Este ensaio introduz alguns aspectos da exposição itinerante “Arquitetura do Desenho”, com trabalhos e curadoria de Zeuler R. M. de A. Lima no Museu da Casa Brasileira, São Paulo, em setembro e outubro de 2012, e na Galleria Srisa di Arte Contemporânea, Florença, Itália, em janeiro e fevereiro de 2013.
A mostra explora o desenho como uma forma de observar e absorver o mundo, enfatizando a relação entre desenho, cidade e arquitetura em uma coleção de trabalhos em diferentes escalas e suportes. O desenho, como linguagem e como ofício, está presente nas investigações que seu autor faz como arquiteto, desenhista, historiador e professor, incluindo em viagens didáticas e no curso Urban Books (1), dedicado a narrativas visuais no formato de livro de artista.
Enquanto o desenho, nesta exposição, se ocupa de representar a arquitetura e os seus espaços, ele também apresenta e ocupa uma arquitetura e um espaço próprios. Ela explora a relação entre o desenho e o seu suporte, abrindo novas possibilidades de considerar o que o que os possa conter. O interesse nessa relação nasceu da necessidade de produzir desenhos portáteis de observação durante várias viagens realizadas principalmente na última década, o que me levou à apropriação de diferentes suportes que pudessem ser facilmente transportados, dobrados, montados, justapostos, impressos e, até mesmo, descartados.
Muitos dos trabalhos nesta coleção documentam instantâneos de observação de paisagens urbanas e arquitetônicas e o uso de cadernos e objetos e superfícies coletados pela estrada afora. Alguns deles foram reelaborados em estúdio e outros produzidos especificamente para os espaços expositivos, relacionando-os desde a escala íntima do caderno de notas até o envolvimento do espaço expositivo, como se pode observar nas ilustrações. A maioria dos desenhos está contida em series, procurando desenvolver diferentes direções no uso do desenho e dos seus suportes. Alguns trabalhos estão abertos não somente aos olhos, mas também ao folhear e à participação dos espectadores.
Segundo seu autor, um desenho pode ser e expressar muitas coisas: uma imagem realista, uma perspectiva barroca, uma impressão visual, um gesto, um experimento. Da mesma forma, a superfície que o contém pode ser mais do que o plano do papel, oferecendo-lhe novos sentidos como se pode observar nos exemplos aqui incluídos. Mais do que desenhos acabados, o que se procura, com os trabalhos expostos, é o desenhar.
notas
1
Urban Books <http://library.wustl.edu/urbanbooks/>
sobre o autor
Zeuler R. M. de A. Lima é desenhista, arquiteto-urbanista formado pela FAUUSP com pós-doutorado em literatura comparada pela Columbia University, e professor associado na Washington University, cujos livros incluem "Lina Bo Bardi" (Yale University Press, 2013) e "Anthology of Architectural Theories in Latin America" (MoMA, 2015).