A Yara e eu somos casados há 12 anos. Nossas viagens antes do Pedro chegar foram quase sempre para o exterior. Quando ele nasceu começamos a repensar (entre tantas coisas que se repensa quando se tem filhos) como curtir nossas férias. Sempre fizemos roteiros com poucos destinos mas com os dias cheios.
Queríamos aproveitar todo o tempo que tínhamos. E isso raramente era sinônimo de descanso. Sempre me lembro dos finais de tarde mal humorados. Demorei algum tempo até que a Yara me ensinou que cansaço e fome são boas razões para estar mal humorado. E que não há nada de errado em pedir uma folga e voltar pro quarto, tomar um bom banho e largar o corpo numa cama macia!
Foi nesse ponto que o Pedroca nasceu. Ele chegou num momento em que estávamos a fim de descansar também o corpo além de só conhecer lugares maravilhosos.
A experiência precisava ter lugares bonitos, com boa comida e pouca civilização. Essa trinca de atributos, concluímos, nos garantiria o sucesso do novo conceito de férias. Foi assim que excluímos Resorts, destinos muito procurados, comida de Buffet. E acabamos descobrindo algumas praias e pequenas pousadas que nos deram férias deliciosas.
Estivemos na Praia do Espelho quando ele tinha 1 ano e voltamos para 15 dias na Ilha de Boipeba quando ele estava com 3 anos. As férias “não baianas” aconteceram em 2008 em Alagoas na Praia do Toque.
O Pedro está agora com 5 anos e resolvemos voltar ao litoral Baiano. Tínhamos lido sobre a Praia de Algodões que fica na Península de Maraú. Um lugar lindo e ainda pouco explorado pelo turismo massificado. Tivemos alguma dificuldade em encontrar uma pousada nesta praia mas localizamos outra numa praia vizinha chamada Cassange.
Voamos até Ilhéus (tem um vôo que sai de Congonhas o que no nosso caso facilita a vida). De lá alugamos um carro e pegamos a estrada para as Praias no Norte no sentido de Itacaré. A distância é de 70 Km e a viagem muito tranqüila. O litoral é muito lindo. É uma pena que já sinta sintomas de excesso de exploração turística. Mas isso é outro assunto. De Itacaré atravessamos um braço de mar usando o serviço de balsa local. Aqui senti minha primeira necessidade de aclimatação. É que chegamos na fila da balsa as 13:00 hs e uma delas (são duas em operação) estava em horário de almoço. Tentei entender quanto tempo iríamos esperar e aquilo pareceu cena de filme. Me conformei em ficar sem uma resposta clara sentei no carro e aproveitei pra responder algumas mensagens no Blackberry. Consegui não perder a calma com a atendente da balsa mas não pegar no Blackberry seria demais para a 1ª aclimatação! Depois de 1 hora e vinte minutos nosso carrinho desembarcou na praia. 35 Km depois de uma trilha e uma BR bem cascalhada chegamos na Lagoa do Cassange.
Já eram 15:30 hs. A Edna nos recebeu pelo nome e com aquele sorriso que é tão bem vindo depois de uma viagem longa. Com o tempo entendemos que toda a pequena equipe é tão simpática e atenciosa quanto ela. A Pousada Lagoa do Cassange fica entre a Praia e uma Lagoa. Passamos 10 dias deliciosos acordando com o Pedro as 6:30 hs. O sol já estava quente e as 7:00 hs estávamos na mesa do café. Tapioca, muita fruta, iogurte, granola e pães todos de produção local. Comi pela primeira vez geléia de Cacau. Tenho saudades! Ainda bem que a Yara trouxe um pote para casa!
Depois da sessão “bloqueador solar” nos esticávamos nas cadeiras na frente da praia. Por uns 5 minutos até o Pedro nos chamar pro primeiro mergulho do dia. E a rotina era basicamente essa. Um livrinho, sombra de um coqueiro, muita água de coco. As 13:00 hs estávamos sentados na mesa esperando a comida que encomendamos 2 horas antes. A cozinha fazia aqueles pratos incríveis e simples da cozinha caiçara. Sempre um peixe, camarão ou siri acompanhado de pirão, arroz com feijão e aquela farofa amarela que a Bahia faz tão bem.
Uma cochilada depois do almoço e as 16:30 hs voltávamos pro sol. Alguns dias fomos até a Lagoa. Ela é bem extensa e rasa. Caminhei quase até o meio e a água super quente não passou da altura do joelho. O pôr-do-sol visto da prainha da Pousada é lindíssimo. Conforme o sol vai descendo vamos sentindo a temperatura caindo e o som dos bichos mudando com as cigarras fazendo a trilha daquela vista incrível. O Pedro voltava pelo bosque, agora escuro, com algum medo mas adorava chegar perto do nosso chalé e sentir o pé na grama já resfriada em relação à areia que ainda estava morna.
Outras tardes terminamos na praia. Era de lá que víamos o pôr-do-sol. Não tão bonito como o visto da Lagoa mas igualmente intenso. A sensação de poder curtir o momento, sem hora pra terminar, esperando o sol baixar, as estrelas aparecerem é o que mais gostamos de aproveitar. Muitas vezes fazíamos isso ainda dentro da água. Para quem mora em São Paulo, não tem praia por perto e quando tem a água é gelada a esta hora, a sensação destes finais de tarde é maravilhosa.
A Península tem vários passeios lindos. Barra Grande, Ponta do Mutá, Taipú de Fora, Baia de Camamu, Ilha da Pedra Furada. A Pousada tem alguns jipes que facilitam as idas a estes lugares. Mas não fizemos nenhum deles. Estávamos realmente curtindo aquela rotina despreocupada.
Tem sido um enorme prazer desligar de horários e compromissos nestas nossas férias. Mesmo que o compromisso seja para um passeio pela Península. Em 10 dias não deu tempo de cansar de ver o Pedro se esbaldando na areia e no mar.
O Pedro aproveitou também a presença de outras crianças e do Chao, um Marauense super dedicado a entreter a criançada. Faziam pipa, castelos enormes na areia, jogavam mico, pintavam. Além de atencioso, paciente e criativo o Chao tem aquele talento natural para brincar com a garotada.
A Pousada vive o ritmo dos donos. Um casal de paulistanos super simpático que se mudou para lá há mais de 15 anos e se associou a um alemão que se apaixonou pela península. Estão sempre por perto garantindo que as coisas aconteçam como imaginaram.
E fazem isso daquele jeito “lá em casa”! Não são invasivos, não ficam contando vantagem, fazendo propaganda nem se exibindo. Fazem-nos sentir hóspedes da casa deles.
Tomara que a gente continue encontrando destinos e momentos tão gostosos como os que tivemos na Lagoa do Cassange.
sobre o autor
Ricardo Eid Philipp, 37 anos, é administrador de empresas. Gosta bastante de viajar, explorar roteiros pouco conhecidos e de correr de madrugada quando São Paulo está vazia e silenciosa