Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

architexts ISSN 1809-6298


abstracts


how to quote

SEGRE, Roberto. América Latina 2000. Arquitetura na encruzilhada. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 013.02, Vitruvius, jun. 2001 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.013/877>.

Globalização de experiências estéticas

Ao final do século XX, cabe afirmar que a arquitetura latino-americana alcançou sua maioridade. Na década recente multiplicou-se o interesse por obras e projetistas do hemisfério, demonstrado pela atenção de críticos europeus e norte-americanos – Kenneth Frampton, Joseph Rykwert, Josep Maris Montaner, Luiz Fernández Galiano, Guido Canella –; os números monográficos de revistas dedicados ao tema – Zodiac na Itália, 2G e A&V na Espanha, Design Book Review nos Estados Unidos –; e os diversos prêmios outorgados aos profissionais da região. Oscar Niemeyer recebe a Gold Medal do RIBA na Inglaterra (1998); o brasileiro João Filgueiras Lima, o Grande Prêmio da Primeira Bienal de Arquitetura e Engenharia de Madrid; o mexicano Ricardo Legorreta é premiado no Congresso da UIA de Pequim (1999); Brunno Stagno da Costa Rica e o colombiano Rogelio Salmona são reconhecidos pelo Prince Claus Fund da Holanda; Jorge Jáuregui do Brasil recebe o Veronica Rudge Green Prize in Urban Design de Harvard (2000) por seus projetos de intervenção nas favelas do Rio de Janeiro.

A criação do "Prêmio Mies van der Rohe para a Arquitetura Latino-Americana" em 1998 – homólogo do que já existe há muito tempo para a produção européia –, difundiu em suas duas versões, não somente a obra dos já consagrados internacionalmente – Oscar Niemeyer, Rogelio Salmona, Laureano Forero, Clorindo Testa, Carlos A. Ott, Ricardo Legorreta, Teodoro González de Léon, Carlos Gómez de Llarena, Enrique Browne, Paulo Mendes da Rocha (premiado em 2000) –, mas também a jovem vanguarda: citemos, entre outros, o mexicano Enrique Norten (vencedor em 1998); os chilenos Mathias Klotz, José Cruz Ovalle e Juan Purcell Mena; o cubano José A. Choy; os argentinos Pablo Tomás Beitía e Ana Etkin; os uruguaios Gastón Boero e Juan Gustavo Scheps, todos participantes como finalistas nos sucessivos prêmios.

A isso se soma a multiplicidade de luxuosas edições e estudos monográficos publicados tanto na região como nos Estados Unidos e Europa. Por um lado, os dois volumes do Prêmio Mies van der Rohe, seguidos pelo conjunto de livros sobre a obra do argentino Miguel Ángel Roca e a difusão de projetos e construções de Clorindo Testa, Ricardo Legorreta, Abraham Zabludovsky, González de Léon, Paulo Mendes da Rocha, Mathias Klotz, Ernesto Katzestein, Kalach y Álvarez, João Filgueiras Lima e Oscar Niemeyer. Também acontece o resgate dos Mestres do Movimento Moderno latino-americano, através de sérias pesquisas sobre o trabalho realizado por João Vilanova Artigas, Affonso Reidy, Luis Barragán e outros fundadores que forjaram a expressão da identidade continental e caribenha.

De volta ao centro

Os prejuízos ocasionados às cidades latino-americanas pela visão tecnocrática infra-estrutural que produziu a irrupção de auto-estradas na trama urbana; e o reiterado International Style dos edifícios públicos construídos nas décadas dos sessenta e setenta – durante a hegemonia das ditaduras militares na região – geraram uma forte reação a partir dos anos oitenta, ao instaurar-se os regimes democráticos. Foi denunciada a perda dos edifícios históricos no centro; o anonimato das torres de aço e vidro; a incontrolada expansão periférica e o crescimento dos assentamentos espontâneos dos estratos sociais de baixa renda. Pesem as pressões de capital financeiro especulativo globalizado e a dinâmica estatal baseada nas privatizações e na redução ao mínimo dos projetos de conteúdo social; na década dos noventa os governos municipais apoiaram iniciativas progressistas que transformaram as áreas centrais de algumas cidades e melhoraram as condições do habitat das populações marginais.

Na Argentina, Buenos Aires e Córdoba, com a participação de arquitetos de prestígio – Dujovne y Hirsch; Lestard, Varas e Baudizzone na primeira e Miguel Ángel Roca na segunda –, foram refuncionalizados edifícios históricos por meio da reativação das atividades comerciais, administrativas e residenciais no espaço central urbano: constituem exemplos significativos os projetos de Puerto Madero e La Recoleta na capital (este último com a participação de Clorindo Testa); assim como a articulação conseguida por Roca entre a transformação das ruas do centro histórico em área exclusivamente pedestre, os centros de bairro e os Centros de Participação Comunitária (CPC) na periferia; experiência logo repetida em La Paz, Bolívia. Similares iniciativas foram impulsionadas pelos "arquitetos-prefeitos" do continente: Mariana Arana de Montevidéu, Jaime Lerner em Curitiba e Luiz Paulo Conde no Rio de Janeiro. Este, ao longo da década passada, alternou a vitalização das centralidades de bairro nas áreas anônimas da cidade, com fortes intervenções nos assentamentos precários das favelas, reintegrando-os com os bairros circundantes através de serviços e infra-estruturas. Também podemos citar a remodelação da Avenida Bolivar em Caracas de Carlos Gómez de Llarena e a restauração do conjunto monumental da Havana Velha, promovida por Eusebio Leal, historiador da cidade, cuja iniciativa conservou na área sua população original.

Iconocidade da Nova Monumentalidade

Apesar da crise econômica que assolou a região nos anos oitenta – também chamada de década perdida –, não se superou na seguinte, reduzindo ao mínimo os investimentos estatais nas obras sociais; em algumas cidades surgiram importantes edifícios, construídos pela iniciativa privada ou pelo governo, cujo significado simbólico da função converteu-os em marcos arquitetônicos no contexto urbano. Os temas das torres de escritórios, centros administrativos e hotéis, tiveram a primazia nas cidades capitais, destacando-se alguns poucos por sua qualidade de projeto. Entre outros citemos o refinamento dos detalhes do Consórcio Nacional de Seguros de Enrique Browne e Borja Huidobro em Santiago do Chile; a torre "primeiromundista" República em Puerto Madero de César Pelli; a busca de geometrias elementares no bloco de escritórios de Santa Fé por Augustín Hernández; a alienação high tech do edifício de uso múltiplo da Televisa de Norten e Gómez-Pimienta, ambos na Cidade do México; a sobriedade formal do hotel Sheraton em Córdoba de Morini, Urtubey, Pisani, Guerrero y Gramática; o cromatismo exuberante do Renaissance Hotel em São Paulo de Ruy Ohtake; o expressionismo contextualista do hotel de Santiago de Cuba de José Antonio Choy.

Pelo caráter icônico do tema ou a busca de uma identidade cultural regional, alguns exemplos sobressaem por seu conteúdo estético ou pelo diálogo com o contexto urbano. Três "palácios" dedicados à justiça assumem soluções divergentes: enquanto em Córdoba, Morini, Urtubey, Guerrero, Gramática y Pisani optaram pela monumentalização do edifício frente à cidade; no projeto da "Ciudad Judicial" de Buenos Aires, os jovens projetistas – Dergorabedian, Frangella, del Puerto, Parodi, Sardin, Ferrari – criaram um novo tecido arquitetônico que se sobrepões às quadras urbanas; por último, Moré y Caro na Suprema Corte de Justiça de Santo Domingo, República Dominicana, interagem através da estrutura volumétrica e os elementos de fachada como conjunto de edifícios da Feira da Paz e do Mundo Livre, construído pelo arquiteto Guillermo González na década de cinqüenta. Por sua vez, os colombianos Salmona e Forero não abandonam a expressividade do tijolo nos seus projetos de grande envergadura: o Arquivo Geral da Nação em Bogotá, do primeiro; o Centro Comunitário Comfama em Medellín, do segundo.

Os centros culturais permitem complexas elaborações formais e espaciais, graças à diversidade das exigências funcionais: lembremos o conjunto de edifícios do Centro das Artes da Cidade do México, desenhado por Ricardo Legorreta e uma equipe de profissionais locais, caracterizado pela coexistência de linguagens divergentes. Em São Paulo, coincidem três exemplos significativos; o Credicard Hall de Aflalo & Gasperini, o maior centro de espetáculos da cidade, cuja multi-funcionalidade permitiu a riqueza expressiva dos espaços internos; a sala de consertos da Estação "Júlio Prestes", de Nelson Dupré e a remodelação da Pinacoteca do Estado, de Paulo Mendes da Rocha. A inserção da sala de consertos na clássica sede ferroviária- projetada no início do século por Christiano Stockler das Neves –, é uma obra-prima, não somente pelos ótimos resultados acústicos, mas também na articulação respeitosa do novo desenho com o sistema acadêmico do edifício preexistente.

Novas tendências na arquitetura latino-americana

É possível falar de uma linguagem arquitetônica latino-americana, que se destaque no contexto das vanguardas universais? Sem dúvida, existem variações locais dentro das correntes atuais dominantes, especialmente em obras pequenas de valor experimental. A moradia individual constitui o tradicional laboratório para os jovens arquitetos, como se verifica na segunda versão do Prêmio Mies van der Rohe, pelo número de casas selecionadas como finalistas. Em Rosário, a casa Frida Kanter de Augusto Pantarotto, pertence a esse caminho de buscas formais e espaciais. Dentro do reducionismo dos recursos materiais e a ruptura com os princípios cartesianos do desenho que caracterizam o minimalismo e o deconstrutivismo, sobressaem o Museu Brasileiro de Escultura de Paulo Mendes da Rocha em São Paulo, o Museu Xul Polar de Pablo Tomás Beitía em Buenos Aires e a sede do Banco Financeiro Internacional de José Antonio Choy na Havana. Neste, houve uma fusão harmônica entre os elementos clássicos da sede original dos anos cinqüenta e a adição de uma leve estrutura metálica e superfícies envidraçadas que envolvem a colunata acadêmica.

Também o high tech encontra sua expressão local. Constitui um paradigma da resposta "terceiromundista" o conjunto de hospitais "Sara Kubitschek" construídos em várias cidades brasileiras pelo arquiteto João Filgueiras Lima. Com o habitual sentido de humor característico dos projetos de Éolo Maia de Belo Horizonte, a Academia de Ginástica "Wanda Brambilla" – que segundo suas próprias palavras, é uma obra "uai-tech" – combina as polidas superfícies da chapa de aço-carbono com uma casca de concreto e bambu, que configuram uma imagem inédita de formas livres no contexto urbano. Por último, a linguagem "regionalista tropical" aparece nas construções do costarriquense Bruno Stagno e o porto-riquenho Luis Flores. Na série de bancos desenhados em São José por Stagno, a herança da arquitetura das plantações centro-americanas é reelaborada na leveza das estruturas metálicas, os tetos de zinco e a transparência dos espaços que sob a sombra, deixam fluir a necessária brisa refrescante. Flores, nos escritórios do Editorial da Universidade de Porto Rico, resgata os vínculos contextuais com os edifícios próximos de estilo Decô, e organiza as funções ao longo de uma rua interior pergolada que filtra a brilhante luz caribenha. Finalmente, o conjunto de obras citado demonstra vitalidade de profissionais latino-americanos, que apesar das dificuldades criadas pela precariedade econômica e a invasão dos modelos alheios, conseqüência da persistente globalização financeira e cultural, tentam expressar a continuidade de uma cultura dinâmica, produto da constante mistura e hibridização de sociedades e tradições.

nota

1
Publicado em International Architecture Yearbook nº 7, The Images Publishing Group, Mulgrave, Australia, 2001, p. 14-15. O artigo foi erroneamente atribuído nesta publicação a Sylvia Haydar.

[tradução Flávio Arancibia Coddou]

sobre o autor

Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

comments

013.02
abstracts
how to quote

languages

original: português

others: español

share

013

013.00

Arquitextos, número 13, ano 2 (editorial)

Abilio Guerra

013.01

Bourlemarx ou Burle Marx?

Ana Rosa de Oliveira

013.03

Museu d’Art Contemporani de Barcelona, arquiteto norte-americano, estilo internacional

Renato Leão Rego

013.04

Paisagem urbana de São Paulo

Publicidade externa e poluição visual

Issao Minami

013.05

Os reflexos do mundo virtual na cidade real

Vera Magiano Hazan

013.06

A importância dos museus e centros culturais na recuperação de centros urbanos

Cêça Guimaraens and Nara Iwata

013.07

E-futuros: projetando para um mundo digital

Ana Paula Baltazar

013.08

Estética das favelas

Paola Berenstein Jacques

013.09

Espaço Hospitalar

A revolta do corpo e a alma do lugar (1)

Jorge Ricardo Santos de Lima Costa

013.10

Patrimônio histórico

Sustentabilidade e sustentação

Flávio de Lemos Carsalade

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided