, Walter Benjamin e Gaston Bachelard entre outros. A pergunta chave que orienta o estudo é “como propor projetos em uma cidade que parece já ter perdido o sentido?

Produto de um conhecimento intenso resultado da vivência em São Paulo, o autor faz um roteiro – que visita à obra de nomes fundamentais da arquitetura moderna brasileira, tais como Elisiário Bahiano, Rino Levi, Fabio Penteado – intervindo no imaginário do leitor que mesmo sem conhecer a capital paulistana, conseguirá compreender a dinâmica de fluxos abordada. O trajeto imersivo esquadrinhado pelo autor adverte sobre incompatibilidades e impactos que as decisões de “fazer” cidade sem questionamento crítico acarretam.

Para isso o autor nos convida a um passeio analítico pela cidade de São Paulo e suas complexidades como grande cidade brasileira. Para iniciar, é válido apontar a coerência e a maturação das abordagens e conceitos utilizados pelo autor nos estudos prévios que fomentam a tese, desde a primeira reflexão publicada sobre Vale do Anhangabaú e “seus” Viaduto(s) do Chá, em 1994, – um parecer sobre o projeto de Paulo Mendes da Rocha para a Praça do Patriarca -  intitulada Anhangabaú: uma arqueologia do futuro. E posteriormente sua dissertação de mestrado – sob a orientação do renomado arquiteto Eduardo de Almeida, profissional que também contrabalança prática e docência – intitulada Anhangabaú, o Chá e a Metrópole, defendida em 1998, onde o autor visita os estudos de Prestes Maia, Le Corbusier e Vilanova Artigas para o local.

“Mesmo que saibamos que  o sol não se põe, diz Gadamer, seguimos dizendo que ele se põe, e não poderíamos nos separar daquilo que a língua diz com a justeza do sentimento. Inversamente, um saber não sabido, as pistas, refugos de crenças e de mundos antigos, ressoam longamente em nós. Saber ignorante de si mesmo, que forma, a nossa revelia, a maioria de nossos juízos de gosto” (2).

Fazendo um paralelo externo ao livro, Anne Cauquelin em A Invenção da Paisagem busca o interrogar aprendizados hierárquicos, passados de geração em geração, em outras palavras, a incorporação de pensamentos sem questionamentos e sua pertinência e aplicabilidade, conhecimento esse, nomeado pela autora como um saber não sabido. Com isso é possível traçar um análogo com a forma como o autor questiona a exercício da profissão do arquiteto na segunda parte do livro, onde o estudo começa a delinear caminhos. Esse saber não sabido no campo da arquitetura opera como reprodução/manutenção do quadro atual, incorporando solicitações da contemporaneidade sem as ponderações necessárias, entrando em um ciclo de conformação (3). Conformação – termo utilizado pelo autor em seu ensaio previamente citado de 1994 – que não atende os impasses contemporâneos das cidades. Entre os vários temas carentes de resolução nos grandes centros urbanos brasileiros, a violência é retratada de maneira categórica pelo autor. A forma como opera e como supera-la é o artifício primordial da investida do estudo, conforme o trecho:

“por assim dizer, a violência se instaura e se cristaliza em coisas: é assim que ela transforma em paredes nossos medos mais profundos. Ela constrói concretamente o insondável de nossa inconsciência” (p. 19).

Segundo o autor, a violência coopera para o desequilíbrio de duas dimensões da natureza humana – apontada pelo autor através de Habermas em discurso filosófico da modernidade –, alienação e dissolução, em outras palavras, recolhimento e convívio. Como consequência dessa instabilidade, quando nós – indivíduos modernos – começamos a nos sentir vulneráveis e permitimos que a falsa ideia de segurança permeie e se torne regra, o arquiteto conformado assume a negação da cidade através de suas proposições projetuais.

“Mas, então, seria necessário aceitar para sustentar o sentido da cidade numa proposição é necessário desfazê-la incessantemente, como se a cidade, para não perder o seu sentido, precisasse pulsar? Sim. E aceitar tal condição equivale a dizer que a cidade se apresenta ao arquiteto, como uma totalidade” (p. 71).

É-nos apresentada também uma forma original de análise do pensar arquitetônico de Mendes da Rocha com quem Bucci, além de aluno, colaborou em projetos durante sua passagem no escritório MMBB entre 1996 e 2002. Recorre em Mendes da Rocha à possibilidade de enfrentamento dos impasses das nossas cidades, destrinchando suas premissas investigativas que anteveem as práticas de projetação. Buscando encontrar potencialidades possíveis de evidenciar a cidade nos equipamentos arquitetônicos que com o tempo se tornam ou se tornaram segregadores. Um paralelo interessante ainda dentro dessa análise é a comparação referencial da organização espacial entre a proposta para concurso para Fundação Getúlio Vargas – coincidentemente vencida por Eduardo de Almeida (4) – de Mendes da Rocha e MMBB, em 1995 e o Viaduto do Chá e seus edifícios adjacentes em São Paulo. Com isso Bucci sustenta a hipótese de que a cidade é a origem das proposições de Paulo Mendes da Rocha. Sendo ainda possível retirar das entrelinhas a presença da ideia constantemente difundida por Mendes da Rocha em suas entrevistas e palestras, onde: “a arquitetura deve conter a imprevisibilidade da vida” (5). Essa análise onde o autor se ampara em detalhes do cotidiano e contextualização para formular reflexões é recorrente em sua obra, como se vê também presente no ensaio de 2002, “Pedra e arvoredo” (6).

Na fase de condensação do texto, uma surpresa incomum em trabalhos acadêmicos. Após um perambular por conceitos – aparentemente – remotos e especulativos, Bucci de maneira lúcida esboça diretrizes intervencionistas nesse recorte urbano visitado. Através de quatro operações; transpor, infiltrar, invadir e mirar o autor arquiteta o resgatar dessas potencialidades adormecidas em pontos específicos da cidade, restituindo urbanidade a esses espaços.

Seção transversal
Desenho Angelo Bucci [Ilustração p. 127]

“A fusão que uma compreensão recíproca exige só poderá resultar de uma experiência compartilhada, e certamente não se pode pensar em compartilhar uma experiência sem partilhar um espaço” (7).

Por fim, é digno de nota distinguir, além das questões previamente abalizadas na já citada resenha de Abílio Guerra, duas das mensagens contidas no livro. A primeira seria estreitar os laços entre projetação e teoria. E a segunda e mais complexa é; tratar, com zelo, a questão imortalizada no Brasil por Vilanova Artigas: qual a função social do arquiteto? Uma pergunta escorregadia e difícil de ser replicada pelo fato de estar em constante mutação conforme as novas demandas e conflitos que germinam diariamente. Porém, enquanto não encontramos um caminho – comum - exato a ser percorrido, já é possível, distinguirmos quais não serem trilhados. O que está em jogo é o resgate e um posicionamento crítico. Em suma, iniciar processo de re-humanização da arquitetura, que tem tratado de questões cada vez mais específicas, podendo assim queimar etapas do processo de projetação. A resposta não está na reinvenção da roda, por assim dizer, e sim na leitura/interpretação/adaptação contemporânea de fórmulas já existentes. A aplicabilidade desse olhar, que visa resgatar imagens poéticas através das potencialidades, é extensiva a toda nossa realidade latino americana. E assim quem sabe, somando-se a outros fatores e incluindo diversas áreas do conhecimento, tentar colocar em prática – novamente – um fazer arquitetônico, de fato, humano.

notas

1
GUERRA, Abilio. Olhar e construir a cidade. Resenhas Online, São Paulo, ano 04, n. 046.02, Vitruvius, out. 2005 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/04.046/3149>.

2
CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo, Martins Fontes, 2007, p. 43.

3
BUCCI, Angelo. Anhangabaú: uma arqueologia do futuro. São Paulo, 1994. Disponível em <www.spbr.arq.br/anhangabau-uma-arqueologia-do-futuro>.

4
Conforme a recente tese que cataloga a obra completa de Eduardo de Almeida, p. 187. IWAMIZU, Cesar Shundi. Eduardo de Almeida. Reflexões sobre estratégias de projeto e ensino. São Paulo, 2015. Disponível em: <http://arquivoeduardodealmeida.com/sobre/>

5
Termo utilizado com frequência por Paulo Mendes da Rocha. Cf. MONTE, José Maria Garcia del. La Ciudad es de todos: Paulo Mendes da Rocha. Barcelona, Fundacion cajá de arquitectos, 2011.

6
BUCCI, Angelo. Pedra e arvoredo. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 041.01, Vitruvius, out. 2003 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.041/644>. Artigo publicado originalmente na revista D’Art, n. 10, São Paulo, nov. 2002. E posteriormente na revista Monolito, n. 1, São Paulo, fev./mar. 2011.

7
Abordagem análoga do sociólogo polonês Bauman. BAUMAN, Zymunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro, Zahar, 2009, p. 51.

sobre o autor

Paulo Victor Borges Ribeiro é arquiteto e urbanista (UniCeub/Brasília) e mestrando em teoria, história e crítica (UNB/Brasília). Arquiteto colaborador nos escritórios MGS (Macedo Gomes Sobreira) e ArqBr. Membro do IAB/DF gestão 2014/2016.

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resenha do livro

São Paulo: quatro imagens para quatro operações

Da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes

Angelo Bucci

2005

170.02 crônica
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170

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