Sérgio Wladimir Bernardes (1919-2002), arquiteto carioca pertencente à segunda geração de arquitetos modernos brasileiros, detentor de uma vasta e ainda pouco (re)conhecida produção projetual e intelectual, é retratado de forma breve em mostra no Centro Histórico e Cultural da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
As obras apresentadas na exposição Três pavilhões de Sérgio Bernardes – edificações ousadas na concepção estrutural, idealizadas entre 1954 e 1962 – foram construídas para abrigar atividades representativas da cultura e civilização brasileiras em situações muito especiais.
O Pavilhão de Volta Redonda (1954-1955) foi erguido pela Companhia Siderúrgica Nacional – CSN para a 1ª Feira Internacional de São Paulo, ocorrida no Parque Ibirapuera, recém-inaugurado durante as comemorações do 4º Centenário da Cidade de São Paulo. De pequeno porte e construído em estrutura metálica, o pavilhão se lança como ponte por cima do córrego do Sapateiro, arrojo que lhe confere protagonismo mesmo em um contexto com notáveis espécimes de Oscar Niemeyer.
O Pavilhão do Brasil na Exposição Universal e Internacional de Bruxelas (1957-1958) foi erguido em terreno irregular inclinado na borda do Parque de Laeken, recinto da exposição universal de 1958, a primeira grande feira após a Segunda Guerra Mundial e em plena Guerra Fria. O belo pavilhão de esbelta cobertura atirantada – que valeu ao arquiteto a condecoração de “cavaleiro da Coroa Belga” – contou com as colaborações do artista português Eduardo Anahory (1917-1985), do artista plástico e paisagista carioca Roberto Burle Marx (1909-1994) e do engenheiro recifense Paulo Rodrigues Fragoso (1904-1991), notáveis em suas áreas de atuação.
O Pavilhão da Feira da Indústria e Comércio (1957-1962) foi projetado para abrigar feiras, exposições e eventos culturais nacionais e internacionais. A cobertura, arruinada por um vendaval em 1988, em forma de paraboloide-hiperboloide, se sustentava por cabos de aço, ancorados em uma viga elíptica na borda da edificação. Na época, a cobertura do atual Pavilhão de São Cristóvão foi considerada o maior vão livre do mundo.
Os três pavilhões de Sérgio Bernardes, que se diferenciam pelos tamanhos muito diferentes, se aproximam no desafio técnico, onde a experimentação com materiais – tijolos, cabos de aço, concreto – e com estruturas inovadoras resultam em edificações de grande inventividade e apuro técnico, com enorme pioneirismo mesmo considerando o contexto internacional. As três edificações, ao mesmo tempo em que expressam um país que vivia o desenvolvimento tecnológico, a urbanização acelerada e a construção de Brasília, são ainda hoje raramente objetos de estudos de pesquisadores e pouco retratados pela historiografia da arquitetura.
Para conferir contexto histórico e sentido evolutivo em uma exposição de apenas três projetos, foi elencado um seleto grupo de pavilhões brasileiros na forma de uma linha do tempo: Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York, de 1939 (Lúcio Costa e Oscar Niemeyer), Pavilhão Riposatevi na XIII Bienal de Milão, de 1964 (Lúcio Costa), Pavilhão do Brasil na Expo’70 Osaka, de 1970 (Paulo Mendes da Rocha), Pavilhão do Brasil na Expo Sevilha 1992 (Alvaro Puntoni, Angelo Bucci e João Oswaldo Villela, não construído), Pavilhão da Santa Sé na Bienal de Veneza, de 2018 (Carla Juaçaba) e Pavilhão do Brasil, Expo Dubai 2020 (José Paulo Gouveia, Marta Moreira, Milton Braga e Martin Benavidez, ainda não construído).
Com a curadoria dos arquitetos Abilio Guerra e Fausto Sombra, orientador e aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação da FAU UPM, a exposição Três pavilhões de Sérgio Bernardes expõe maquetes, peças usinadas, cadernos com projetos e documentos dos três projetos, material produzido desde 2017 para a tese de doutorado do orientando, que será defendida no primeiro semestre de 2020.
nota
NA – Os curadores da exposição e autores do texto curatorial agradecem pessoas, instituições e empresas envolvidas na realização desse trabalho: Universidade Presbiteriana Mackenzie (Profª Drª Angélica Benatti Alvim e Prof. Dr. Wilson Florio), Centro Histórico e Cultural Mackenzie (Luciene Aranha Abrunhosa), Arali Móveis (Jeferson Arali); Arquivo Wanda Svevo, Fundação Bienal de São Paulo (Ana Paula Marques), Bernardes Arquitetura (Kykah Bernardes, Thiago Bernardes, Nuno Costa Nunes, Márcia Santoro, Camila Tariki, Dante Furlan e Gabriel Falcade), Casa de Lucio Costa (Maria Elisa Costa e Julieta Sobral), Dix Arte & Metal (Jefferson Cursi Duarte e Ygor Spinola), FEG Brasil Construções Metálicas (Leonardo de Souza, Eduardo Avoleta Souza, André Prudêncio e Edmilson do Santos Magalhães), Glatt Ymagos (Patrícia Ottati Motta e Sandra Tarquini), Núcleo de Pesquisa e Documentação FAU-UFRJ (João Claudio Parucher Silva), Olho Digital (Raquel de Paiva e Allyne Manoo), Papel Algodão (Júlio Prado e Viviane Battistella), Practica Maquetes (Carina Freitas, Carlos Henrique de Oliveira e Débora Crescente Ferreira), Vivona Design (Daniel Vivo), arquitetos Alvaro Puntoni, Carla Juaçaba, José Paulo Gouveia, Marta Moreira, Milton Braga e Martin Benavidez, e os fotógrafos Celso Omena Brando, Federico Cairoli e Nelson Kon.
sobre os autores
Abilio Guerra, professor da FAU Mackenzie, e Fausto Sombra, arquiteto, são curadores da exposição Três Pavilhões de Sérgio Bernardes, ocorrida no Centro Histórico e Cultural Mackenzie, São Paulo, de 19 de setembro a 14 de novembro de 2019.
ficha técnica
exposição
Três pavilhões de Sérgio Bernardes
curadoria
Abilio Guerra e Fausto Sombra
local
Centro Histórico e Cultural Mackenzie
Ruas Itambé, 135 ou Maria Antônia, 307 - Prédio 1
Higienópolis, São Paulo SP
Helen Yara Altimeyer, coordenadora
Luciene Aranha Abrunhosa, curadora
abertura
18 de setembro de 2019, das 18h às 21h
visitação
19 de setembro a 18 de outubro de 2019, das 09h às 21h (segunda a sexta) e das 10h às 16h (sábados)
instituição
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
apoio à pesquisa
Benefício Capes-Proex
orientação
Abilio Guerra
patrocínio
Bernardes Arquitetura, Practica Maquetes, Arali Móveis, Dix Arte & Metal e FEG Brasil
produção
Fausto Sombra e Abilio Guerra