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O arquiteto italiano Giacomo Pirazzoli comenta três exposições em cartaz no Rio de Janeiro no MAM Rio, CCBB Rio e Paço Imperial.

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PIRAZZOLI, Giacomo. Atos de revolta: outros imaginários sobre independência. Uma exposição no MAM Rio, mais uns pensamentos. Resenhas Online, São Paulo, ano 22, n. 253.03, Vitruvius, jan. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/22.253/8711>.


É bem eloquente o próprio título da exposição produzida pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio, com curadoria de Beatriz Lemos, Keyna Eleison e Pablo Lafuente com Thiago de Paula Souza (curador convidado): Atos de revolta: outros imaginários sobre independência. Hospedada dentro do formidável edifício (1953-1955) de Affonso Eduardo Reidy e Carmen Portinho, com paisagismo de Roberto Burle Marx, a exposição foi inaugurada em 17 de setembro para comemorar o bicentenário da independência do Brasil. Segundo Beatriz Lemos, uma das curadoras, “ao abordar as tensões e conflitos do sistema colonial, a exposição revela as contradições da historiografia brasileira, que produziu apagamentos de personagens determinantes, sobretudo de populações negras, indígenas e mulheres”.

Visitando os amplos espaços do MAM Rio, uma série de fragmentos do acervo do Museu da Inconfidência de Ouro Preto, do Museu Histórico Nacional e do Convento Santo Antônio do Rio de Janeiro atravessa cenicamente a sala de exposições como uma memória transatlântica que, por quase óbvia alusão, traz uma planta de igreja dividida em três naves. Isso tudo acaba levando em conta uma série de fatos intrínsecos à complexa questão da independência do Brasil se livrando do Portugal: começando com da Guerra Guaranítica (1753-56), passando pela Inconfidência Mineira (1789), Revolução Pernambucana (1817), Independência da Bahia (1822), Revolta dos Malês (1835), Cabanagem (1835-40), Revolução Farroupilha (1835-45), Revolta de Vassouras (1839) e Balaiada (1838-41).

Nesse contexto, obras especialmente produzidas por artistas contribuem para questionar os materiais históricos da exposição, revelando, por sua vez, de forma sistêmica e metodológica, micro-histórias ao lado de fatos de grande alcance.

Dessa forma, tudo se torna plural, intrigante e denso, e a abertura ao contemporâneo se dá de forma não elitista, com a evidência de um pensamento finalmente voltado também para escolas e, muito significativamente, para não especialistas. O grupo de artistas convidados, vindos de todo o país, condiz com obras especialmente criadas: Arissana Pataxó, Elian Almeida, Gê Viana, Gustavo Caboco Wapichana com Roseane Cadete Wapichana, Tiago Sant'Ana e Giseli Vasconcelos com Pedro Victor Brandão. Ana Lira participa com uma instalação sonora interativa para refletir sobre as possibilidades emancipatórias da música tradicional brasileira; vale ainda citar, entre as obras, a Mátria livre – de mater, versão justamente feminista da machista “pátria”, oriunda de pater –, que faz parte da instalação de Marcela Cantuária com Brigadas Populares: fácil pensar numa alternativa ao slogan Pátria amada do presidente cessante Bolsonaro.

Também estão em exibição, oito obras de Glauco Rodrigues, que fazem parte do acervo do MAM, mais a remontagem de uma obra de Luana Vitra e obras recentes de Glicéria Tupinambá, Paulo Nazareth, Thiago Martins de Melo, além da impressionante e esplêndida tela Só vou ao Leblon a negócios, de Arjan Martins, obra de 2016.

Para concretizar esse trabalho conjetural sobre a história como narração de coisas perdidas, um anômalo e intrigante caderno-catálogo em forma de fanzine reúne tanto materiais históricos que fizeram parte da pesquisa, mas que não estão expostos, quanto uma série de textos (nem todos contemporâneos) que reforçam o trabalho sobre o imaginário “a partir de fragmentos”, como explicam Lafuente e Calheiros que o editaram (2).

Por contiguidade vale refletir sobre duas exposições produzidas pelo Instituto Cultural Italiano do Rio de Janeiro. A primeira – Fotógrafos italianos no florescer da fotografia brasileira (3) – é vinculada ao bicentenário da independência, portanto em diálogo ideal com a exposição do MAM Rio; é um tema de extraordinário interesse, infelizmente realizado com apenas uma dezena de fotos de cada autor, reduzindo tudo a uma lista cercada de parcas legendas, sem possibilidade de interação com parte do público. A segunda – As cores da paisagem: Nápoles e Rio de Janeiro aos olhos dos artistas italianos do século XIX  (4) – não é melhor, pois se apoia num clichê pseudo-histórico, que vai de “O sole mio” ao casamento do Imperador Pedro II com Teresa Cristina, com os quadros pendurados na parede tal como costumava fazer a tia-avó em sua salinha, desconsiderando a mundialmente reconhecida expografia revolucionária da arquiteta italo-brasileira Lina Bo Bardi para o Museu de Arte de São Paulo – Masp.

Porém, nenhuma dessas duas produções “italianas” menciona o conceito de micro-história, elaborado pelos historiadores italianos Carlo Ginzburg e Giovanni Levi – e que é referência imprescindível para a exposição “brasileira” do MAM Rio – nem há uma tentativa de se fazer public history de alguma forma.

Parece que a estranha comparação entre as concepções de curadoria e de expografia entre as exposições – a “brasileira” contemporânea do MAM Rio e a “italiana” das duas exposições mencionadas, infelizmente longe de qualquer contemporaneidade –, o que sai brilhantemente claro é a volta de histórias apagadas ou canceladas de populações negras, indígenas e mulheres que a equipe do MAM Rio alcançou. Do outro lado, virou oportunidade perdida trazer de volta mais uma vez a contribuição dos migrantes (italianos, neste caso especifico) que, especialmente nas Américas (mas não só), chegaram pobres, com passagem só de ida entre o final do século 19 e meados do século passado, e trabalharam duro para o crescimento de sociedades mais abertas e misturadas.

notas

1
Exposição Atos de revolta: outros imaginários sobre independência. Curadoria de Beatriz Lemos, Keyna Eleison, Pablo Lafuente e Thiago de Paula Souza. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio, de 17 de setembro de 2022 a 26 de fevereiro de 2023 <https://bit.ly/3WQieEu>.

2
O catálogo da exposição está disponível no link <https://bit.ly/3RcGy2l>.

3
Exposição Fotógrafos italianos no florescer da fotografia brasileira. Curadoria de Joaquim Marçal de Andrade e Livia Raponi. Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro – CCBB Rio, de 8 de outubro a 26 de dezembro de 2022.

4
Exposição Cores da paisagem: Nápoles-Rio, no olhar de artistas italianos do século XIX. Curadoria de Paulo Knauss. Paço Imperial Rio de Janeiro, de 23 de novembro de 2023 a 12 de fevereiro de 2023.

sobre o autor

Giacomo Pirazzoli é arquiteto (Università di Firenze) e PhD (Università di Roma La Sapienza) com pesquisa na Fondation Le Corbusier, Paris. Foi Assessor do Architect’s Council of Europe, então Presidente da Academia de Belas Artes e Conselheiro do Museu Stibbert, ambos em Firenze, onde desde 2000 ensina projeto de arquitetura na Università di Firenze. Academico de honra da Accademia delle Arti del Disegno, Professor convidado em várias universidades internacionalmente, bolsista Capes na FAU Mackenzie de São Paulo. Autor de mais de 200 títulos entre livros e ensaios, desde 1993 atua nas áreas de arquitetura sustentável, museus, expografia e patrimônio, com obras construídas e apresentadas na Itália e no exterior.

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