São Paulo, uma biografia gráfica é um novo volume que propõe uma análise complexa da cidade metropolitana de São Paulo, oferecendo também instrumentos para um desenvolvimento futuro mais sustentável.
Fruto do trabalho de um grupo de pesquisadores coordenado por Felipe Correa, o livro – com excelente qualidade gráfica e impressão – é uma narrativa visual e de textos, que coloca em questão o não-desenho urbano de São Paulo durante a transição rápida de uma cidade com pouco mais de trinta mil habitantes (1870) para os atuais 20 milhões da área metropolitana. A análise – cujo ponto de partida é a leitura das bases de orografia e hidrografia – aborda uma visão sistêmica de outras “camadas” e temas, tais como áreas abandonadas.
Após a pesada infraestruturação idealizada pela consultoria de Robert Moses em nome de Rockefeller no início dos anos de 1950, ocorre a simultânea perda da relação da cidade com o Rio Tietê – o principal rio da cidade –, que se transforma em uma macro-infraestrutura canalizada de modo desarticulado e artificial. A saudade dessa água parece um tema de projeto muito claro hoje, e talvez um eixo relevante da pesquisa do livro.
O texto revela ainda uma linha de cruzamento de culturas que supera o colonialismo; a este respeito o dia de estudo realizado pelo Insper de São Paulo resultou em contribuições interessantes. Dentre os participantes estavam Ila Berman, diretora da Escola de Arquitetura da Universidade da Virgínia (EUA), que apresentou a estruturação da escola em think tank trabalhando em vários lugares do planeta – intrigantemente o oposto do que, por exemplo, faz o Rural Studio da Universidade de Auburn trabalhando com metodologia Design & Built em estreita interação com a comunidade local. Na mesma sessão, Michael Sorkin protagonizou uma aula, uma verdadeira performance, sobre o ativismo como prática necessária para as transformações urbanas.
A esperança é que o diálogo iniciado com este livro continue em um sentido holístico e plural, em direção às novas ecologias urbanas, as quais, no caso de São Paulo, significam ainda soluções inteligentes para as águas subterrâneas já comprometidas, a qualidade do ar, o descarte de resíduos etc. Com uma abordagem próxima da presente no livro Cidade do México: entre geometria e geografia (2014) – portanto, menos pioneira que outras pesquisas de Correa como Beyond The City (2016) ou A Line in the Andes (2012) –, o livro revela a eficácia e a capacidade de incluir outras obras específicas, como a excelente Metrópole fluvial: visões passadas / Imaginários do futuro (2018), de Gandelsonas e Delijaicov; o último contribui mais uma vez, assinando “A arte da construção coletiva do espaço”, capítulo fundamental e provocativo.
notas
NE – Tradução e elaboração de Silvia Raquel Chiarelli.
NA – Texto originalmente publicado pela revista Abitare, em 15 de fevereiro 2019. parte do programa Capes FAU Mackenzie, supervisores Maria Augusta Justi Pisani e Valter Caldana.
sobre o autor
Giacomo Pirazzoli é arquiteto (Università di Firenze) e PhD (Università di Roma La Sapienza) com pesquisa na Fondation Le Corbusier em Paris. Assessor do Architect’s Council of Europe ACE-CAE e professor de projeto na Faculdade de Arquitetura de Università di Firenze (desde 2000). Foi presidente da Academia de Belas Artes e conselheiro do Museu Stibbert, ambos em Firenze. Professor convidado em várias universidades na Europa, EUA, Austrália e China, e bolsista Capes na FAU Mackenzie de São Paulo (2017-2018). Autor de livros e ensaios, desde 1993 atua nas áreas de arquitetura sustentável, museus e patrimônio, com obras construídas na Itália e exterior. Ao lado de Francesco Collotti foi indicado para a Medalha de Ouro da Triennale de Milão.