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drops ISSN 2175-6716

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Lutero Pröscholdt Almeida, em parceria com os alunos de projeto de arquitetura da UFES, expõe a importância da integração das disciplinas de arquitetura e urbanismo para uma maior integração do projeto com a cidade.

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ALMEIDA, Lutero Proscholdt; et. al. A cidade como ponto de partida para o projeto de arquitetura. Experiência da disciplina de projeto de arquitetura no morro do Jaburu (Vitória-ES). Drops, São Paulo, ano 14, n. 071.09, Vitruvius, ago. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/14.071/4856>.



A trajetória do aluno de arquitetura e urbanismo, assim como todas as profissões, é um espelho do lado de fora da faculdade. Entra-se no curso para espelhar o lado de fora, replicar a imagem de arquiteto bem sucedido, portador da técnica e arte necessária para erguer edifícios que são símbolos de uma sociedade baseada em preceitos progressistas, capitalistas e imagéticos. Essa imagem arquitetônica de arranha-céus com cortina de vidros domina um ideário não só de alunos, mas de uma sociedade, que alia essa imagem a um status de “sucesso”. Tal situação institui um vício difícil de ser desmanchado, pois a cidade não se constitui dessa natureza, e não é preciso ir longe para confirmar esta situação, andando pelas ruas veem-se locais de morte e vida, barulho e silêncio, limpeza e sujeira, pobreza e riqueza, tudo que é da própria natureza da cidade, locais de conflito e diversidade.

O ensino da arquitetura e urbanismo é pautado no projeto como a medida da arquitetura. Esta situação criou vícios de ensino, pois ele conteve o desbravamento da cidade e possíveis quebras desses limites, não se vinculando a outras escalas como a cidade em uma escala maior ou o design em uma escala menor. O projeto de arquitetura na maioria das vezes é concebido e pensado em um ponto de vista deslocado da cidade, ele pode se restringir a um arranjo funcional, formal ou estrutural, que, por fim, assume esse deslocamento da cidade como sendo apenas uma propriedade particular, uma célula da cidade ou uma escultura urbana. Tal deslocamento, ao longo tempo, conduziu o ensino e a prática para uma experiência enclausurada no ambiente do escritório e na sala de aula, costume, que, por sua vez, mascara a realidade urbana se tornando um grande problema por constituir na profissão uma subjetividade própria, de espetáculo, de revistas, de estilos paradigmáticos e dos grandes mestres de arquitetura. A grande desvantagem desse modelo é que ele distancia a arquitetura de quem realmente importa, ou seja, os seus viventes, e também expõe os alunos de arquitetura e urbanismo a um modelo irreal e insustentável (1).

Em uma disciplina de projeto de arquitetura ministrada na Universidade Federal do Espírito Santo (2013) tentou-se chegar mais perto desse modelo, ainda obscuro, que aproxima a arquitetura do urbanismo. O projeto foi uma solicitação da Associação de Moradores do Bairro Jaburu (Vitória-ES) junto com a ONG Ateliê de Ideias e o Célula (Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da UFES) para a construção de uma central de compras no bairro, visto que o comércio local estava perdendo mercado para as grandes redes de supermercado. Segundo os próprios alunos o processo ocorreu da seguinte forma:

Ao chegar ao morro do Jaburu, a nossa primeira impressão foi de um local de “não arquitetura”. Isso se deve ao fato da condição financeira dos moradores não permitir o consumo da arquitetura “profissional”, contudo isso não quer dizer que as construções realizadas pelas mãos dos próprios moradores – de acordo com as suas necessidades – não seja arquitetura. Durante a visita ao terreno fomos questionados pelos moradores o que seria construído ali, e após a nossa resposta eles ficavam empolgados, pois viam isso como uma melhoria para o bairro.

Após perceber a realidade presente no bairro e a sentir tal reação dos moradores, procuramos saber mais das suas necessidades para adequar ao nosso projeto, o que acabou se tornando gratificante e nos trouxe experiências de como projetar de acordo com a realidade de cada pessoa. O tema proposto foi além de se pensar uma solução arquitetônica para uma situação hipotética. Essas experiências levaram a uma revisão sobre qual seria o papel do arquiteto dentro da sociedade como um todo. Os projetos desenvolvidos são mais do que uma arquitetura que foge dos padrões, eles são voltados para um perfil de usuário que também foge dos padrões, ou seja, não são para pessoas de classe média ou alta, mas para a classe social baixa que representa a maior parte dos brasileiros.

O processo projetual teve como ponto de partida a real necessidade de se construir uma distribuidora/central de compras integrada a um Telecentro para a comunidade do bairro Jaburu. Visando à funcionalidade e à adequação aos diversos usos, bem como à questão da acessibilidade e às principais necessidades locais, tal edificação de ideia social deveria configurar-se não condicionada a modelos pré-existentes. Uma visita feita ao local contribuiu para isso, visto que possibilitou – ainda que minimamente – uma percepção do dia a dia dos moradores. Desta forma, seria possível realizar uma arquitetura familiar, referencial e instrumento de integração cidade-comunidade.

Se as expectativas criadas nesse processo de interlocução com o bairro foram alcançadas ou não, trata-se mais de uma opinião individual, de cada aluno, do que coletiva. Deste modo, os grandes ganhos foram: a fuga de um modelo de arquitetura voltada para uma classe específica e dominante; foi também o contato com uma realidade palpável e não imagética; e, por fim, a exploração da arquitetura e urbanismo como um contexto amplificado, que extrapola a prancheta se desbravando nos múltiplos contextos urbanos.

notas

1
FERREIRA, João Sette Whitaker. Perspectivas e desafios para o jovem arquiteto no Brasil. Qual o papel da profissão?. Arquitextos, São Paulo, 12.133, Vitruvius, jul 2011 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/
read/arquitextos/12.133/3950>.

sobre os autores

O artigo foi desenvolvido na disciplina de projeto de arquitetura II da Universidade Federal do Espírito Santo, pelo orientador Lutero Pröscholdt Almeida (mestrado e doutorando pelo PPGAU-UFBA) e pelos alunos: Eloisa Guedes Caetano, Juliana Pimentel Freitas, Jéssica Marinho Sartório, Daiani Lavino Rodrigues.

 

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